Perguntas e respostas: O que há por trás da reorganização no governo russo

O primeiro-ministro renunciou ao cargo em uma ação que pegou os russos de surpresa; menos de três horas depois, Putin ofereceu o cargo ao chefe do serviço tributário do país

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Por Rick Noack

BERLIM - O primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, renunciou na quarta-feira, 15, em uma ação que pegou russos de surpresa. Menos de três horas depois, o presidente Vladimir Putin ofereceu o cargo de premiê a Mikhail Mishustin, chefe do serviço tributário russo.

Quem é Mikhail Mishustin?

Mishustin não parece ter desempenhado um papel de grande destaque na política russa, especialmente em áreas dominadas por Putin, como a política externa.

Vladimir PutineMikhail Mishustin(D), seu escolhido para assumir como premiê Foto: EFE/EPA/ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / KREMLIN

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O funcionário de 53 anos ocupou vários cargos em diversas agências russas relacionadas a impostos, taxas e imóveis. Ele é responsável pelo serviço fiscal federal desde 2010, de acordo com o site da agência.

O que significa a mudança?

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Na maioria dos países, a renúncia de um primeiro-ministro sugeriria uma crise de liderança. Mas na Rússia, pode muito bem ser o resultado de um planejamento cuidadoso, com Putin no volante dirigindo Medvedev, há muito tempo considerado seu protegido. A questão principal é saber como ficará a liderança da Rússia daqui para a frente.

A renúncia de Medvedev parecia estar ligada a amplas mudanças constitucionais propostas por Putin na quarta-feira. Sob as leis propostas, mais poder seria transferido para o Parlamento, que seria encarregado de selecionar um primeiro-ministro - uma tarefa que antes cabia ao presidente.

O presidente russo,Vladimir Putin, com o então premiêDimitri Medvedev Foto: Sputnik/Alexey Nikolsky/Kremlin via Reuters

Se aprovadas, as mudanças também resultariam no fortalecimento de um órgão consultivo do presidente. Medvedev disse na quarta-feira que sua renúncia e a de seu gabinete “devem permitir que o presidente de nosso país tome todas as decisões necessárias antes” das mudanças propostas entrarem em vigor.

Medvedev já ajudou a preservar o poder de Putin antes. Quando ele trocou de lugar com Putin em 2008 e se tornou seu sucessor como presidente, Medvedev era acima de tudo visto como provisório. Entre suas principais missões, estava a tarefa de permitir que Putin se tornasse presidente de novo após o final de seu primeiro mandato ministerial.

Mas Putin parecia discordar de Medvedev às vezes, alimentando especulações sobre um crescente rompimento entre os dois. A última ação pode provocar interpretações semelhantes nas próximas semanas.

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E Medvedev desaparecerá da política russa?

Não, espera-se que ele permaneça como vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, um poderoso órgão consultivo.

Quais são as opções possíveis de Putin após 2024?

Se a mudança no governo foi realmente dirigida por Putin, isso pode sugerir que as medidas foram tomadas para preservar o seu poder além de 2024, quando seu mandato termina - de uma forma ou de outra.

Putin disse que os mandatos presidenciais devem ser limitados a dois. Embora alguns de seus críticos tenham sustentado que ele pode tentar permanecer como presidente apesar disso, outros viram o anúncio de como a arrumação de cenário para uma transferência de poder mais sofisticada.

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Em primeiro lugar, as propostas anunciadas podem corroer a influência do sucessor de Putin como presidente, pois transferem o poder para o Parlamento e os primeiros-ministros.

Em segundo lugar, a mudança de Medvedev para o Conselho de Segurança pode ser um experimento relevante para o futuro de Putin após o término de seu mandato. Alguns especularam na quarta-feira que Putin poderia imitar o que aconteceu no Casaquistão, onde Nursultan Nazarbayev se tornou presidente do Conselho de Segurança de seu país de forma vitalícia, depois de deixar o cargo de presidente no ano passado. /TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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