‘Pensei que iria morrer após uma emboscada do Hamas’, diz brasileiro que sobreviveu ao ataque

Em entrevista ao Estadão, o brasileiro Rafael Birman, de 30 anos, conta como sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro, enquanto partipava de uma rave de música eletrônica no sul de Israel

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Foto do author Daniel Gateno


Foto: Rafael Birman/Insta
Entrevista comRafael BirmanAnalista bancário e sobrevivente do atentado terrorista do Hamas no dia 7 de outubro

“Os soldados israelenses me disseram para sair de onde eu estava porque corria risco de morte”, afirmou o analista bancário Rafael Birman, brasileiro que mora em Israel desde 2018 e que sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro, que deixou 1.400 mortos.

Em entrevista ao Estadão, o brasileiro de 30 anos conta como conseguiu fugir da rave brasileira de música eletrônica Universo Paralelo, onde 260 pessoas foram mortas pelo grupo terrorista Hamas. Birman participou de uma cerimonia no Memorial do Holocausto de São Paulo na quinta-feira, 9, que prestou homenagem as 1.400 vitimas do atentado terrorista do grupo Hamas em Israel e também realizou uma cerimonia por conta do aniversário de 85 anos da chamada Noite dos Cristais, o nome que se dá aos ataques sofridos por judeus realizados na Alemanha Nazista entre os dias 9 e 10 de novembro de 1938.

O brasileiro conta que viu carros destruídos e pessoas feridas durante o trajeto. O veículo de Birman chegou a ser atingido por tiros em meio a uma emboscada por terroristas do Hamas. “Descobrimos que 40 terroristas estavam lá atirando na gente e no carro do exército. Eu achei que ia morrer. Um dos soldados que estava protegendo a gente acabou perdendo a perna, mas ele está vivo”.

Confira trechos da entrevista

O brasileiro Rafael Birman mora em Israel desde 2018 e foi um dos sobreviventes do ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Rafael Birman/Instagram

Como foi a decisão de ir para um festival perto da fronteira com a Faixa de Gaza?

Eu sempre tive vontade de conhecer o festival do Universo Paralelo, a minha cunhada já tinha ido na edição que foi na Bahia e ela me mandou o link do evento desta edição que teria em Israel e eu comprei logo que ela me mandou. Fiquei super empolgado e estávamos planejando a nossa ida para o festival, mas depois de três meses a minha cunhada não tinha comprado ainda e eu chamei muitos amigos que também não compraram o festival.

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Muitos amigos acabaram não indo por conta do valor da festa ou por outros planos, mas não por medo. Ninguém sabia que ia ser tão próximo de Gaza. Estes eventos em Israel só tem o local divulgado uma hora antes do evento para evitar ataques terroristas e aglomerações desnecessárias, mas quando divulgaram a localização eu fiquei preocupado.

Fiquei apreensivo e comentei com um amigo que estava bem ansioso em relação a essa festa, mesmo antes de saber onde seria. Quando descobri, questionei para os meus amigos se seria seguro ir para uma festa em um local próximo a Faixa de Gaza, mas duas pessoas que eu conheço me disseram que já haviam ido em festas naquele local e que era seguro. Muitas festas desde os anos 2000 são realizadas naquela região do sul de Israel e outro evento tinha sido realizado no dia anterior ao festival. No dia seguinte, eles iriam ter outra festa por lá.

Por esse motivo eu acabei indo, mas eu estava com uma sensação ruim e agora eu entendo o porquê. Acredito muito em energias e eu estava me sentindo muito mal antes do evento. Até cheguei a brincar com uma amiga quando soube a localização do evento, afirmando que eu esperava sobreviver a festa que seria próxima de Gaza.

O festival de música Universo Paralelo foi atacado por terroristas do Hamas, no Sul de Israel. 260 pessoas morreram no local.  Foto: Gil Cohen-Magen/AFP

Se puder me contar um pouco de como foi a sua fuga do festival, desde o momento em que sentiu que algo errado estava acontecendo

No primeiro momento, a primeira coisa que soubemos foi dos mísseis e é uma área que cai muito míssil, pela proximidade com a Faixa de Gaza. Então a produção do evento já parou a música e todas as pessoas começaram a correr, procurando por abrigo. Os policiais do evento aconselharam que ficássemos por lá e não fossemos para o nosso carro naquele momento por conta do risco de um míssil acertar o carro.

Mas eu fui um dos primeiros que foi até o carro. Argumentei para os meus amigos que não podíamos esperar mais. Não é igual a Tel-Aviv que temos um minuto para acharmos abrigo, então fui o primeiro a ir correndo para a saída do estacionamento.

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Estava dirigindo e tentei evitar a aglomeração, por isso joguei o meu carro para o gramado e optei por caminhos não convencionais. Tentamos ir para o norte, mas vimos um carro destruído e uma menina ensanguentada pedindo para não irmos para o norte porque tinham terroristas naquela estrada e as pessoas começaram a entrar em desespero.

Carros destruídos no local onde ocorreu o festival de música eletrônica Universo Paralelo, próximo da fronteira com a Faixa de Gaza  Foto: Aris Messinis/AFP

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Neste momento, eu optei por sair da rodovia e pegar uma estrada paralela de terra, mas fomos encurralados por terroristas do Hamas. Eu não vi eles, mas começamos a ouvir tiros e quando a janela traseira do meu carro explodiu, soubemos que algo estava acontecendo e que os terroristas estavam atirando no carro.

Tivemos sorte porque logo depois um carro das Forças de Defesa de Israel chegou no local e começou a trocar tiros com os terroristas para nos proteger. Eu joguei o carro de lado, abri a porta e me joguei no chão e falei para os meus amigos fazerem o mesmo. Passamos 20 minutos lá, com os terroristas do Hamas trocando tiros com as tropas israelenses. Descobrimos que 40 terroristas estavam no local atirando na gente e no carro do exército.

Um dos soldados que estava protegendo a gente acabou perdendo a perna, mas ele está vivo. Eu entrei em contato com ele e combinamos de nos encontrarmos quando eu voltar para Israel. Ele me disse que estava tudo bem e que a missão dele era proteger Israel e que se tivesse que fazer tudo de novo, ele faria.

Saímos daquela situação, usando o carro de escudo e chegamos até um bunker, onde ficamos mais 20 minutos, até que o exército conseguisse controlar um pouco mais a situação. Um soldado afirmou que precisávamos sair daquele lugar porque corríamos risco de morte.

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Para onde você foi quando conseguiu fugir?

Conseguimos pegar uma carona com um rapaz que também estava na festa para uma cidade vizinha chamada Netivot e ficamos abrigados em um prédio. Passamos horas lá, ouvindo mísseis e sirenes e um dos moradores abriu as portas da casa dele.

Eles deram comida, água e tomamos banho. Foi neste momento que tivemos mais noção da proporção que o ataque tinha tomado, da crueldade dos terroristas do Hamas.

Conhecia alguém que faleceu no festival?

Eu conhecia o Ranani Glazer, não era um amigo muito próximo mas toda vez que íamos para a praia nos torneios de futevôlei, festas, a gente sempre ficava junto e se abraçava. Era uma pessoa muito feliz e com uma energia muito legal.

A Bruna Valeanu eu conheci naquele dia mesmo, na festa. Ela estava super alegre e feliz. As meninas que estavam comigo eram melhores amigas da Bruna e na hora que estávamos indo para o carro eu ofereci uma carona para a Bruna, mas infelizmente ela quis esperar um amigo que estava na festa e não tínhamos como saber a proporção do ataque e de tudo que iria acontecer.

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Refletindo depois de um pouco mais de um mês dos ataques terroristas do Hamas, você se sente seguro em Israel? Quer voltar a morar no Brasil ou ficar lá?

Eu me mudei em 2018 para Israel, meu plano era ficar um ano e eu acabei ficando seis. Eu sempre me senti seguro em Israel, nós confiamos muito no exército israelense e na segurança que eles proporcionam para nós.

Não é igual aqui que a polícia intimida as pessoas de bem. O exército está lá para proteger e ninguém tem medo deles, eles estão lá para proteger e está todo mundo do mesmo lado.

Mas eu estou com um pouco de medo de voltar, estou esperando algo mudar na guerra. Meu irmão está lá e meus amigos também e eles me falam que em Tel-Aviv está tudo funcionando, as pessoas estão trabalhando. Claro que de maneira reduzida, mas existe algum senso de normalidade.

Em algum momento eu devo voltar para Israel, mas não sei por quanto tempo. Eu já queria voltar a morar no Brasil eventualmente em alguns anos, mas sem uma previsão exata de retorno.

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