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Por que Donbas é alvo das forças russas?

Após fracasso em tomar Kiev, Moscou reordena tropas e fala em “libertação completa” das repúblicas separatistas do leste ucraniano; entenda por que a região se tornou foco

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Por Sammy Westfall e Claire Parker, The Washington Post
Atualização:

A Rússia lançou nesta terça-feira, 19, uma ofensiva terrestre no leste da Ucrânia. É uma campanha que buscará “a libertação completa das repúblicas de Donetsk e Luhansk”, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, referindo-se aos dois enclaves separatistas que compõem a região mais ampla de Donbas, na Ucrânia.

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Donbas, região rica em energia, na fronteira ocidental da Rússia, tem sido um ponto de conflito entre os dois países – com Moscou apoiando os separatistas há anos. Dias antes de invadir a Ucrânia em fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu formalmente a independência de Donetsk e Luhansk, marcando o fim das frágeis negociações de paz poucos dias antes do início da guerra.

Para Moscou, uma vitória em Donbas seria uma boa saída para sua ofensiva fracassada no norte da Ucrânia. Também daria à Rússia uma parte crítica do território ucraniano, privando Kiev de seu coração industrial.

Entenda o que está ocorrendo na região e porque isso importa.

Soldado ucraniano próximo a Trokhizbenka, região de Luhansk, no dia 2 de fevereiro deste ano. Área tem conflito entre tropas ucranianas e separatistas desde 2014 Foto: Tyler Hicks / NYT

Por que Donetsk e Luhansk importam para a Rússia?

Putin descreveu russos e ucranianos como “um só povo”, escrevendo em um ensaio compartilhado no site do Kremlin em julho que “a verdadeira soberania da Ucrânia só é possível em parceria com a Rússia”.

“A Ucrânia nunca teve seu próprio Estado autêntico”, disse Putin durante um discurso em fevereiro no qual mergulhou na história soviética para minar a ideia da Ucrânia como uma nação independente.

O censo oficial mais recente, em 2001, descobriu que mais da metade da população na Crimeia e em Donetsk identificou o russo como sua língua nativa. Mas definir o leste da Ucrânia como em grande parte de língua russa, e o oeste dominado pelo ucraniano, pode ser visto como uma simplificação excessiva.

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Muitos no interior da região leste falam ucraniano ou uma mistura russo-ucraniana chamada Surzhyk. A guerra levou um número crescente de falantes de russo na Ucrânia a abandonar o idioma como parte de uma rejeição ao conceito de Putin de “Russky Mir”, ou um “mundo russo”, que inclui a Ucrânia.

Ainda assim, Putin invocou repetidamente a ideia da identidade regional distinta de Donbas como base para “defender” seu povo de língua russa de uma Ucrânia supostamente intolerante. Os separatistas também capitalizaram essa identidade para alimentar o apoio e a rebelião contra Kiev.

Na região de Donbas controlada por Kiev, a maioria quer que as regiões separatistas retornem à Ucrânia. Na área controlada pelos separatistas, mais da metade quer se juntar à Rússia, com ou sem algum status autônomo, de acordo com uma pesquisa publicada em 2021.

Mariupol - sede da fábrica Azovstal Iron and Steel Works, onde ucranianos resistem - é uma das últimas áreas urbanas de Donetsk que não estão totalmente sob controle russo. Capturá-la daria às forças russas uma ponte terrestre entre a Rússia e a Península da Crimeia.

Moscou também vê a Ucrânia como uma zona tampão para a Otan, fundada em 1949 para proteger os integrantes contra a agressão soviética. Putin disse que a expansão da Otan para o leste era uma linha vermelha para ele.

Qual é a história de Donbas?

As ligações históricas entre a Rússia e a Ucrânia remontam ao século IX – algo que Putin falou repetida e estrategicamente.

A região de Donbas tem uma longa herança industrial, com forte capacidade de mineração e produção de aço, além de grandes reservas de carvão.

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No início de 2014, depois que protestos em massa na Ucrânia derrubaram um presidente pró-Moscou, a Rússia invadiu e anexou a península da Crimeia – ação que a Europa e os Estados Unidos consideraram ilegal. Separatistas apoiados por Moscou também tomaram as regiões de Donetsk e Luhansk. Lá, os rebeldes tomaram prédios do governo e proclamaram novas “repúblicas populares”.

A crise aumentou e os separatistas pró-Rússia em Donetsk e Luhansk realizaram um referendo para declarar a independência. Kiev e o Ocidente acusaram a Rússia de apoiar os rebeldes com tropas e armas, mas Moscou diz que os combatentes são voluntários. Os confrontos entre os separatistas e as forças apoiadas por Kiev continuaram.

Em 2015, a Rússia e a Ucrânia concordaram com o acordo de paz de Minsk, plano intermediado pela França e pela Alemanha para encerrar o conflito entre Kiev e os separatistas. Sob o acordo, a Ucrânia daria às duas regiões um status especial e autonomia significativa em troca de recuperar o controle de sua fronteira com a Rússia.

Mas as negociações pararam. Putin diz que a Ucrânia não tem intenção de implementar os termos do acordo. A Ucrânia diz que um acordo em termos russos daria a Moscou o poder de influenciar a política externa da Ucrânia e minar sua soberania.

O reconhecimento formal de Putin das repúblicas populares de Donetsk e Luhansk em 21 de fevereiro sinalizou o fim de um acordo de paz de sete anos.

O fracasso do acordo de Minsk diminui as esperanças de um acordo de paz duradouro para acabar com os combates atuais, dizem analistas. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, acusou a Rússia de matar civis em lugares como o subúrbio de Bucha, onde a Ucrânia disse que valas comuns e corpos na rua apontam para evidências crescentes de massacres. Mesmo antes da invasão russa, Moscou havia emitido 800 mil passaportes russos nas regiões separatistas.

O que aconteceu em Donbas desde o começo da guerra?

Donbas foi dividida em regiões separadas controladas pelo governo e pelos separatistas desde a primeira invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2014. Naquela época, a Rússia apreendeu e anexou a Península da Crimeia, depois emprestou seu apoio a uma onda de protestos pró-Moscou em Donbas que rapidamente se transformou em uma luta separatista.

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O conflito custou cerca de 14 mil vidas, mesmo antes da guerra atual. De acordo com algumas estimativas, cerca de 4 milhões de pessoas viviam nas partes separatistas de Donetsk e Luhansk antes da invasão russa em fevereiro. Mais de 2 milhões de pessoas fugiram.

Ainda assim, os separatistas reivindicam toda a região como sua, incluindo Mariupol, que as forças russas sitiaram por semanas. A operação teve um preço devastador, com milhares de mortos.

A Rússia redistribuiu armas e tropas e intensificou os ataques no leste depois que suas forças não conseguiram capturar Kiev. As forças russas estão aprendendo com seus erros, diz o Pentágono, reunindo tropas e suprimentos por semanas para se preparar para a nova ofensiva terrestre.

O combate mais pesado atualmente se concentra em Popasna, uma cidade entre Luhansk e Donetsk, que estava sob controle ucraniano antes da invasão russa, segundo uma autoridade do Pentágono. O funcionário previu que as forças russas pretendem se mudar de Izyum – cidade ao longo da fronteira oeste de Donbas – a sudeste de Slovyansk e Popasna.

Tropas russas tomaram o controle de Kreminna, outra cidade em Donbas, disse o governador regional de Luhansk na terça-feira. Ele disse que os moradores que permanecem na cidade agora são “reféns”.

O controle de Kreminna pode permitir que as forças russas se movam em direção a Kramatorsk, capital da região. Um ataque a uma estação de trem neste mês matou pelo menos 50 pessoas, segundo autoridades.

*Robyn Dixon, Isabelle Khurshudyan, David L. Stern, Karoun Demirjian e Ruby Mellen contribuíram para a reportagem.

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