Cinco parlamentares dos Estados Unidos desembarcaram em Taiwan neste domingo, menos de duas semanas após a visita da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, à ilha vista pela China como parte indissociável do seu território.
A viagem deve acirrar ainda mais as tensas as relações entre chineses e americanos, deterioradas após a visita da democrata, que foi respondida com as maiores manobras de guerra que os chineses já realizaram na região.
O grupo bipartidário comandado pelo senador Ed Markey, democrata de Massachusetts, foi recebido por funcionários do governo taiwanês que agradeceram ao apoio diante da escalada das tensões com Pequim. A China ainda não comentou oficialmente a viagem.
A presidente da Câmara, terceira na linha de sucessão ao poder nos EUA, foi a integrante de mais alto escalão americano a visitar Taipei desde 1997.
A viagem de Pelosi foi entendida por Pequim como uma provocação. A China respondeu à visita enviando mísseis, navios de guerra e aviões de guerra para os mares e céus ao redor de Taiwan por vários dias . O governo chinês se opõe a Taiwan ter qualquer contato oficial com governos estrangeiros.
A China tem como meta reunificar o território de Taiwan com o continente, um objetivo do Partido Comunista desde que os nacionalistas fugiram para ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Washington, por outro lado, embora tenha se comprometido com o princípio ao reatar relações com Pequim em 1979, mantém o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornece ajuda militar à ilha.
Aos EUA não interessa uma reunificação que dê à China o controle do Estreito de Taiwan, importante via de navegação na Ásia.
Visitas de senadores e deputados a Taipei não são incomuns, e a viagem deste domingo aparentemente foi planejada há meses, disse ao New York Times Bonnie Glaser, diretora do programa de Ásia do German Marshall Fund. Segundo ela, outra excursão está marcada para o fim deste mês.
‘Visitas malucas’, diz jornal chinês
Uma coluna de opinião publicada no jornal estatal Global Times disse que a frequência das visitas de parlamentares e funcionários do governo americano está “cada vez mais maluca”, fala que condiz com a sinalização chinesa de que deseja aumentar as represálias a quem vai a Taipei. Na sexta, por exemplo, anunciou sanções contra o vice-ministro de Transportes da Lituânia, que havia feito a viagem dias antes.
Um integrante da delegação é o deputado John Garamendi, democrata da Califórnia que comanda o Subcomitê de Preparação dos Serviços Armados. O grupo tem interferência direta em quanto o Pentágono gastará para ajudar militarmente Taiwan. Junto a ele e a Markey estão os democratas Don Beyer e Alan Lowenthal e a republicana Aumua Amata Coleman Radewagen.
O grupo deve se encontrar na segunda-feira com a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, e participar de reuniões com as comissões parlamentares de defesa e relações internacionais, disse um comunicado da Chancelaria da ilha. “Que o Congresso dos EUA esteja mais uma vez organizando uma delegação imponente para visitar Taiwan enquanto a China continua a escalar as tensões regionais demonstra amizade sem medo das ameaças e intimidações chinesas e destaca o forte apoio americano a Taiwan”, diz a nota.
Campanha militar da China
A visita coincide com a campanha militar que a China faz em resposta à ida de Pelosi a Taiwan. Os chineses afirmaram no último dia 10 que os cinco dias de exercícios militares ao redor da ilha — que tinham como objetivo “puni-la” — haviam chegado ao fim.
Desde então, contudo, continuam a enviar aviões e navios de guerra para perto de Taipei: neste domingo, foram 22 aeronaves e seis embarcações, de acordo o Ministério da Defesa taiwanês. Onze dos aviões teriam cruzado a linha mediana que divide informalmente o Estreito, que a ilha acusa a China de ter “obliterado” durante a crise mais recente em uma tentativa de mudar o status quo.
No Sudeste Asiático, tanto chineses quanto americanos fazem demonstração de suas forças militares. A China enviou aviões para a Tailândia, em exercícios militares conjuntos com Taipei que, segundo Pequim, “fortalecem a confiança mútua e a amizade”.
A colaboração coincidiu com o fim de duas semanas de manobras conjuntas entre os EUA e a Indonésia, as maiores desde que a parceria entre os países começou em 2009. Neste ano, os exercícios com munição real também tiveram pela primeira vez a participação do Japão, da Austrália e de Cingapura.
Os EUA têm alianças históricas no Sudeste Asiático, além de presença militar, mas a influência econômica chinesa na região tem aumentado nos últimos anos, o que aumenta a rivalidade.
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, por exemplo, foi a Pequim no mês passado, um dos poucos chefes de Estado a visitar a China desde o início da pandemia. Ele também será o anfitrião da reunião do Grupo dos 20 (G20) em novembro, evento para o qual Biden e Xi Jinping estão convidados. / NYT, WPOST e AP
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