Quando se trata de abordar conflitos globais, Donald Trump é um homem apressado.
Mesmo antes de tomar posse do cargo, o presidente reivindicou o crédito pelo que chamou de “cessar-fogo ÉPICO” em Gaza. Ele correu para fazer com que a Ucrânia e a Rússia rapidamente adotassem uma pausa nos combates. E, com o Irã, Trump quer um acordo dentro de dois meses para impedir que Teerã desenvolva uma arma nuclear.
É a versão para a política externa da abordagem do presidente de “inundar a zona” em Washington, onde ele e seus representantes usaram táticas de blitzkrieg para desmantelar a burocracia, consolidar o poder executivo e atacar seus inimigos políticos. No cenário mundial, também, Trump adotou uma abordagem apressada para a política externa, projetada para resolver rapidamente as disputas que ele herdou.

Mas sua impaciência diplomática agora está indo de encontro às complexidades da guerra e da paz, levantando questões quanto à durabilidade do que ele alcançou até agora. O cessar-fogo entre Gaza e Israel entrou em colapso. A proposta de Trump para um cessar-fogo imediato de 30 dias foi rejeitada pelo presidente Vladimir Putin, da Rússia. E um acordo nuclear com o Irã — não muito diferente daquele do qual ele se retirou durante seu primeiro mandato — parece ainda muito distante, apesar da pressão dele por um acordo rápido.
“O modus operandi de Trump é estar sempre com pressa, buscando a transação, o temporário, o agora”, disse Aaron David Miller, ex-negociador do Oriente Médio e membro do Carnegie Endowment for International Peace.
“A política externa americana — Ucrânia, Gaza, Irã — não é medida em termos de governos. É o tempo de uma geração”, disse Miller. Ele acrescentou que apressar uma solução era arriscado, “porque ele tem tanta pressa para obter resultados que está meio que se equivocando no diagnóstico dos problemas”.
Os aliados do presidente rejeitam essa avaliação. Eles argumentam que a abordagem dele é projetada para criar embalo para obliterar o que eles chamam de forma irônica de “ordem internacional baseada em regras” que domina a política externa global há décadas. Além do Irã, Israel e Ucrânia, eles observam que Trump chocou o mundo com ameaças de usar a força para adquirir o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá.
“Geopoliticamente, a ideia é pisar fundo, sem freio”, disse Stephen K. Bannon, ex-estrategista do governo Trump, em uma entrevista. Ele disse que o presidente está enviando assessores — o que ele chama de “tropas de choque” — para confrontar rapidamente os conflitos globais da mesma forma que ele implantou Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental dentro do governo federal.
“O que ele está fazendo geoestrategicamente e geoeconomicamente supera em muito o que ele está fazendo internamente”, disse Bannon. “Se você olhar para todos os aspectos, a loucura dele é metódica, intencional, e terá grandes implicações para a segurança nacional.”
A pressão do presidente pelo embalo tem sido o cerne de sua abordagem aos dois conflitos globais mais intensos dos tempos mais recentes: a luta de um ano entre o Hamas e Israel em Gaza; e a guerra de três anos que começou quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Em ambos os casos, Trump culpou repetidamente o ex-presidente Joe Biden por não ter prevenido os conflitos nem agido rápido o suficiente para resolvê-los. Em seu discurso para uma sessão conjunta do Congresso no início deste mês, o presidente se gabou de que “muitas coisas estão acontecendo no Oriente Médio”. A respeito do conflito na Ucrânia, ele declarou sua impaciência: “É hora de parar com essa loucura. É hora de parar com a matança. É hora de acabar com essa guerra sem sentido”.
Clifford D. May, fundador da Foundation for Defense of Democracies, disse que Trump parece ansioso para superar as crises globais para poder concentrar sua atenção em outro lugar.
“Ele prefere fazer sua guerra contra a lacração. Ele prefere lidar com a imigração”, disse May. “Ele gostaria de tirar isso do caminho”.
Mas ele disse que o esforço de Trump por uma resolução na Ucrânia “atingiu um obstáculo substancial” na forma de Putin. Em um telefonema na última terça-feira, o líder russo freou o desejo de Trump por um acordo rápido de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, concordando apenas em interromper os ataques à infraestrutura de energia.
May disse que Putin está jogando com o desejo de Trump por uma resolução rápida ao desacelerar propositalmente os esforços do presidente americano para interromper o status quo que existiu durante a guerra.
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“O fator de perturbação provavelmente pode ser útil em alguns casos”, disse May. Mas, quando não funciona, como com alguém como Putin, que é experiente, que é paciente, que enxerga o que você está fazendo, que tenta brincar com você“, ele acrescentou, “então talvez seja melhor recuar e dizer, OK, qual é o plano B?”
Em Israel, Trump usou sua plataforma de mídia social para pressionar por uma trégua rápida dias antes de assumir o cargo. Até a retomada dos ataques israelenses em Gaza esta semana, o presidente havia elogiado seus esforços de pacificação, até mesmo refletindo para repórteres que ele merece ganhar o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho.
“Eles nunca me dariam”, acrescentou.
Bannon rejeitou a ideia de que o colapso do cessar-fogo em Gaza é evidência de que o desejo do presidente por uma solução rápida na região levou a uma interrupção na luta que não era sustentável ou durável. Ele disse que o apoio de Trump a Israel — e sua condenação inequívoca do Hamas em Gaza — deram a Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, mais liberdade para conduzir a guerra.
“Ele realmente mostrou ao mundo que, ‘Ei, você não pode lidar com essas pessoas, elas não são confiáveis’”, disse Bannon sobre o Hamas. “E então Israel entra e agora não vemos nenhuma tempestade de fogo como vimos no começo.”
Outros observadores de longa data da política externa americana disseram que, embora haja mérito em agir rapidamente quando se trata de diplomacia global, isso muitas vezes pode estimular ações que não são baseadas em informações sólidas.
Lawrence Freedman, professor emérito de estudos de guerra no King’s College, em Londres, disse que o problema com o desejo do presidente por urgência é que ele prejudica o trabalho detalhado e muitas vezes árduo geralmente necessário para uma solução de longo prazo para guerras.
“Ele acha que, se vociferar o suficiente, então as pessoas vão meio que se afastar e deixar ele pode ir direto às coisas que realmente quer fazer”, disse Freedman. “Mas, como nada disso se baseia em uma avaliação séria da situação — dos problemas em questão —, não funciona de verdade."
Miller disse que Trump está menos interessado na solução de longo prazo do que no benefício político de curto prazo que ele obtém ao anunciar uma conquista diplomática.
“Temos uma pessoa impulsiva extraordinariamente impaciente”, disse ele, “onde a velocidade, francamente, importa mais do que a política”.