OTTAWA - No início do mês, o governo do Canadá anunciou seu plano de atrair até 1,45 milhão de imigrantes para o país até 2025, aumentando gradativamente a recepção dessas pessoas a cada ano. O motivo é a escassez de mão de obra e a necessidade de acelerar a economia do país após a pandemia. Segundo o governo, a migração é responsável por todo o crescimento econômico do Canadá e em breve será responsável também pelo crescimento populacional.
“Olha, pessoal, é simples para mim. O Canadá precisa de mais pessoas”, disse Sean Fraser, ministro da Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, em entrevista coletiva no dia 1º de novembro. O governo está procurando impulsionar um mercado de trabalho que deixou quase um milhão de vagas abertas com as consequências da pandemia de coronavírus, disse ele.
O plano é receber 456 mil pessoas em 2023, aumentando para 500 mil em 2025. Em 2021, o Canadá recebeu 405 mil imigrantes, segundo dados do departamento de imigração, o maior número já registrado em um ano.
“Estamos desenvolvendo isso e definindo metas mais altas nos próximos anos, porque a imigração é fundamental para o crescimento de nossa economia e para ajudar as empresas a encontrar os trabalhadores de que precisam”, tuitou o primeiro-ministro Justin Trudeau no dia do lançamento do plano.
O plano surgiu uma semana depois que a agência responsável pelo Censo canadense revelou que um em cada cinco canadenses é imigrante. “Os canadenses entendem a necessidade de continuar a aumentar nossa população se quisermos atender às necessidades da força de trabalho, se vamos reequilibrar uma tendência demográfica preocupante e se vamos continuar reunindo famílias”, afirmou Fraser.
Envelhecimento e baixa natalidade
Entre as tendências preocupantes enumeradas pelo ministro estão o envelhecimento da população e uma onda iminente de aposentadorias. Segundo o Censo, o número de pessoas que se aproximam de aposentar está em níveis recordes.
“Se não fizermos algo para corrigir essa tendência demográfica, a conversa que teremos daqui a 10 ou 15 anos não será sobre escassez de mão de obra”, disse. “Será sobre se temos capacidade econômica para continuar a financiar escolas, hospitais e serviços públicos que, muitas vezes, consideramos garantidos.”
Indo na contramão de outros países ocidentais, como o vizinho Estados Unidos, o Canadá há muito adota uma abordagem de atrair imigrantes, visando compensar o impacto das baixas taxas de natalidade e do envelhecimento da população. O país também reformulou algumas políticas para superar as interrupções da migração durante a pandemia. Mesmo o Partido Conservador, que em geral é mais crítico da migração, expressou apoio a esta política do governo.
O país tem cerca de três trabalhadores para cada cidadão aposentado, disse Fraser, descrevendo as metas como sem precedentes para a migração econômica. “Precisamos de mais trabalhadores em todos os setores em todas as regiões do país, independentemente de serem profissionais de saúde da linha de frente, motoristas de caminhão, construtores residenciais ou engenheiros de software”, disse ele.
De acordo com o governo, a proporção de trabalhadores por aposentado no país, que era de sete para um há 50 anos, cairá para dois em cada um até 2035. “A imigração é responsável por quase 100% do crescimento da força de trabalho do Canadá e, até 2032, projeta-se que seja responsável por 100% do crescimento populacional do Canadá”, disse o governo canadense no comunicado de divulgação do plano.
Migração econômica
Embora haja planos semelhantes de migração econômica no mundo, como na Austrália e na Nova Zelândia, a política canadense é mais ambiciosa e facilitada, além de possuir amplo apoio interno. Em geral, o país tem três categorias específicas para admitir imigrantes: por razão econômica, refúgio e reunião familiar. Na categoria econômica, há uma seleção com base em um sistema de pontuações.
Ao longo dos anos, a razão econômica se tornou a maior categoria. Na década de 80, quatro em cada dez imigrantes admitidos eram por razão econômica. Já de 2011 a 2016, essa proporção passou para 6 em 10 imigrantes.
Diferentemente de outros países que também oferecem residência permanente de trabalho, o Canadá não exige que a haja uma empresa “patrocinadora” por trás do trabalhador antes de migrar - embora ter uma oferta garanta mais pontos na seleção final -, mas o país faz uma rigorosa seleção de habilidades e antecedentes criminais.
São atribuídos pontos ao candidato com base em: habilidade no idioma, educação, experiência de trabalho uma oferta de trabalho válida, entre outras. Os candidatos com as maiores pontuações ganham a residência. O governo oferece ajuda de custo, curso de idiomas e busca por trabalho para os selecionados.
A maioria dos novos imigrantes no Canadá chega de países da Ásia e da África, com a agência do censo projetando que, até 2041, um em cada quatro canadenses nascerá nesses continentes./Com informações de NYT e W.POST
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