Houve uma época, não faz muito tempo, em que os jovens pareciam destinados a ser liberais para sempre. Os americanos na adolescência e na faixa dos 20 anos ficavam à esquerda de seus pais em questões sociais. Eles se preocupavam com a pobreza. E votavam sistematicamente nos democratas. Em retrospecto, nós nos referimos a este período como os anos 60. E eles não duraram muito, muito menos para sempre. Menos de uma geração depois que os jovens marcharam pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã, votaram de forma avassaladora em Ronald Reagan. Hoje, é claro, os jovens são novamente liberais, e parece que o serão para sempre. Eles apoiam o casamento de pessoas do mesmo sexo, a legalização da maconha, leis mais duras contra a posse de armas, cidadania para imigrantes ilegais e um governo atuante que combata a mudança climática e a desigualdade. O Partido Republicano, como todos provavelmente já notaram, não. Mas o caráter temporário dos anos 60 seria um bom lembrete de que a política muda. O que parece permanente pode se tornar fugaz. E o Partido Democrata, a despeito de sua força entre americanos com menos de 40 anos, tem algumas vulnerabilidades sérias também. Em poucas palavras, os democratas controlam a Casa Branca (e por enquanto o Senado) num momento em que os Estados Unidos estão em dificuldades. O crescimento econômico tem sido desapontador nos últimos 15 anos. A maioria dos americanos acha que o país está no caminho errado. A política externa americana parece, com frequência, confusa e complexa, para falar o mínimo. Para os americanos na faixa dos 20 e início dos 30 anos - os chamados "milenares" - muitos desses problemas têm suas raízes na presidência de George W. Bush. Mas pensem nas pessoas que nasceram em 1998, os eleitores potencialmente mais jovens na próxima eleição presidencial. Eles eram jovens demais para se lembrar muito da era Bush ou da empolgação que cercou a primeira campanha presidencial de Barack Obama. E estão ficando adultos com um presidente democrata que muitas vezes parece incapaz de resolver os problemas mundiais. "Vivemos um momento em que o governo federal simplesmente não está desempenhando e isso não pode ser bom para os democratas", diz Paul Taylor do Pew Research Center, autor de um livro lançado recentemente sobre política geracional. Identidades ideológicas. Pesquisas acadêmicas revelaram que as gerações têm, de fato, identidades ideológicas. As pessoas são particularmente moldadas por acontecimentos quando começam a tomar consciência do mundo, começando com jovens de até 10 anos de idade, como nota uma nova análise dos cientistas políticos Yair Ghitza e Andrew Gelman. Minha colega Amanda Cox criou um gráfico interativo online, com base na análise, que permite rastrear as visões políticas de cada ano de nascimento desde 1937. Como a raça adiciona uma variável, o gráfico se aplica mais confiavelmente a brancos. A geração que se tornou adulta durante os cinco mandatos presidenciais de Franklin D. Roosevelt e Harry Truman pendeu para os democratas durante sua vida inteira. O mesmo se pode dizer daqueles jovens liberais dos anos 60, que conheceram a política americana via o glamour de John F. Kennedy. Os bebês do fim dos anos 60 e início dos 70, que entraram na consciência política durante os anos Reagan, tendem para os republicanos. Pensem em Alex P. Keaton, o filho conservador de hippies da série cômica de TV dos anos 80 Caras & Caretas. Estas identidades são um guia mais útil da política americana do que o clichê cada vez mais inútil de adultos começam liberais e se tornam lentamente conservadores. Como um relógio quebrado, esse clichê pode parecer preciso, às vezes, sobretudo graças à sorte. Entre os adolescentes de hoje, os democratas começam com algumas grandes vantagens. Em primeiro lugar, a próxima geração de eleitores é um grupo etnicamente diversificado: cerca de 45% dos cidadãos americanos na adolescência são ou latinos ou membros de uma minoria racial, ante apenas 29% de cidadãos com 20 anos ou mais. E os republicanos continuam tendo dificuldades com não brancos de uma maneira que pode transcender identidades de gerações. Quase 35 anos se passaram desde que Ronald Reagan teria dito: "Os hispânicos já são republicanos. Eles apenas não sabem disso". Seu raciocínio era o de que os eleitores hispânicos seguiriam o mesmo caminho político de grupos imigrantes anteriores, como os italianos e os irlandeses, e se moveriam para a direita à medida que fossem assimilados. Mas Reagan parece ter errado neste ponto: apesar de os hispânicos - como os asiáticos - estarem sendo assimilados, seu apoio aos democratas persiste. Muitos ainda parecem decididamente afastados pelas atitudes do envelhecido Partido Republicano branco. Se esses grupos permanecerem liberais, como os afro-americanos e os judeus, a aritmética demográfica diz que os democratas serão favoritos para vencer as eleições presidenciais no futuro previsível. No entanto, com essa vantagem vem um tipo bizarro de problema. Os democratas são o partido majoritário quando os EUA estão encrencados. O presidente Obama e muitos outros democratas argumentam que poderiam ajudar a resolver essas dificuldades se os republicanos no Congresso não estivessem bloqueando cada proposta democrata. Os democratas venceram basicamente esse debate em 2012, e provavelmente serão favoritos para vencê-lo novamente em 2016. Mas a situação ficará mais difícil a cada ano que passa se os níveis de vida não começarem a crescer num ritmo saudável para a maioria dos lares - o que não acontece desde os anos 90. Esta dinâmica provavelmente será a maior fraqueza de Hillary Clinton, seja como candidata ou como presidente. Falar sobre o boom da era Clinton nos anos 90 - como ela certamente fará para se distanciar da economia atual - só funcionará com eleitores jovens demais para ter alguma lembrança dos anos 90. Alguns analistas políticos acreditam que os adolescentes já estão mostrando menos lealdade ao Partido Democrata do que americanos na faixa dos 20 anos, com base em dados de uma pesquisa divulgada recentemente. Minha impressão é que seus argumentos repousam em amostras de pequeno porte e barulhentas, e Taylor, do Pew Research Center, também é cético. Mas a questão maior persiste: os democratas enfrentam desafios com os adolescentes de hoje que não enfrentavam com os que hoje estão com 25 ou 30 anos. Por todas as medidas, o segundo mandato de Obama não teve as empolgações políticas do primeiro, quando os democratas estavam aprovando legislações radicais e o Tea Party saltou em resposta. Mas a natureza geracional da política significa que o segundo mandato de Obama ainda terá um peso político enorme. Se ele puder executar seus objetivos básicos - se a economia melhorar, e suas políticas de saúde, educação e climáticas parecem estar basicamente funcionando -, eles darão dividendos políticos nas próximas décadas. Podemos não saber quem estará disputando a presidência em, por exemplo, 2024, mas sabemos que Obama, como seus antecessores, ainda estará lançando uma sombra sobre a sua campanha. / Tradução de Celso Paciornik*David Leonhardté jornalista
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