Planos de invasão israelense visam a Cidade de Gaza e a liderança do Hamas

O objetivo, segundo três oficiais israelenses, é acabar com a alta hierarquia política e militar do Hamas, o grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza

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Por Ronen Bergman e Patrick Kingsley

THE NEW YORK TIMES- Os militares de Israel estão se preparando para uma incursão terrestre na Faixa de Gaza nos próximos dias, com dezenas de soldados que tem como principal missão a conquista da Cidade de Gaza e a destruição da liderança do grupo terrorista Hamas, de acordo com três oficiais de Israel que revelaram planos da ofensiva israelense.

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Os militares anunciaram que o seu objetivo final é eliminar a liderança política e militar do grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza e ordenou os ataques terroristas que ocorreram em Israel no dia 7 de outubro, deixando 1.300 pessoas mortas.

Espera-se que o ataque seja a maior operação terrestre de Israel desde que invadiu o Líbano em 2006. Seria também a primeira em que Israel tentou conquistar territórios desde a invasão de Gaza em 2008.

Tanques israelenses esperam o aval do exército para iniciarem a incursão terrestre na Faixa de Gaza  Foto: Sergey Ponomarev/ NYT

A operação corre o risco de ser demorada e envolve combates tanto no solo como nos diversos túneis construídos pela organização terrorista Hamas. Autoridades israelenses alertaram que o grupo terrorista Hamas poderia matar reféns israelenses e usar civis palestinos como escudos humanos durante o combate.

Futuro

Ainda não se sabe o que Israel faria com a Cidade de Gaza, reduto do grupo terrorista Hamas e maior centro urbano do enclave palestino. Também é incerto o que o exército israelense quis dizer com a meta de destruir a liderança do grupo terrorista Hamas, que está profundamente enraizado em Gaza.

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Também não está claro se o Hezbollah, a maior milícia libanesa apoiada pelo Irã, que é aliada do grupo terrorista Hamas e possui uma vasta gama de mísseis guiados de precisão e forças terrestres, poderá responder a uma invasão de Gaza abrindo uma segunda frente com Israel ao longo da fronteira com o Líbano.

Os militares de Israel ainda não anunciaram formalmente que irão invadir Gaza, embora tenham confirmado que equipes de reconhecimento entraram brevemente no enclave palestino na sexta-feira, 13.

O governo israelense aponta que diversos terroristas do Hamas devem estar esperando pela chegada do exército israelense, tanto no solo quanto nos túneis e que o grupo terrorista pode impedir o progresso da ofensiva israelense ao explodir estes túneis e bombas ao longo do enclave costeiro.

Tanques israelenses se movem em direção a fronteira de Israel com a Faixa de Gaza  Foto: Ariel Schalit / AP

Danos

Devido aos danos generalizados na Cidade de Gaza causados pelos recentes ataques aéreos israelenses, os comandos receberam instruções adicionais nos últimos dias para os ajudar o exército a operar em ambientes urbanos muito prejudicados, de acordo com um quarto oficial, o coronel Golan Vach.

A invasão foi inicialmente planejada para o fim de semana, mas foi adiada por alguns dias, pelo menos em parte devido às condições nubladas que teriam tornado mais difícil para os pilotos israelenses e operadores de drones fornecerem cobertura aérea às forças terrestres, segundo disseram os oficiais.

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Civis palestinos da Faixa de Gaza saem do norte do enclave palestino para o sul após avisos das Forças de Defesa de Israel  Foto: Hatem Moussa/ AP

O objetivo do exército israelense é a “derrota do grupo terrorista Hamas e a eliminação de seus líderes após o massacre que perpetraram”, afirmou o almirante Daniel Hagari, das Forças de Defesa de Israel, no sábado, 14.

“Esta organização não governará a Faixa de Gaza de forma militar e política”, acrescentou o almirante Hagari.

Yahya Sinwar

Um segundo porta-voz militar apontou que o exército estava particularmente concentrado em matar Yahya Sinwar, o principal líder do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Israel responsabiliza Sinwar pelas atrocidades cometidas contra os israelenses no último sábado.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse que o ataque foi o dia mais mortal para os judeus desde o Holocausto. “Esse homem está na nossa mira”, disse o tenente-coronel Richard Hecht, outro porta-voz militar, referindo-se a Sinwar. “Ele é um homem morto e chegaremos até ele”, acrescentou o coronel Hecht.

Muitos palestinos dizem temer que a invasão signifique uma crise humanitária e um potencial exílio. Os militares israelenses afirmaram que procuram evitar as mortes de civis. Israel pediu para que os civis da Faixa de Gaza saíssem do norte do enclave e fossem para o sul. O grupo terrorista Hamas pediu que as pessoas ficassem em suas casas.

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O chefe do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Yahya Al-Sinwar segura o filho de outro líder do Hamas, Ismail Haniyeh  Foto: Mohammed Salem/Reuters

Reféns

A complexidade da invasão é agravada pelos civis israelenses que estão sendo mantidos como reféns do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza em seus bunkers e túneis subterrâneos. Analistas militares israelenses dizem temer que o Hamas utilize os reféns como escudos humanos, criando um dilema moral e operacional para Israel.

“A única maneira de chegar aos reféns é através de uma operação terrestre”, disse Miri Eisin, ex-oficial militar superior e diretor do Instituto Internacional de Contraterrorismo da Universidade Reichman, em Israel. Mas se a operação for adiante, apontou Eisin, “os terroristas vão pegar esses bebês e os sobreviventes do Holocausto e explodi-los para nos mostrar como são cruéis”.

Retomada

O governo de Israel ainda não decidiu se irá retomar o sul de Gaza, além da Cidade de Gaza, de acordo com um dos altos oficiais militares. Mas se o sul de Gaza permanecer fora do controle israelense, alguns líderes do Hamas poderão continuar foragidos.

Alguns líderes militares e políticos querem que os soldados israelenses realizem 18 meses de operações de detenção porta-a-porta, apontou Nimrod Novik, antigo diplomata israelense e conselheiro de segurança do governo de Israel.

A questão de quem governaria Gaza depois do Hamas também é preocupante, segundo analistas. Israel poderia reafirmar o controle direto sobre o território, como fez de 1967 a 2005, mas isso implicaria governar uma população grande e hostil.

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Um plano agora amplamente discutido por diplomatas, funcionários e analistas envolve permitir que a Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia, retome o controle de Gaza, depois de ter sido forçada a sair pelo Hamas em 2007.

Mas isso correria o risco de fazer com que a Autoridade Palestina parecesse um fantoche de Israel, disse Ibrahim Dalalsha, um analista palestino baseado em Ramallah, na Cisjordânia.

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