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Peru combate surto recorde de dengue emitindo um alerta para um planeta que se aquece

País tem adotado medidas excepcionais para tentar controlar a doença, que já tem 114 mortes confirmadas em 2023

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Por Frances Vinall
Atualização:

O Peru está adotando medidas excepcionais, como proibir que seus cidadãos encham vasos com água em suas residências, conforme combate o maior surto de dengue já registrado no país — uma crise que especialistas têm atribuído a um aumento na incidência de chuvas e temperaturas mais quentes, conforme o clima muda.

Até segunda-feira, o país latino-americano tinha registrado mais de 110 mil casos prováveis de dengue este ano, de acordo com o Centro Nacional de Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças. Pelo menos 114 pessoas morreram após se infectar com o vírus, e outros 39 casos de pacientes mortos estão sob investigação.

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Esse surto é um alerta para países tropicais, onde a dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos ocorrem cada vez mais à medida que o clima em rápida mudança ocasiona mais temperaturas mais altas e mais umidade, gerando um ambiente ideal para o acasalamento de mosquitos hospedeiros. Em sua pior expressão, a dengue pode causar febre alta, graves falências de órgãos e morte. O número de casos registrados aumentou cerca de 10 vezes, de aproximadamente 500 mil em 2000 para 5,2 milhões em 2019, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, que em março declarou a dengue um “grande problema de saúde pública” na região das Américas.

O surto mais recente ocorre após o norte do Peru ter registrado um recorde de chuvas, em março. “Em termos de mudanças climáticas, mais precipitações, temperaturas mais altas e mais umidade certamente favorecem o mosquito”, afirmou Raman Velayudhan, que dirige o programa da OMS sobre Doenças Tropicais Negligenciadas, durante uma entrevista coletiva, em abril.

Governo peruano pediu ajuda da população para combater o surto Foto: Martin Mejía / AP

A epidemia foi exacerbada pelo início do padrão climático El Niño, uma ocorrência regular que começa com o aquecimento das águas do Oceano Pacífico ao longo da costa sul-americana e um enfraquecimento dos ventos alísios que fazem a água fluir na direção do continente. Esse aquecimento ocorre normalmente a cada três ou até cinco anos, anteriormente ao período de águas mais frias no oceano e ventos mais fortes conhecido como La Niña.

As mudanças climáticas aumentam a previsão de chuvas no Peru durante o El Niño porque mais água evapora do Pacífico mais quente, e essa água pode cair de uma vez quando as nuvens chegam ao continente, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, em vez de chover menos ao longo de um período mais longo e estável.

Jason Mackenzie, professor de virologia do Instituto Doherty, da Universidade de Melbourne, afirmou que há uma clara ligação entre maior incidência de chuvas e surtos de doenças transmitidas por mosquitos. “Mais chuva ocasiona maior acúmulo de água e portanto mais mosquitos põem ovos”, afirmou ele.

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Um estudo publicado no ano passado por especialistas em saúde pública americanos e peruanos na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases constatou no Peru uma “forte” ligação entre surtos de dengue, temperaturas mais elevadas e o El Niño-Oscilação do Sul.

“Casos de dengue aumentaram substancialmente nas últimas quatro décadas, ocasionados em ampla medida por fatores antropogênicos, incluindo as mudanças climáticas”, escreveram os autores, acrescentando que “as mudanças climáticas deverão elevar a frequência dos eventos de El Niño”.

O Peru proibiu também o armazenamento de água parada em tanques abertos, ao mesmo tempo que se apressou para instalar um hospital de campanha em uma das regiões mais afetadas. Os peruanos também foram proibidos de tentar tratar em casa casos suspeitos de dengue e estão sendo orientados a comparecer às clínicas.

“Dengue mata”, afirmou a ministra da Saúde, Rosa Gutiérrez, em um comunicado na terça-feira. “Por isso, ajudem-me a eliminar os locais de acasalamento dos mosquitos.”

Mackenzie, o professor australiano, afirmou que há várias situações em que o aumento da incidência de chuvas ocasionou doenças transmitidas por mosquitos em lugares onde anteriormente não havia registros desse tipo de enfermidade.

A encefalite japonesa apareceu 3,2 mil quilômetros mais ao sul, como nunca antes, chegando à Austrália, após uma inundação recorde ocorrer em áreas normalmente quentes e secas no ano passado. O vírus do Nilo Ocidental também reaparece com frequência nos EUA após um pico no acasalamento dos mosquitos em um período úmido — que é seguido por uma seca que obriga os mosquitos a procurar água em centros urbanos, afirmou Mackenzie. / Washington Post

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