Por que é tão difícil derrotar Donald Trump; leia a análise

A primeira pesquisa do New York Times/Siena sobre as primárias do Partido Republicano mostra que o ex-presidente ainda comanda uma base aparentemente inabalável de apoiadores leais

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Por Nate Cohn

THE NEW YORK TIMES — No meio século das primárias presidenciais modernas, nenhum pré-candidato que superou em pesquisas seu principal concorrente neste estágio da pré-campanha por 20 pontos percentuais já perdeu a disputa pela indicação do seu partido como candidato presidencial.

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Hoje, a liderança de Donald Trump é quase duas vezes maior: de 37 pontos percentuais, de acordo com uma pesquisa New York Times/Siena College a respeito da preferência do eleitorado republicano publicada na manhã desta segunda-feira, 31.

Evidentemente, há ainda bastante tempo até as primárias de Iowa, em janeiro. Os pré-candidatos ainda não subiram ao palanque de debate, e ainda que nenhum postulante com tanto apoio já tenha perdido a indicação republicana à presidência, nenhum jamais enfrentou tantos indiciamentos e investigações criminais quanto Trump.

Máscaras representando o rosto de Trump estão à venda do lado de fora do Wilkie D. Ferguson United States Courthouse, em Miami, Flórida, EUA, em 13 de junho de 2023. Foto: Justin Lane / EFE

Mas mesmo que possa ser um erro qualificar Trump como “inevitável”, os dados da pesquisa Times/Siena sugerem que ele comanda uma base aparentemente inabalável de apoiadores leais, que representa mais de um terço do eleitorado republicano. Sozinha, essa base não é suficiente para garantir a Trump a vitória nas primárias. Mas é grande o suficiente para torná-lo extremamente difícil de derrotar — talvez tão difícil quanto sugere seu registro histórico.

Veja o que nós conhecemos a respeito da profundidade do apoio — e da oposição — a Trump a partir de nossa pesquisa — e por que é tão difícil derrotar o ex-presidente.

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A definição da base trumpista

Ela é populista, conservadora e abastada, convencida de que a nação está à beira da catástrofe. E excepcionalmente leal a Trump.

Conforme constatado aqui, os membros da base trumpista representam 37% do eleitorado republicano. Esses eleitores apoiam Trump “fortemente” nas primárias republicanas e possuem uma visão “muito favorável” em relação ao ex-presidente.

A base trumpista não apoia Trump apesar de suas falhas — o apoia porque parece acreditar que ele não tem nenhuma falha.

Zero por centro — nenhum dos 319 entrevistados que se identificaram como trumpistas — afirmou que Trump cometeu algum crime federal grave. Meros 2% disseram que ele “fez algo errado” ao manipular documentos secretos. Mais de 90% afirmaram que os republicanos precisam lhe dar apoio em face às investigações.

Talvez DeSantis ou outro republicano lhe furte alguns desses eleitores, mas, realisticamente, esse grupo não se dissipará, talvez nem mesmo se Trump acabar preso. Esse grupo é provavelmente o mesmo dos eleitores — 37% — que apoiaram Trump nas pesquisas da Super Terça em 2016; provavelmente o mesmo que o grupo de republicanos — 41% — que o apoiaram em seu ponto mais baixo de aprovação, em janeiro, na esteira das eleições de meio de mandato de novembro.

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Trata-se de uma base de apoio impressionante, mas que ainda não constitui a maioria do eleitorado das primárias republicanas. A maioria dos eleitores das primárias republicanas ou não apoia fortemente Trump na disputa pela indicação presidencial do partido ou não o apoia absolutamente. A maioria também não tem visão “muito favorável” a respeito do ex-presidente. Na teoria, isso significa que existe uma abertura para outro candidato.

Mas com tanto do eleitorado republicano aparentemente devoto a Trump, o caminho para derrotá-lo é excepcionalmente estreito; e requer um postulante que consolide a preponderância do restante do eleitorado republicano. E não é fácil unificar o restante do eleitorado republicano.

As subdivisões do Partido Republicano

É fácil descrever a base trumpista; o restante do eleitorado republicano, não.

Mas, de maneira geral, o restante do eleitorado republicano pode ser dividido em dois grupos.

Há os eleitores que podem não adorar Trump mas permanecem abertos a ele nas primárias e em alguns casos o apoiam em detrimento das alternativas. Trata-se de um grupo que reflete amplamente o eleitorado republicano em geral: é comedidamente conservador, favorável a Trump, favorável a DeSantis e hesitante em apoiar o ex-presidente, pelo menos neste primeiro momento.

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Há também um segundo grupo que provavelmente não apoiará Trump. Esses eleitores representam cerca de um quarto do eleitorado das primárias republicanas e afirmam que não consideram votar nele nas primárias. Esse grupo costuma ser escolarizado, bem posicionado economicamente, moderado e com frequência agrega mais do que céticos em relação a Trump.

A maioria desses eleitores o considera desfavoravelmente, afirma que ele cometeu crimes e não o apoiaria se tivesse de escolher entre ele e o presidente Joe Biden na eleição geral, seja por preferir o líder democrata ou simplesmente por não ir votar.

Esses dois grupos de eleitores não se distinguem apenas em relação a Trump; eles também discordam a respeito de questões de governo. Céticos em relação a Trump apoiam mais ajuda militar e econômica à Ucrânia assim como uma ampla reforma na imigração, enquanto se opõem ao banimento ao aborto após seis semanas de gestação. Os eleitores capazes de se deixar convencer, por outro lado, assumem posições opostas sobre todos esses temas.

Mas para superar Trump, um pré-candidato republicano tem de, alguma maneira, unir todos esses eleitores.

O candidato republicano à presidência, ex-presidente Donald Trump, gesticula ao sair de um comício de campanha no sábado, 29 de julho de 2023, em Erie, Pensilvânia. Foto: Sue Ogrocki / AP

O desafio DeSantis

Seria difícil para qualquer pré-candidato consolidar a fraturada oposição a Trump, o que certamente tem sido difícil para DeSantis, o governador da Flórida.

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No começo do ano, pareceu que ele tinha descoberto uma fórmula para conquistar tanto conservadores quanto moderados céticos em relação a Trump colocando foco em uma série de temas — a luta contra a “lacração” e suas frouxas restrições anticovid-19. Isso parecia animar doadores do establishment e ainda mais eleitores independentes, tanto quanto ativistas conservadores e comentaristas da Fox News.

Mas a coisa não foi tão bem. A luta contra a lacração ofereceu poucas oportunidades de atacar Trump — a não ser em estranhos vídeos em redes sociais — enquanto a relevância política da pandemia desapareceu.

Sem esses temas, DeSantis tornou-se um tipo muito familiar de conservador republicano. Como na pré-campanha de Ted Cruz em 2016, DeSantis se voltou para a direita de Trump em relação a todos os temas. Ao fazê-lo, ele tem se deparado com dificuldades para convencer eleitores mais moderados que representam a base natural de uma oposição a Trump.

DeSantis está desempenhando mal entre céticos em relação a Trump o suficiente para dar abertura a outros postulantes da mesma forma que o conservadorismo de Cruz criou espaço para as pré-candidaturas definitivamente não viáveis de John Kasich, Marco Rubio e Jeb Bush.

Em geral, DeSantis concentra apenas 32% dos eleitores republicanos que não consideram Trump, com personagens como Chris Christie, Tim Scott, Mike Pence, Nikki Haley e Vivek Ramaswamy atraindo, cada, entre 5% e 10% das intenções.

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Entre o grupo dos “Trump Jamais”, que não apoiariam o ex-presidente contra Biden numa possível reedição de sua disputa, DeSantis se coloca à frente de Christie apenas por 16% a 13%.

Evidentemente, o desafio de DeSantis é muito mais profundo que as divisões entre seus possíveis apoiadores. Eleitores republicanos de primárias não acreditam nem que ele desempenharia melhor que Trump na eleição geral contra Biden, o que reverte uma vantagem que os apoiadores de DeSantis podem ter considerado assegurada seis meses atrás.

E DeSantis enfrentaria uma série de desafios inteiramente diferentes se quisesse convencer os eleitores mais céticos em relação a Trump, poderia alienar o mainstream conservador do Partido Republicano se começar a falar a língua dos críticos de moderados ou totais ao ex-presidente — e se deparar com o mesmo destino de Rubio e Kasich.

A promessa da campanha de DeSantis era que ele seria capaz de convencer distintas facções antitrumpistas no Partido Republicano e evitar os desafios que acometeram os oponentes de Trump oito anos atrás. Até aqui, a estratégia não tem funcionado. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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