WASHINGTON - Uma mulher disse à polícia americana que foi sexualmente agredida em 2017 por Pete Hegseth, ex-apresentador da Fox News e indicado pelo presidente eleito Donald Trump para o cargo de secretário de Defesa, de acordo com um relatório divulgado na noite de quarta-feira, 20. Essa é a segunda denúncia por crimes sexuais envolvendo indicados de Trump para o gabinete. Nesta quinta, Matt Gaetz, nomeado por Trump para procurador-geral, rejeitou cargo após o escrutínio por uma investigação de tráfico sexual.
A mulher, que não teve a identidade revelada, afirmou que foi violentada após Hegseth pegar seu telefone, trancar a porta de um quarto de hotel na Califórnia e impedi-la de sair. Ele afirmou à polícia na época que o encontro foi consensual e negou qualquer irregularidade, segundo o relatório.
As acusações vieram à tona na semana passada, quando autoridades locais divulgaram um breve comunicado confirmando que uma mulher havia acusado Hegseth de agressão sexual em outubro de 2017, após ele ter discursado em um evento de mulheres republicanas em Monterey.
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“O caso foi totalmente investigado, e fui completamente inocentado”, disse Hegseth nesta quinta-feira no Capitólio, onde estava reunido com senadores para angariar apoio à sua nomeação. O relatório não afirma que a polícia concluiu que as acusações eram falsas. A polícia recomendou que o relatório fosse encaminhado ao Escritório do Procurador Distrital do Condado de Monterey para análise.
O relatório foi divulgado pela polícia na véspera do anúncio de Matt Gaetz, indicado de Trump para procurador-geral, de que estava rejeitando o cargo após o escrutínio contínuo sobre uma investigação federal de tráfico sexual.
Os detalhes do relatório
Tim Palatore, advogado de Hegseth, afirmou que a mulher recebeu uma quantia não revelada em 2023 como parte de um acordo confidencial para evitar o risco de uma ação judicial, que ele descreveu como infundada. O relatório policial de 22 páginas, divulgado em resposta a um pedido de acesso a registros públicos, fornece a primeira descrição detalhada das alegações da mulher, que contradizem a versão de Hegseth sobre os fatos. O documento cita entrevistas policiais com a suposta vítima, uma enfermeira que a tratou, um funcionário do hotel, outra mulher presente no evento e o próprio Hegseth.
Uma porta-voz da equipe de transição de Trump afirmou na quinta-feira que o “relatório corrobora” o que a equipe legal de Hegseth vinha dizendo “desde o início”. Segundo o relatório, os investigadores foram alertados sobre a suposta agressão por uma enfermeira que ligou para a polícia após uma paciente solicitar um exame de agressão sexual. A paciente disse à equipe médica que acreditava ter sido agredida cinco dias antes, mas não conseguia se lembrar de muitos detalhes do ocorrido. Ela relatou suspeitar que algo tenha sido colocado em sua bebida antes de terminar no quarto de hotel onde disse que a agressão aconteceu.
A polícia recolheu o vestido e a roupa íntima não lavados que ela usava naquela noite, segundo o relatório. O parceiro da mulher, que estava hospedado no hotel com ela, disse à polícia que ficou preocupado naquela noite, depois que ela não voltou para o quarto. Às 2 da manhã, ele foi ao bar do hotel, mas ela não estava lá. Ela voltou algumas horas depois, pedindo desculpas e dizendo que “devia ter adormecido”. Alguns dias depois, ela contou a ele que tinha sido agredida sexualmente.
A mulher, que ajudou a organizar o evento da Federação de Mulheres Republicanas da Califórnia, no qual Hegseth discursou, disse à polícia que testemunhou o apresentador agindo de maneira inadequada ao longo da noite, acariciando as coxas de várias mulheres. Ela enviou uma mensagem a uma amiga dizendo que Hegseth passava uma “energia de predador”, de acordo com o relatório.
Após o evento, ela e outros participaram de uma festa em uma suíte de hotel, onde afirmou ter confrontado Hegseth, dizendo que “não gostava da forma como ele tratava as mulheres”, segundo o relatório. Um grupo, incluindo Hegseth e a mulher, foi para o bar do hotel. Foi então que “as coisas ficaram confusas”, contou a mulher à polícia. Ela se lembra de tomar uma bebida no bar com Hegseth e outros, segundo o relatório.
Ela também relatou ter discutido com Hegseth perto da piscina do hotel, relato corroborado por um funcionário que foi chamado para lidar com a situação e falou com a polícia. Logo em seguida, ela contou estar dentro de um quarto de hotel com Hegseth, que teria pegado seu telefone e bloqueado a porta com o corpo, impedindo-a de sair, segundo o relatório.
Ela também afirmou que se lembrava de dizer “não” várias vezes, conforme consta no documento. Sua próxima memória foi de estar deitada em um sofá ou cama com Hegseth, sem camisa, inclinado sobre ela, com suas medalhas militares penduradas, segundo o relatório. Hegseth serviu na Guarda Nacional, alcançando o posto de major.
Depois que Hegseth terminou, ela se lembra de ele jogar uma toalha nela e perguntar se ela estava “bem”, consta no relatório. Ela disse à polícia que não se lembrava de como voltou ao seu quarto e que desde então sofria com pesadelos e perda de memória.
Na época da suposta agressão, Hegseth, agora com 44 anos, estava em processo de divórcio de sua segunda esposa, com quem tem três filhos. Ela pediu o divórcio depois que ele teve um filho com uma produtora da Fox News, que hoje é sua terceira esposa, segundo registros judiciais e postagens de Hegseth nas redes sociais. Seu primeiro casamento terminou em 2009, também devido a infidelidade, segundo registros judiciais.
Hegseth afirmou que participou da festa e bebeu cerveja, mas não consumiu bebidas destiladas, admitindo estar “levemente embriagado”, mas não bêbado. Ele disse ter encontrado a mulher no bar do hotel e que ela o conduziu pelo braço até seu quarto, o que o surpreendeu, pois inicialmente ele não tinha intenção de ter relações sexuais com ela, segundo o relatório.
Hegseth afirmou aos investigadores que o encontro foi consensual e que perguntou explicitamente mais de uma vez se ela estava confortável. Ele relatou que, na manhã seguinte, a mulher “demonstrou sinais iniciais de arrependimento”, e ele a tranquilizou dizendo que não contaria a ninguém sobre o encontro.
O advogado de Hegseth afirmou que um pagamento foi feito à mulher como parte de um acordo confidencial alguns anos após a investigação policial, pois Hegseth temia que ela estivesse prestes a abrir um processo, o que poderia levar à sua demissão da Fox News, onde era um apresentador popular. O advogado não revelou o valor do pagamento./Associated Press.
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