O incêndio em um dormitório escolar que matou 19 pessoas na Guiana neste domingo, 21, pode ter sido internacional, de acordo com as investigações iniciais. O delegado de polícia Clifton Hicken afirmou nesta segunda-feira que ainda não há suspeitos, mas existem indícios de que o incidente “foi iniciado maliciosamente”. O país declarou luto de três dias.
Segundo o Hicken, serão realizados exames de DNA nos corpos e seis autópsias foram realizadas cerca de 24 horas depois do caso. Os policiais esperam identificar suspeitos nas próximas 24 horas.
O incêndio aconteceu no dormitório feminino da Escola Secundária Mahdia. A cidade fica na região central do país, que está localizado ao norte do Brasil e faz fronteira com a Venezuela e o Suriname. “Esta é uma grande catástrofe. É terrível, doloroso”, disse o presidente Mohamed Irfaan, conforme comunicado divulgado à imprensa pelo governo de Guiana.
Inicialmente, o governo anunciou 20 mortos, mas o número foi retificado pelo Corpo de Bombeiros ao longo desta segunda-feira. Ao todo, 14 jovens morreram no local e 5, no hospital. Ainda há pelo menos 17 vítimas hospitalizadas. Elas foram salvas depois dos bombeiros perfurarem o muro do prédio por causa das barras de segurança da janela.
No momento do desastre, 56 alunas estavam no dormitório, embora a princípio tenha sido relatado que havia 63.
Jovens de 11 a 17 anos viviam no local, segundo uma fonte que acompanha o socorro e pediu anonimato. O prédio foi consumido pelas chamas. O telhado, que era feito de estanho, desabou e apenas as paredes ficaram de pé.
‘Grade para janelas e portas são para presos’
Cerca de cinquenta pessoas protestaram em Chenapau, cidade vizinha e de onde são algumas das vítimas. “Precisamos de compensação por nossas perdas”, dizia um cartaz. “As grades para janelas e portas são para presos”, dizia outra faixa em referência às condições do estabelecimento.
“A dor pura, a agonia, o trauma... Quem será o responsável? O que vamos dizer aos pais?”, questionou Michael McGarrell, ativista da Associação do Povo Ameríndio (APA), uma ONG frequentemente crítica do governo sobre direitos à terra, mineração de ouro e, mais recentemente, a venda de créditos de carbono para a petroleira americana Hess. O ativista perdeu duas sobrinhas no incêndio e tem outros três parentes hospitalizados.
Mahdia está localizada a cerca de 200 km ao sul de Georgetown, em uma região que foi recentemente afetada por fortes chuvas. “Estamos de todo o coração com as famílias e parentes dos afetados por esta tragédia”, disse Natasha Singh-Lewis, deputada da oposição. “Pedimos às autoridades que conduzam uma investigação completa sobre as causas do incêndio e um relatório detalhado do que realmente aconteceu”, acrescentou.
O governo da Venezuela, país com o qual a Guiana mantém uma disputa territorial sobre o Essequibo, uma vasta extensão de selva rica em minerais e reservas de aquíferos, lamentou o ocorrido. “A Venezuela lamenta profundamente o incêndio ocorrido (...) enviamos sentidas condolências às famílias dos falecidos e desejamos uma rápida recuperação aos feridos”, escreveu o chanceler venezuelano, Yván Gil, no Twitter.
Ex-colônia holandesa e britânica, a Guiana é um pequeno país pobre de língua inglesa, com uma população de 800 mil habitantes. O país tem as maiores reservas per capita de petróleo do mundo e espera um rápido desenvolvimento nos próximos anos com a exploração dessas reservas. /AFP
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