Partidos de oposição definem candidato na Turquia para enfrentar Erdogan na eleição presidencial

Nome escolhido foi do político veterano Kemal Kilicdaroglu, líder do maior partido de oposição turco; eleição será disputada em maio e pode alterar drasticamente trajetória política e econômica do país

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Por Ben Hubbard e Gulsin Harman
Atualização:

ISTAMBUL — Uma coalizão que busca tirar do poder o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ungiu um político de oposição veterano nesta segunda-feira, 6, como seu candidato à presidência, a apenas dois meses de eleições que poderiam alterar drasticamente a trajetória política e econômica do país. O candidato, Kemal Kilicdaroglu, é líder do maior partido de oposição na Turquia e representa diversas forças políticas que prometem reverter o que elas qualificam como uma erosão da democracia praticada por Erdogan conforme o líder concentrou o poder em duas décadas como principal político do país.

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Em jogo nas eleições simultâneas para a presidência e o Parlamento, que Erdogan promete serão realizadas em 14 de maio, está o futuro econômico da Turquia, uma das 20 maiores economias do mundo. O país também é membro da Otan e possui uma ampla rede de relações econômicas e diplomáticas, que se estende por África, Ásia, Europa e Oriente Médio.

No ano passado, a Turquia desempenhou um papel relevante na diplomacia em torno da invasão russa à Ucrânia. Erdogan encontrou-se frequentemente com outros chefes de Estado da Otan e também com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Pessoas celebram candidatura de Kemal Kilicdaroglu para a presidência da Turquia, em imagem desta segunda-feira, 6, em Ancara. Candidato deve ser o principal adversário de Erdogan Foto: Burhan Ozbilici/AP

Quem quer que vença a eleição presidencial na Turquia ficará encarregado de consertar a economia — que impingiu dificuldades aos turcos no ano passado com uma inflação de 85% — e coordenar a resposta do governo ao poderoso terremoto que atingiu o sul do país em 6 de fevereiro, matando mais de 46 mil pessoas, destruindo centenas de milhares de edifícios e obrigando o deslocamento de mais de 3 milhões de pessoas. Outras mais de 6 mil pessoas morreram do outro lado da fronteira, no norte da Síria.

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Erdogan, que busca um terceiro mandato presidencial após um longo período como primeiro-ministro, classifica a si mesmo como a melhor pessoa para conduzir a Turquia em seu segundo século, uma referência ao aniversário de 100 anos, em 2023, da fundação da Turquia moderna após o colapso do Império Otomano.

Seus críticos veem a eleição como uma oportunidade valiosa para removê-lo do poder, acusando-o de prejudicar a democracia e a economia da Turquia e levando o país na direção do autoritarismo.

“Meu povo amado, nós governaremos a Turquia com concertação e consenso”, afirmou Kilicdaroglu durante um breve discurso diante de uma grande multidão de apoiadores na capital, Ancara. “Nosso maior objetivo é trazer dias férteis, pacíficos e felizes para o nosso país.”

Kilicdaroglu e a oposição que ele representa enfrentam desafios significativos em sua empreitada para derrotar Erdogan, um político habilidoso que pode contar com uma infraestrutura partidária grande e bem organizada — e capaz de empunhar o aparato do Estado para promover sua mensagem.

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A oposição tem encontrado dificuldades para projetar unidade, levantando dúvidas entre alguns eleitores a respeito da eficácia com que seus membros seriam capazes de trabalhar juntos. A coalizão, conhecida oficialmente como Aliança Nacional e extraoficialmente como “A mesa dos seis”, inclui seis partidos que variam entre nacionalistas de direita, islamistas e seculares ferrenhos.

Imagem mostra Kemal Kilicdaroglu ao lado da esposa Selvi após oficializar a candidatura nas eleições presidenciais da Turquia, nesta segunda-feira, 6. Kilicdaroglu é líder do maior partido de oposição turco e representa a união de diversas forças políticas Foto: Necati Savas / EFE

As dificuldades em mantê-los juntos ficou evidente na sexta-feira, quando o Partido Bom, nacionalista de direita e segundo maior integrante da coalizão, deixou a aliança publicamente por não concordar com a candidatura de Kilicdaroglu, o que desarticulou a oposição.

Declarando que a coalizão “não mais representa a vontade do povo”, a líder do Partido Bom, Meral Aksener, pediu que os prefeitos de Ancara e Istambul, a maior cidade da Turquia, concorressem contra Erdogan.

Ambos são membros do Partido Republicano do Povo, de Kilicdaroglu, e muito mais populares entre os eleitores do que ele, de acordo com pesquisas recentes. Mas os dois prefeitos rejeitaram o chamado de Aksener, provocando um frenesi de reuniões entre líderes de oposição durante o fim de semana.

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Na noite da segunda-feira, parecia que a coalizão tinha resolvido suas diferenças — pelo menos por enquanto. Depois de uma reunião entre os líderes partidários em Ancara, eles nomearam oficialmente Kilicdaroglu candidato da oposição.

Imagem mostra presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante discurso. Presidente é criticado pela oposição de causar erosão na democracia turca Foto: Murat Cetinmuhurdar / Palácio Presidencial da Turquia / Reuters

Em discurso, Kilicdaroglu afirmou que, se eleito, os líderes dos outros seis partidos de oposição serão seus vice-presidentes — um esforço possivelmente complicado para manter todos os integrantes a bordo.

A oposição declarou que planeja o retorno do sistema parlamentarista na Turquia, desfazendo uma alteração para o presidencialismo que Erdogan usou em 2018 para expandir drasticamente seu controle sobre o Estado.

Erdogan pareceu satisfeito com a desarticulação da oposição, afirmando a repórteres, no sábado, que ele tratava de resolver os problemas da Turquia enquanto seus adversários estavam ocupados brigando entre si.

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“Nós estamos preocupados com vidas, eles estão preocupados com suas posses”, disse ele, usando uma expressão que rima em língua turca. “Há um terremoto na Turquia — o maior dos desastres. Eu quero colocar meu povo dentro de casa imediatamente.”

A data oficial da eleição ainda não foi marcada, mas Erdogan disse nesta sexta-feira que iniciaria o processo na sexta-feira, a tempo de realizar a votação em 14 de maio. Ele afirmou que planeja emitir um decreto presidencial para facilitar o voto de pessoas deslocadas pelo terremoto. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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