RAMALLAH - Um dos pontos centrais do polêmico novo plano de paz que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve apresentar nesta terça-feira, 28, ao lado do premiê interino de Israel, Binyamin Netanyahu, deve garantir a Israel a presença definitiva nos assentamentos na Cisjordânia, e também o domínio do Vale do Jordão.
Assim como a capital, Jerusalém, o Vale do Jordão é um dos pontos centrais de discórdia que inviabilizaram um acordo entre isrelenses e palestinos no passado.
O que é o Vale do Jordão?
O Vale do Jordão representa cerca de 30% da Cisjordânia ocupada e se estende ao leste do território ao longo da fronteira com a Jordânia.
A maior parte deste vale faz parte da "Zona C" da Cisjordânia ocupada. Ela representa cerca de 60% de toda Cisjordânia e é administrada, principalmente, por Israel.
Cerca de 10 mil dos 400 mil colonos israelenses estimados na Cisjordânia ocupada vivem atualmente no Vale do Jordão, de acordo com dados do governo e de ONGs israelenses. Esta área é altamente estratégica porque é fronteiriça e o coração de uma indústria agrícola.
Aproximadamente 65 mil palestinos vivem no Vale do Jordão, segundo a organização israelense Btselem.
O domínio da Cisjordânia tem sido o coração do conflito palestino-israelense. Israel construiu ali 140 assentamentos que são considerados ilegais sob o direito internacional - o país nega qualquer ilegalidade.
O vale em questão vai da cidade israelense de Beit Shean (90 km ao norte de Jerusalém) até o extremo norte do mar Morto, cobrindo cerca de 2.400 km², quase um terço da Cisjordânia.
Israel se recusa a deixar o vale do Jordão alegando razões de segurança. Jericó é a principal cidade palestina da região, que tem pouco menos de 30 localidades menores e algumas comunidades beduínas.
Atualmente, os palestinos estão proibidos de entrar ou usar aproximadamente 85% do território, de acordo com o grupo israelense de direitos humanos B'Tselem. Isso ocorre porque a maior parte do território foi designada como 'Área C' sob os acordos de paz de Oslo de 1993, o que significa que está sob controle total de Israel.
Embora o acordo tenha sido assinado em 1993, desde 1967 o Vale do Jordão permanece sob o controle das tropas israelenses, que se recusam a deixar o território alegando questões de segurança.
Controlar o vale do Jordão sempre foi fundamental para Israel. A fronteira entre Israel e a Jordânia é uma espécie de porta para o resto dos países do Oriente Médio.
Nas últimas negociações de paz, o vale foi um ponto de desacordo, já que Israel pretendia permanecer lá por pelo menos meia década e os palestinos queriam reduzir esse tempo. Manter o controle militar é um requisito mínimo de Israel nas negociações.
O que disse Netanyahu?
No ano passado, Netanyahu prometeu anexar a os assentamentos judaicos construídos no Vale do Jordão, um terreno fértil que se estende do sul do Mar da Galileia ao norte do Mar Morto.
"Há um lugar onde podemos aplicar a soberania de Israel imediatamente após as eleições", disse Netanyahu, apontando no mapa para o Vale do Jordão. "Hoje anuncio minha intenção de aplicar, com o próximo governo, a soberania de Israel sobre o vale do Jordão e o norte do Mar Morto.”
Ele explicou que a anexação não incluiria cidades ocupadas por palestinos, como Jericó, que seriam cercadas.
De acordo com Netanyahu, o plano de paz que o governo americano de Donald Trump apresentará em breve oferece uma oportunidade "histórica e única" para esta anexação.
Ele já disse algo parecido?
Sim e não. Alguns dias antes das eleições de 9 de abril, Netanyahu havia prometido anexar assentamentos judeus construídos na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967. Além disso, declarou recentemente que queria implementar a "soberania israelense" sobre territórios palestinos.
O primeiro-ministro não havia fornecido um cronograma e nem um plano de anexação concreto. Na terça-feira, no entanto, designou especificamente um lugar, o Vale do Jordão, e prometeu agir "imediatamente" após as eleições, se o seu partido - Likud - comandar o governo.
Ao final das últimas eleições, o Likud obteve 35 assentos, de um total de 120 no Parlamento, assim como a coalizão Azul-Branco do seu rival, Benny Gantz./AFP
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