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Polônia será o primeiro país da Otan a enviar caças à Ucrânia

Presidente polonês diz que enviará MiG-29 para Kiev; até agora, governos ocidentais evitaram enviar jatos a Kiev temendo escalada das tensões

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Por Redação
Atualização:

A Polônia planeja enviar caças MiG-29 de fabricação soviética à Ucrânia, tornando-se o primeiro país da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, a fornecer aviões de guerra ao país. O anúncio foi feito pelo presidente polonês, Andrzej Duda, em entrevista coletiva nesta quinta-feira. Os quatro primeiros caças devem chegar nos próximos dias.

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Até agora, os governos ocidentais haviam se recusado a enviar caças à Ucrânia, como vinha insistindo o o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, por temerem a escalada das tensões entre a Otan e a Rússia.

“Inicialmente, vamos entregar nos próximos dias quatro aeronaves totalmente operacionais para a Ucrânia”, afirmou Duda, em entrevista com seu homólogo tcheco, Petr Pavel. “Outros dispositivos estão em manutenção neste momento e, provavelmente, serão entregues depois.”

Duda especificou que a Polônia tem cerca de 15 caças MiG, herdados na década de 1990 das Forças Armadas da comunista Alemanha Oriental.

Um MiG-29 da Força Aérea Ucraniana sobrevoa a linha de frente perto de Bakhmut, região de Donetsk Foto: Libkos/AP - 11/2/2023

Com o aumento gradual da sofisticação e da letalidade das armas enviadas à Ucrânia desde 24 de fevereiro do ano passado, enviar caças de combate não é mais um tabu entre os governos ocidentais. Se por um lado o americano Joe Biden recusou firmemente a ideia, por outro, na Europa, países como França, Reino Unido e Suécia se mostraram abertos à ela. A Rússia respondeu com ameaças de retaliação política e militar.

O MiG-29 é um caça utilizado em combate aéreo, criado no início da década de 1970 na então União Soviética. Ele se mantem operacional até os dias de hoje na Força Aérea Russa, bem como em países para onde foi exportado. Mas seu elevado custo de manutenção a Rússia e outros países, como a Hungria, a tentar se livrar de seus caças — até então, poucos países tinham demonstrado interesse na aquisição dos equipamentos.

“Estes MiGs ainda estão em serviço na Força Aérea polonesa. São os últimos anos de exploração destes dispositivos, que continuam operacionais em sua maioria”, afirmou o presidente polonês.

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O armamento padrão do MiG-29 é constituído de um canhão interno com 150 munições, além de seis estações para armamentos sob as asas, para mísseis de curto alcance. O caça também é capaz de realizar ataques ao solo utilizando bombas e foguetes não guiados. Apesar disso, o MiG-29 não foi tão bem sucedido em combates reais, como na Guerra do Golfo e na guerra entre Eritreia e Etiópia em 1999.

Os caças entregues à Ucrânia serão substituídos por aeronaves sul-coreanas FA-50 adquiridas recentemente pela Polônia e, posteriormente, por F-35s americanos.

Relutância do Ocidente

Ao longo de 12 meses, os países ocidentais não só aumentaram suas promessas de ajuda militar com as dezenas de tanques que despacharam à Ucrânia, como já enviaram centenas de veículos blindados, sistemas de defesa aéreos, drones, armas de longo alcance e muito mais. Receber caças, na visão de Kiev, seria o próximo passo. A relutância do Ocidente em fazê-lo, segundo analistas, se explica pelas dificuldades técnicas e principalmente pela escalada que o conflito pode ganhar.

A transferência de equipamento militar ocidental, aliada à resiliência do país invadido, tem sido a chave para a resistência ucraniana até agora. Segundo o professor James Pritchett, diretor do programa de Estudos de Guerra da Universidade de Hull (Reino Unido), em número suficiente e com a doutrina certa, os caças ocidentais podem ser determinantes para a guerra aérea e, por consequência, a terrestre. Mas além de vários esquadrões, a Ucrânia precisaria de recursos de apoio, como aviões-tanque e técnicos treinados para a manutenção das aeronaves.

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Para fazer diferença, em uma primeira fase, a Ucrânia precisaria de toda uma aviação de combate - pelo menos 70 caças - para começar enfrentar a superioridade da Força Aérea da Rússia com seus Sukhoi Su-35 e MiG-31. O último, equipado com mísseis hipersônicos responsáveis pelos principais ataques à infraestrutura ucraniana. A atual frota da Ucrânia inclui, entre outros, jatos MiG-29 e Sukhois da era soviética.

O grupo de monitoramento holandês independente Oryx estimou, após 11 meses de guerra, que a Ucrânia havia perdido 53 aeronaves, ponderando que é difícil saber quantos ainda estão aptos a voar. De qualquer forma, segundo Godoy, a aviação ucraniana perdeu tantos caças que hoje avalia com muito critério antes de fazer um ataque, se ele não resultará em mais uma aeronave perdida.

Kiev e alguns analistas argumentam que novos caças permitiriam aos ucranianos controlar melhor os céus e proteger suas forças terrestres. Mas a capacidade sem precedentes de atacar dentro do território russo alimenta o temor de uma escalada.

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Logística e treinamento

A questão crítica, segundo o especialista em Ucrânia e Rússia da Universidade do Alabama em Birmingham (EUA) George Liber, é o tipo de caça e quando ele seria enviado. “Se os EUA fornecerem F-16 (Fighting Falcon) de fabricação americana, as tripulações ucranianas precisarão de pelo menos seis meses de treinamento. Portanto, a decisão de armar os ucranianos com F-16 precisaria ser tomada imediatamente”, diz o especialista, de origem ucraniana, se referindo ao modelo mais especulado até agora.

Se a opção dos EUA e outros países da Otan for a de enviar MiGs de fabricação soviética, que muitos aliados no Leste Europeu ainda possuem, o período de treinamento seria mais curto e a decisão poderia ser tomada mais adiante, na avaliação de Liber.

O F-16 é considerado um dos caças mais confiáveis do mundo, muito eficiente, mas seriam necessários mais do que seis meses de treino. Segundo analistas, um piloto ocidental inclui uma formação acadêmica de três a quatro anos e mais três anos e meio de especialização para se tornar totalmente operacional.

Pritchett lembra que Washington vendeu F-16 para vários aliados da Otan e para nações não pertencentes à Aliança Atlântica que poderiam tentar fornecer o armamento à Ucrânia enquanto buscam substituir suas frotas por novos F-35, como afirmou o governo da Holanda. Embora o governo Biden tenha afastado a possibilidade de enviar F-16, outros países não. Mas eles precisariam de um sinal verde de Washington, já que se trata de um equipamento americano.

A decisão, segundo o analista britânico, ainda depende de vários fatores no solo e da nova ofensiva que a Rússia está preparando. “É difícil prever até quando seria viável enviar caças para Kiev. Para os ucranianos, porém, quanto antes, melhor, especialmente se a ofensiva terrestre russa ganhar impulso”, afirma Pritchett. /W.POST, AP e NYT, COM RENATA TRANCHES

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