E se os eleitores indecisos realmente não estiverem indecisos? E se, em vez disso, eles forem, em sua maioria, pessoas que votarão em Donald Trump, mas simplesmente não querem admitir isso para os pesquisadores - ou para si mesmos?
Esse assunto está em minha mente porque Kamala Harris e Trump têm apresentado o contraste mais nítido que já vi nas cinco disputas presidenciais que cobri. Kamala está fazendo campanha com entusiasmo e sua mensagem tem sido consistente há meses. Essa não é uma escolha complicada.
Suspeito que Kamala tenha conquistado a maior parte dos eleitores indecisos que ela vai conseguir, e Trump esteja em melhor situação nos Estados mais cruciais desta eleição do que as pesquisas sugerem - e mais bem posicionado para atrair os eleitores que decidem tardiamente e geralmente são movidos por sentimentos (que, na minha opinião, este ano serão sobre duas coisas: a economia e o medo).
Por que mais “indecisos” não estão dizendo que votarão em Trump? Bem, Trump torna terrivelmente difícil para muitos republicanos, moderados, independentes e outros fora de sua base MAGA (Make America Greta Again) entrarem no movimento com seu bombardeio que nega a eleição, defende a insurreição e nos coloca contra eles.
Em meus três anos como moderador de grupos de discussão do Times Opinion, ouvi o constrangimento das pessoas que não são “trumpistas-raíz” e votaram em Trump. A conduta do ex-presidente em 6 de janeiro de 2021 causa repugnância a muitas delas. Alguns se sentem genuinamente desconfortáveis em dizer que votarão nele depois do que ele fez naquele dia.
Mas, ao mesmo tempo - e isso é fundamental - muitos eleitores moderados, independentes, indecisos e oscilantes listam a economia como seu principal problema. E muitos ainda elogiam Trump em questões econômicas. Os americanos, em geral, odeiam a inflação. Muitos deles criticam o governo Biden-Kamala por isso.
Não acredito que eleitores indecisos, preocupados mais com a economia e prejudicados pela inflação, vão abraçar Kamala. Não vejo nenhum sinal claro nos Estados-pêndulo de que sua mensagem econômica esteja convencendo um grande número de eleitores indecisos e de que ela será melhor do que Trump na economia. Muitos eleitores não estão procurando um presidente “mais do mesmo”, e acho que o maior problema de Kamala é se diferenciar de Biden. Ela não fez isso de forma eficaz.
Estratégia
A estratégia política de Kamala nesta semana é um sinal de que sua equipe também suspeita de tudo isso. Ela está fazendo campanha ao lado de Liz Cheney em Estados decisivos e falará sobre o dia 6 de janeiro. Talvez Kamala e Cheney consigam afastar alguns desses eleitores de Trump e capitalizar sua linguagem de “inimigo interno” e suas ameaças contra seus críticos e oponentes.
Kamala está fechando a corrida com as questões certas - economia, direito ao aborto, segurança, 6 de janeiro - que repercutem em muitos eleitores, inclusive nas mulheres dos subúrbios, cruciais para suas chances. Ela espera que Michelle e Barack Obama ajudem esses eleitores e outros também, quando fizerem seus primeiros eventos conjuntos no final desta semana.
A estratégia final de Trump é fazer com que as pessoas tenham medo de uma presidência de Kamala, difamando-a pessoalmente ou retratando o país como próximo de um colapso. Ele e seus aliados estão empenhados em tornar Kamala inaceitável para os eleitores.
Saiba mais
Se ele vencer, uma história pouco contada dessa campanha pode ser a eficácia dos anúncios de Trump sobre meninas transgêneras e direitos trans em fazer Kamala parecer extrema e inaceitável. Nesta semana, ele está fazendo campanha na Carolina do Norte, Geórgia e Nevada, onde o discurso do medo deve atingir o ápice com os conservadores sociais, eleitores religiosos e alguns dos homens negros e latinos que ele está tentando conquistar.
Trump sabe o que está fazendo ao semear a ansiedade. Kamala não pode se dar ao luxo de que esta seja uma eleição de medo versus mais do mesmo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.