Por que Liz Truss renunciou e o que isso significa para o Reino Unido?

Consequências da saída pode significar desde um retorno de Boris Johnson até a realização de eleições gerais; entenda

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Por Leo Sands e Adela Suliman

LONDRES - Depois de 45 dias como primeira-ministra, a maior parte dos quais passou tentando se manter no cargo, Liz Truss renunciou ao cargo nesta quinta-feira, se tornando a ocupante de Downing Street com o menor tempo de serviço em 300 anos de história britânica.

Uma série desastrosa de ferimentos autoinfligidos – que se transformaram em uma espiral política que a engoliu – começou com uma tentativa fracassada da líder do Partido Conservador de reorientar radicalmente a agenda econômica do governo cortando impostos sem dizer como a decisão seria compensada no Orçamento. Isso fez os mercados cambalearem e Truss nunca mais se recuperou.

Liz Truss renunciou ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 45 dias de governo. Foto: Alberto Pezzali/ AP

No final, ela havia se tornado tão impopular que seus colegas legisladores do partido estavam contemplando publicamente planos para substituí-la.

Entenda a seguir como isso aconteceu:

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Por que Liz Truss era tão impopular?

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No final de seu mandato, de acordo com uma pesquisa do instituto YouGov, Truss tinha uma avaliação negativa de 70%. Se esse número continuasse em queda, ela estaria a caminho de ultrapassar o presidente russo, Vladimir Putin, que tem uma avaliação negativa de 84% entre o público britânico.

Truss tornou-se primeira-ministra em 6 de setembro depois de ser eleita por membros do Partido Conservador para substituir Boris Johnson como líder. Suas duas primeiras semanas incluíram a morte da rainha Elizabeth II e foram politicamente silenciadas enquanto o país entrava em um período de luto.

Mas em 23 de setembro, seu secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, deu um passo em falso: sem qualquer aviso, revelou uma mudança significativa na estratégia econômica do país, prometendo reduzir impostos para os mais ricos e as maiores corporações – sem planos de como compensar esse rombo no Orçamento.

Quase imediatamente, a libra britânica despencou, o banco central do Reino Unido foi forçado a aumentar as taxas de juros e o custo das hipotecas disparou. A inflação – já em níveis recordes – elevou ainda mais o custo de vida, destruindo a reputação de responsabilidade fiscal do Partido Conservador.

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Alguns eleitores da classe trabalhadora que foram atraídos pelos conservadores pela adesão ao Brexit ficaram desanimados por um sentimento renovado de que o partido representava apenas os interesses das elites financeiras.

Truss fez tão poucas aparições públicas nos dias que se seguiram que um de seus ministros, substituindo-a durante uma aparição no Parlamento, disse aos legisladores que a primeira-ministra “não estava escondida debaixo de uma mesa” - uma garantia que conseguiu apenas levar as pessoas a imaginar ela fazendo exatamente isso.

Quantos funcionários foram demitidos sob Truss?

Três. Incluindo 50% de seus ministros mais antigos em uma única semana.

Primeiro foi Kwarteng, o arquiteto da visão de Truss para o crescimento econômico e um aliado político de longa data. Truss o demitiu na sexta-feira e o substituiu por Jeremy Hunt, o quarto secretário do Tesouro do Reino Unido em alguns meses. Com os mercados agitados após o desastroso “mini-orçamento” de Kwarteng, a decisão não foi uma surpresa para uma primeira-ministra em busca de maneiras de conter o sangramento de sua autoridade política.

Em seguida, foi a secretária do Interior, Suella Braverman, que renunciou na quarta-feira. Essa renúncia foi inesperada: aparentemente, foi devido a uma violação técnica do código ministerial depois que Braverman enviou documentos secretos de seu e-mail pessoal. Mas em uma carta de demissão, Braverman deixou claro que estava descontente com a direção do governo de Truss.

A secretária do Interior Suella Braverman se demitiu na quarta-feira, 19. Foto: Paul Ellis/ AFP

Se perder dois ministros em menos de uma semana não foi drama suficiente, veículos britânicos informaram na quarta-feira que o principal assessor de Truss, Jason Stein, havia sido suspenso após criticar anonimamente colegas legisladores conservadores a repórteres.

O secretário de imprensa de Truss se recusou a comentar, mas disse que a premiê acredita que certos briefings de mídia sobre colegas parlamentares foram “completamente inaceitáveis”.

O que um voto sobre fracking tem a ver com a baixa confiança na Truss?

O último dia completo de Truss no cargo foi marcado por uma votação caótica sobre fraturamento hidráulico, ou “fracking”, uma técnica utilizada para realizar perfurações para a extração de gás.

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Percebendo a chance de desferir um golpe político, o Partido Trabalhista, de oposição, apresentou uma moção na quarta-feira no Parlamento para proibir o fraturamento hidráulico, uma questão controvertida para os conservadores.

Liz Truss foi pressionada por aliados e opositores na quarta-feira, 19, aprofundando a crise política de seu governo. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido via AP

O partido inicialmente tentou transformar a votação em uma demonstração de força para o governo de Truss, ameaçando os parlamentares de expulsão do partido se não votassem contra a moção trabalhista.

Mas, à medida que os relatos de crescente dissidência dentro do partido aumentavam, os líderes conservadores pareciam recuar na ameaça. O resultado foi uma cena de puro caos, com poucos legisladores sabendo o significado da votação. Os legisladores conservadores foram “manipulados” na câmara parlamentar para apoiar o governo, informou o Daily Telegraph.

A votação acabou sendo realizada, com 40 abstenções conservadoras – que, por algum motivo, incluíam a própria Truss.

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Em uma entrevista ao vivo na televisão naquela noite, um legislador conservador, Charles Walker, descreveu a situação como uma “desgraça absoluta”, culpando colegas “sem talento” por apoiarem a tentativa de Truss de se tornar líder – “não porque seja do interesse nacional, mas porque é de seu interesse pessoal alcançar a posição ministerial”.

O que vem a seguir para a política do Reino Unido?

O Partido Conservador, dividido, agora votará em quem entre seus legisladores deve substituir Truss.

“Concordamos que haverá uma eleição de liderança a ser concluída na próxima semana”, disse Truss ao anunciar sua renúncia. “Permanecerei como primeira-ministra até que um sucessor seja escolhido.”

Ex-premiê é um dos cotados a assumir o governo britânico após breve período afastado de Downing Street. Foto: Henry Nicholls/ REUTERS - 07/07/2022

Figuras políticas como o ex-secretário das Finanças Rishi Sunak, que em setembro perdeu a disputa pela liderança conservadora para Truss, a secretária Penny Mourdant e até o ex-primeiro-ministro Boris Johnson foram elogiados.

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Se eles não puderem decidir dentro de seu partido, o Reino Unido poderá ir a uma eleição geral. Isso tende a favorecer o Partido Trabalhista, que viu sua popularidade disparar nas últimas semanas, graças a Truss. Também permitiria ao público uma escolha democrática, uma vez que Truss nunca foi eleita pelo voto popular e foi indicada por membros conservadores.

O que a alface e o tofu tem a ver com o drama do Reino Unido?

Os vegetais entraram em cena. Um dia antes de deixar o cargo no gabinete de Truss, a secretário do Interior, Braverman, criticou em uma fala no Parlamento os “radicais que leem o The Guardian e comem tofu”.

Seu comentário, destinado a insultar os liberais de esquerda, gerou músicas, memes e piadas online, adicionando combustível às guerras culturais.

E à medida que a credibilidade de Truss desmoronava, as colunas de jornais britânicos zombavam dela, prevendo que sua carreira teria “a vida útil de uma alface”, que é de cerca de 10 dias.

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Um tabloide, o Daily Star, deu um passo adiante, montando um vídeo ao vivo de 24 horas de uma cabeça de alface (às vezes vestida de peruca ou óculos) ao lado de uma foto de Truss, perguntando aos espectadores qual murcharia primeiro.

Na quinta-feira, na hora do almoço, a alface ganhou.

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