O controvertido plano do premiê britânico, Boris Johnson, de deportar para Ruanda, na África, imigrantes ilegais apreendidos no Canal da Mancha deve começar nesta terça-feira, 14, em meio a críticas e protestos de diversos setores da sociedade no Reino Unido, além de inúmeros desafios na Justiça. Ao menos sete imigrantes esperam para deixar o país nesta noite em um avião. O custo da viagem foi estimado em US$ 600 mil (cerca de R$ 3 milhões).
O plano original do governo Johnson era enviar centenas de pessoas nesses voos, mas diversos dos casos foram parar na Justiça. A Igreja Anglicana, a principal denominação cristã no Reino Unido, também contesta o projeto, que recebeu críticas até mesmo, segundo a imprensa local, do príncipe Charles, herdeiro do trono.
Questionado se um voo praticamente vazio serviria a algum propósito, o primeiro-ministro Boris Johnson reiterou que previu “muitos desafios legais e obstáculos” e que os esforços para bloquear os voos foram “cúmplices no trabalho de gangues criminosas”. Apesar disso, descreveu a parceria com Ruanda como sensata e afirmou que seus oponentes não tinham outra alternativa para substituir a política proposta.
“Eu acho que o que as gangues criminosas estão fazendo, e o que aqueles que efetivamente estão ajudando o trabalho delas, é minar a confiança das pessoas no sistema seguro e legal e aceitação geral da imigração.”
De volta para a África
Johnson anunciou em abril o plano para realocar os imigrantes na África, mediante um pagamento de US$ 144 milhões (cerca de R$ 700 milhões) a autoridades ruandesas. O premiê sobreviveu na semana passada a uma moção de desconfiança de seu próprio partido e acena à base anti-imigração dos eleitores conservadores para ganhos políticos em um momento em que está em baixa, segundo analistas.
“Estamos em uma situação em que a legalidade disso ainda precisa ser testada”, disse Mark Serwotka, secretário-geral do Sindicato de Serviços Públicos e Comerciais da Grã-Bretanha, que representa funcionários do governo ou contratados.
“Se os governantes tivessem algum escrúpulo em relação a essas pessoas, ou qualquer traço de humanidade, não deportariam ninguém até que fosse decidido se o processo em si é legal”.A chegada de um número pequeno, mas constante, de requerentes de asilo em barcos da França tem sido um problema político crescente para Johnson, que em 2016 liderou a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, argumentando que isso permitiria ao país “retomar controle” de suas fronteiras.
As relações com o governo francês foram tensas após o Brexit. Com cooperação limitada, o governo britânico procurou outras maneiras de conter as chegadas que se tornaram um “símbolo” do fracasso da Grã-Bretanha em policiar suas fronteiras pós-Brexit./ NYT e REUTERS
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