Opinião | Por que Biden está perdendo e o que ele pode fazer para mudar isso

Campanha do democrata está em negação sobre pesquisas e precisa redefinir Trump para o eleitorado que quer conquistar

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Por Ezra Klein*

Não são exatamente os números das pesquisas de Joe Biden que me preocupam. É a negação do que está por trás deles.

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Entre os eleitores prováveis, Biden está atrás de Donald Trump por 1 ponto em Wisconsin e 3 pontos na Pensilvânia. Ele está à frente por um ponto em Michigan. Conquistar esses três estados é um caminho para a reeleição, e eles estão ao alcance.

Ainda assim, Biden está perdendo. Em 2020, Biden não apenas venceu em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. Ele também venceu em Arizona, Geórgia e Nevada. Agora ele está atrás nesses estados por 6 pontos, 9 pontos e 13 pontos na última pesquisa New York Times/Siena/Philadelphia Inquirer. Esses Estados se tornaram republicanos? Não. A mesma pesquisa mostra os democratas liderando as corridas para o Senado em Arizona, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.

O presidente Joe Biden em discurso na Casa Branca Foto: Evan Vucci/AP

Pesquisas nacionais mostram os democratas ligeiramente à frente dos republicanos para o controle do Congresso. O voto “nunca Biden” agora parece maior do que o voto “nunca Trump”. O eleitorado não se virou contra os democratas; um grupo crucial de eleitores se virou contra Biden.

Biden continua a se comportar como um candidato que está ganhando, em vez de um que está perdendo. Ele e os democratas precisam de uma teoria sobre por que ele está atrás nas pesquisas e o que fazer a respeito. Aqui estão as mais óbvias.

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As pesquisas estão erradas

Parece ser essa a visão de Biden. “Os dados das pesquisas têm estado errados o tempo todo”, ele disse à CNN na semana passada. O Axios relata que a negação das pesquisas é generalizada na campanha de Biden.

Há duas coisas a dizer sobre isso. A primeira é que é falso. Mesmo quando os especialistas previam uma onda republicana em 2022, as sondagens mostravam que os republicanos ficariam aquém, e estavam certas. “As pesquisas foram mais precisas em 2022 do que em qualquer ciclo desde pelo menos 1998″, relatou o FiveThirtyEight.

A segunda é que, se as pesquisas estiveram erradas nas eleições presidenciais recentes, foi porque estavam enviesadas a favor dos democratas. Trump se saiu melhor em 2016 e 2020 do que as sondagens previam. Claro, as pesquisas podem estar erradas. Mas isso poderia significar que Trump é mais forte do que parece, não mais fraco.

É culpa da mídia

Como membro da mídia, tenho ouvido isso com mais frequência. Biden defendeu ele próprio o argumento no jantar dos correspondentes da Casa Branca. “Sinceramente, não estou pedindo que tomem partido, mas peço que se elevem à seriedade do momento; superem os números da corrida eleitoral e os momentos de pegadinha e as distrações, os espetáculos que dominaram e sensacionalizaram nossa política; e foquem no que realmente está em jogo”, disse.

Sempre é possível que a mídia possa fazer um trabalho melhor. Mas como explicação para os números das pesquisas de Biden, isso não se sustenta. Em abril, a NBC News divulgou uma pesquisa nacional segmentando os entrevistados pela forma como eles obtêm notícias e informações.

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Biden liderava por 49 pontos entre os eleitores que confiavam em jornais; liderava por 20 pontos entre os eleitores que confiavam nas redes de notícias nacionais; e na categoria um pouco arcaica de “sites digitais”, Biden liderava por 10 pontos. Se a eleição se limitasse aos eleitores que confiavam nos tipos de veículos de comunicação que Biden estava criticando, ele venceria por uma margem ampla.

Mas Biden está perdendo, e aqui está o motivo: entre os eleitores que confiam nas redes sociais, Trump liderava por 4 pontos; entre os que confiam em notícias via TV a cabo, Trump liderava por 8. Os eleitores que obtêm suas notícias do YouTube e do Google favorecem Trump em 16 pontos. E os que não acompanham notícias políticas de forma alguma favorecem Trump em 26 pontos.

Outdoor com os dizeres, em espanhol: "Não aos ditadores, não a Trump", comparando Trump a Fidel Castro, em Hialeah, na Flórida Foto: Joe Raedle/Getty Images via AFP

Péssima hora para ser presidente

Como meu colega Paul Krugman observa, Biden é mais popular do que os líderes de países semelhantes, como Canadá e Reino Unido. Isso pode ser apenas um momento ruim para ser um candidato enquanto é presidente.

Mas isso é verdade nos Estados Unidos? Esperava-se que as eleições de meio de mandato de 2022 fossem um desastre para os democratas no cargo, mas eles sobreviveram.

Os democratas estão se saindo bem nas eleições para o Senado. A Morning Consult, uma empresa de pesquisas, acompanha as avaliações de todos os 50 governadores e não encontra evidências de um amplo sentimento contrário a candidatos que competem no cargo.

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É a taxa de juros, estúpido!

Na pesquisa Times-Siena, 21% dos eleitores dizem que a economia influenciará seu voto, enquanto 7% dizem que a inflação é sua principal questão. Em contraste, a imigração é a principal questão para 12% dos eleitores, o aborto é a principal questão para 11%, a guerra entre Israel e o Hamas é a principal questão para 2% e o crime é a principal questão para menos de 1%.

Os preços são a explicação mais comum para os problemas de Biden. Mas os democratas se saíram bem em 2022, quando a economia estava em condições muito piores do que agora. E os números de Biden não estão seguindo o padrão que vimos com outros presidentes recentes, casos de Reagan e Obama.

A recuperação de Biden é mais forte do que a recuperação pela qual esses dois presidentes passaram. Em 1984, a inflação era mais alta do que agora, o desemprego era mais alto do que agora e a taxa de juros de uma hipoteca de 30 anos estava acima de 13% —quase o dobro do que é agora. Em maio de 2012, o desemprego estava acima de 8%; agora está em 3,9%. No entanto, Biden está se saindo pior do que Reagan e Obama estavam neste ponto de suas campanhas de reeleição.

O presidente Joe Biden saúda apoiadores na Casa Branca Foto: Susan Walsh/AP

Biden é liberal demais

A gestão Biden tem se preocupado em fortalecer sua ala esquerda, especialmente desde a guerra na Faixa de Gaza. Mas a pesquisa Times-Siena descobriu que, enquanto Biden está perdendo apenas 2% de seus eleitores “muito liberais” de 2020 para Trump, ele está perdendo 16% de seus apoiadores que se descrevem como moderados e conservadores.

Mudar para o centro é uma jogada antiga na política e sempre foi fundamental para a identidade de Biden como político.

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Em 2020, Biden se apresentou como a alternativa moderada em uma primária democrata na qual Bernie Sanders liderava muitas das pesquisas. Ele se opôs veementemente a ideias como a de reduzir o financiamento das polícias, uma pauta cara à ala mais à esquerda do Partido Democrata após o movimento Black Lives Matter. Mas após a primária, Biden acolheu a esquerda em sua coalizão e em seu governo.

Trump, por outro lado, em meio ao constante fluxo de exageros, falsa nostalgia, bravatas selvagens e ameaças mal disfarçadas, mudou o tom quando falou sobre o aborto. Nisso, Trump se moveu subitamente para a esquerda de sua própria base. O objetivo, segundo ele, era “tirar o aborto do governo federal”.

Esta é a mudança de Trump sobre o aborto. Ao contrário de outros republicanos, ele está dizendo que o objetivo não era, e não é, uma proibição nacional do aborto. O objetivo era permitir que os estados decidissem por si mesmos, e agora eles estão.

A única vez que você pode ouvir a multidão vaiar Trump é durante seu discurso sobre esse assunto. Mas ele não recua. Não sei se o esforço de Trump para se mover para o centro em relação ao aborto funcionará, mas ele definitivamente vai tentar, mesmo que isso ofenda sua base. Há alguma questão na qual Biden está fazendo o mesmo?

Biden também é velho demais

Este é o que mais me preocupa. Pesquisas rotineiramente sugerem que maiorias de 70% a 80% acham que Biden é muito velho para ser presidente. Os receios sobre a idade de Biden aumentaram após o relatório de um conselheiro especial questionar sua memória.

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Eu argumentei na época que os democratas deveriam considerar nomear outro candidato em uma convenção aberta. Mas Biden fez um discurso animado no Estado da União no qual ele parecia mais enérgico e francamente mais jovem do que em anos anteriores. Isso silenciou seus críticos, pelo menos por um tempo.

Mas Biden tem dias bons e dias ruins na campanha. Seu discurso no Estado da União foi forte. Sua entrevista recente na CNN foi mais fraca. Muitos eleitores o veem apenas ocasionalmente a partir de trechos recortados, e, especialmente se estão obtendo suas notícias através das redes sociais, YouTube ou TikTok, estão vendo muitos trechos dos piores momentos de Biden.

A visão otimista é que uma ou duas performances fortes em debates o farão ganhar um apoio incomum. A visão pessimista é que muitos eleitores concluíram que Biden não está à altura do cargo. Os democratas têm dito a eles que estão errados, mas dizer aos eleitores que estão errados é uma boa maneira de perder uma eleição.

Apoiadores de Donald Trump em um evento de campanha em Racine, Wisconsin Foto: Scott Olson/Getty Images via AFP

Os democratas precisam reinventar Trump

“Biden não está concorrendo contra Deus”, como Bernie Sanders disse. “Ele está concorrendo contra Donald Trump.” Há um ano, os democratas estavam bastante confiantes de que, à medida que a possibilidade de uma presidência de Trump se aproximava, os eleitores perceberiam o que estavam arriscando e voltariam para Biden. Isso parece menos provável a cada dia que passa.

O erro que os democratas continuam cometendo sobre Trump é assumir que o resto do país verá Trump como eles veem Trump. Mas o republicano venceu em 2016, e ele chegou assustadoramente perto em 2020; sem a pandemia, ele poderia muito bem ter sido reeleito.

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O que os democratas querem fazer em 2024 é concorrer contra a ameaça que Trump representa para a democracia americana. “Se a democracia ainda é a causa sagrada da América, essa é a questão mais urgente de nosso tempo. E é disso que se trata a eleição de 2024″, disse Biden em 5 de janeiro, no discurso que marcou o início de sua campanha de reeleição. Mas não está funcionando. Ou, pelo menos, não está funcionando bem o suficiente.

Há outras maneiras de concorrer contra Trump: Ele cortou impostos para os ricos e tentou cortar o Medicaid para os pobres. Ele reduziu o financiamento da polícia antes de uma onda de crimes e acabou com o grupo de preparação para pandemias do Conselho de Segurança Nacional antes de a Covid-19 atingir o país.

Ele disse às empresas de petróleo para lhe darem um bilhão de dólares porque receberiam tratamento preferencial se ele for reeleito. Seu genro, Jared Kushner, recebeu US$ 2 bilhões da Arábia Saudita para financiar sua empresa de capital de risco. As violações flagrantes de normas democráticas e decência básica de Trump muitas vezes ofuscam as maneiras banais pelas quais ele governou, ou deixou outros governarem, de maneiras cruéis, estúpidas e corruptas.

Atualmente, a campanha de Biden tem muito mais dinheiro do que a campanha de Trump; a campanha deveria usá-lo para redefinir o republicano das formas que interessam para os eleitores de que Biden precisa.

O presidente está certo sobre o que disse em 5 de janeiro: Preservar a democracia é a questão mais urgente de nosso tempo. Mas isso significa fazer o que for necessário para vencer Trump, mesmo que não seja o que os democratas querem fazer para vencer Trump.

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O que temo que os aliados de Biden farão é negar as pesquisas até que os democratas acordem, como já fizeram antes, para a chocante notícia de que Trump venceu. Isso seria um pecado contra a causa que eles afirmam ser sagrada. O primeiro passo para vencer é mudar de rumo quando se está perdendo.

Opinião por Ezra Klein*

Ezra Klein é colunista de opinião do NYT, apresentador do podcast The Ezra Klein Show e autor de Why we're polarized?'(Por que estamos polarizados?)

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