O carrinho de compras é da Ucrânia, mas o cartão de crédito é dos EUA. Dependendo de cada caso, pode ser usado o de débito, para despesas mais urgentes, que precisam ser pagas à vista. No esforço dos EUA para apoiar a Ucrânia, o supermercado é do tamanho do mundo dos negócios de equipamentos de Defesa. E o momento é de gastar.
O valor da ajuda americana está batendo em US$ 1,1 bilhão em despesas diretas. Boa parte entra na coluna do desembolso, como despesa contábil. Foi assim, por exemplo, com o primeiro lote de 18 canhões M777 de 155 mm, quase todos desmobilizados das forças americanas, onde estavam em uso regular, para serem despachados para a Europa. Uma espécie de doação, mas que tem custos formais. Na mesma condição estão 22 mil mísseis antitanque Javelin e os antiaéreos Stinger, de porte pessoal, sucessos no campo de batalha.
Atendimento
Agora, a operação ficou mais abrangente. Por determinação direta do presidente Joe Biden, o Departamento de Defesa dos EUA abriu uma consulta a fornecedores cujos critérios básicos a serem atendidos são a qualidade dos produtos e a rapidez de entrega. É problema para um setor cada vez mais voltado ao atendimento personalizado e, claro, que não mantém estoques de prateleira.
O sub secretário da Defesa para Aquisições, Bill La Plante, teve uma “convocação aberta” com fabricantes que possam responder à demanda de dez tipos de equipamentos. Em notas de até 100 palavras, os interessados devem definir uma espécie de proposta preliminar a ser enviada para o site sam.gov, do governo dos EUA.
Na quarta-feira, a subsecretaria não informou se o chamado estaria limitado apenas a empresas locais. A lista dos equipamentos é abrangente. São necessários drones de reconhecimento e de ataque; sistemas de defesa aérea e defesa costeira; armamento antiblindados e antipessoal; blindados de ataque, estações de comunicações criptografadas, rádios seguros de operação em rede, internet satelital de campo, munições.
A recomendação é para que o portfólio não inclua produtos que exijam treinamento longo e nem muito especializado. A entrega ao destinatário final, as forças ucranianas, será feita “em algum ponto da Europa” por meio de aviões cargueiros militares americanos.
Transferência
Em outro viés, os EUA estão comprando peças e componentes que permitam a recuperação do que restou da frota da aviação de combate da Ucrânia. Embora haja ofertas, a transferência é complicada. O risco de serem abatidas no traslado é grande e potencialmente deflagrador da expansão do conflito.
Os serviços de inteligência do Reino Unido e da França relatam que a Força Aérea ucraniana teria 35 caças MiG-29 (15 operacionais), de 8 a 12 Sukhoi-25, caças-bombardeiros subsônicos, 5 Sukhoi-27 (2 operacionais), mais um número indeterminado de helicópteros Mi-35 de ataque e transporte. Todos saíram da indústria da Rússia.
Efetividade
Há 26 países usuários do MiG-29, aviões de notável capacidade acrobática, em operação há mais de 40 anos em sucessivas versões modernizadas. A discussão de transferência direta mais avançada envolve a Polônia, o Egito e a Mongólia – que tem apenas dois aviões na configuração mais antiga. A Ucrânia quer caças completos. Seus pilotos teriam pouca dificuldade para operar esses jatos, semelhantes aos que estão há décadas em uso no país.
Os consultores do Pentágono e o Estado-Maior ucraniano divergem nesse ponto. Os americanos acreditam que, no atual estágio do conflito, helicópteros artilhados seriam mais úteis contra a tropa que avança na região de Donbas do que os caças de alta performance.
* É JORNALISTA
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