Congresso entra em acordo e conselho constitucional vai elaborar nova Carta no Chile

Nova Carta terá minuta escrita por especialistas e depois irá para deputados constituintes eleitos, devendo estar pronta até o fim do ano que vem

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Por Redação
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SANTIAGO - Após três meses de debates, o Congresso do Chile chegou a um acordo nesta segunda-feira, 12, para começar o próximo processo constituinte, depois da derrota esmagadora de uma proposta de nova constituição em plebiscito realizado em setembro.

Depois de várias tentativas frustradas de acordo sobre o formato, os partidos políticos do Chile chegaram a um acordo para um novo processo constituinte, selado após uma longa reunião no antigo Congresso Nacional, em Santiago. Estima-se que todo o processo do plebiscito tenha custado aos cofres públicos chilenos R$ 420 milhões.

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Semanas atrás as partes já tinham entrado em acordo sobre as 12 bases constitucionais, mas havia divergências sobre a forma como seria redigida uma nova Constituição. A resistência vinha principalmente da direita, que votou contra um projeto de Carta num plebiscito em setembro, recusado pela maioria da população.

A nova Carta será redigida por um órgão denominado Conselho Constitucional, que será formado por 50 pessoas escolhidas em uma eleição a ser realizada em abril do ano que vem. O órgão terá o apoio inicial de 24 especialistas indicados pelo Congresso. Haverá também um “Comitê Técnico de Admissibilidade”, de 14 juristas que funcionará como “árbitro” das bases constitucionais.

Manifestantes seguram cartazes durante uma marcha em apoio à nova Constituição em Santiago, em agosto de 2022; após rejeição da nova Carta em setembro, novo processo constituinte começa em 2023 Foto: Martin Bernetti/AFP

A elaboração da nova Constituição começa em 21 de maio, com conclusão prevista para 21 de outubro. O plebiscito que acatará ou rejeitará a nova Carta está previsto para 26 de novembro, também com comparecimento obrigatório dos eleitores.

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O voto obrigatório é uma novidade no Chile, e deve mudar a composição da Constituinte. Na eleição da assembleia que redigiu a Carta recusada, o comparecimento foi só de 43%. A esquerda teve uma vitória esmagadora então, sem que a direita alcançasse um terço dos votos para vetar artigos. Por outro lado, a legitimidade do órgão perante muitos setores da população se viu enfraquecida, o que levou à rejeição da proposta de nova Constituição.

Assim como a antiga Convenção Constitucional, a conformação do Conselho seguirá o princípio de paridade de gênero, e os assentos serão distribuídos de maneira igual entre homens e mulheres. Também haverá assentos para povos originários.

Processo para uma nova Constituição no Chile

“Discutir e redigir uma Constituição hoje é importante e essencial e exige um nível de profissionalismo, contar com especialistas; da mesma forma, deve ser feito por um órgão que não o Congresso, com dedicação exclusiva”, diz o acordo assinado pelas partes.

Na noite desta segunda-feira, os presidentes do Senado, Álvaro Elizalde, e da Câmara, Vlado Mirosevic, deram explicações à imprensa sobre como foi costurado o pacto multipartidário —que, segundo o senador, “fará com que se materialize brevemente o novo texto constitucional”.

O líder dos deputados, por sua vez, explicou que ele estabelece 12 bases constitucionais sobre as quais os partidos chilenos atingiram consensos. O texto, batizado de “Acordo pelo Chile”, parte da premissa da “convicção de que é indispensável habilitar um processo constituinte e ter uma nova Constituição” para o país.

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Por ser uma norma que reforma a atual Constituição, o acordo terá que ser votado em forma de projeto de lei no Congresso e ratificado por 4/7 dos parlamentares. Nesta segunda-feira, foram excluídos da assinatura do acordo o ultradireitista Partido Republicano e o Partido da Gente, alinhado com a direita populista.

Os primeiros esboços de um acordo começaram a ser feitos no fim de de setembro, apontando um novo colegiado eleito, tendo o auxílio de um comitê de especialistas, incluindo constitucionalistas e advogados. O modelo vinha sendo defendido por líderes como o ex-presidente Ricardo Lagos.

O acordo para a redação foi negociado a pedido do presidente Gabriel Boric, depois da derrota esmagadora, em setembro, da proposta de nova Constituição. Boric tinha menos de seis meses no cargo e o resultado do plebiscito foi sua primeira derrota significativa no governo.

Na ocasião, a nova Carta proposta tinha sido defendida por uma ampla coalizão de esquerda e parte essencial de sua campanha presidencial. O resultado levou a uma reforma ministerial, com seis trocas que levaram o governo Boric mais à centro-esquerda, com nomes técnicos e que elevaram a idade média dos ministérios.

O processo constituinte chileno surgiu como uma resposta política à onda de protestos em massa que abalou o país no final de 2019, a maior desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Os partidos abriram a passagem para uma Convenção Constituinte, que funcionou por um ano para mudar a lei fundamental herdada da ditadura e parcialmente reformada na democracia.

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Em outubro de 2020, 80% dos chilenos decidiram num plebiscito aposentar a Constituição de 1981, promulgada na ditadura militar chilena. Dois anos depois, porém, não houve consenso para aprovar o novo texto, redigido por uma Assembleia Constituinte composta em sua maioria por legisladores independentes e de esquerda.

Boric e os principais partidos do país haviam acertado que o processo constitucional teria sequência mesmo com o cenário da rejeição, com o início da redação de uma nova Carta./AFP, EFE e AP

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