A morte de Fidel Castro elimina o que por muitos anos foi a maior barreira psicológica para uma relação mais próxima entre EUA e Cuba, mas também contribui para a incerteza sobre a transição do governo de Barack Obama para o de Donald Trump. “Ele foi um ditador brutal de uma ilha totalitária”, disse o presidente eleito, em uma lembrança de que traumas históricos ainda separam os dois países.
Fidel sempre dividiu opiniões: revolucionário que lutou contra a agressão americana ou ditador cruel que ignorou direitos humanos e democracia? Raúl Castro, presidente de Cuba e irmão do líder morto, tem 85 anos. Seu Partido Comunista não dá sinais de abertura política, apesar de ter acertado com Washington a reabertura de embaixadas e um incremento econômico.
Quando Obama deixar a Casa Branca, sua decisão de se reaproximar de Cuba e recriar laços históricos pode ser rapidamente revertida. Trump criticou os esforços do presidente e os líderes republicanos no Congresso mostraram dura oposição a pedidos do presidente para levantar os 55 anos de embargo imposto à ilha. A era de Fidel começou com uma revolta improvável que derrubou Fulgencio Batista, ditador apoiado pelos EUA, em 1959. Naquela época, com apenas 32 anos, Castro tornou-se o líder mais jovem da América Latina e inspirou revolucionários.
Mas a Cuba socialista de Fidel era tudo menos idílica e os EUA logo se tornaram seu principal rival. Membros do governo de Batista foram submetidos a julgamentos sumários, com pelo menos 582 execuções realizadas por pelotões de fuzilamento nos dois primeiros anos. Jornais independentes foram fechados. Os homossexuais foram mandados para campos de “reeducação”. Dezenas de milhares se tornaram prisioneiros políticos. Muitos cubanos fugiram da ilha. Após o desaparecimento da URSS, a economia cubana entrou em colapso.
Embora tenha registrado um aumento dos investimentos e das viagens de americanos a Cuba, a normalização tem sido limitada porque Obama não conseguiu obter dos congressistas a anulação de restrições associadas com o embargo. Após a vitória de Trump, alguns republicanos prometeram reverter a nova política externa de Obama. A ambiguidade do republicano deixa a aproximação no limbo e não está claro se a morte de Fidel mudará alguma coisa na política de Trump. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
* BRADLEY KLAPPER É JORNALISTA