Opinião | Por que Trump não é fascista e o argumento final de Kamala é desonesto e desesperado

Ex-presidente e candidato republicano nunca disse que usaria o Exército contra seus adversários políticos

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Por Marc A. Thiessen (The Washington Post)

Kamala Harris claramente escolheu um argumento final: Donald Trump é um fascista que “chama os americanos que discordam dele de ‘inimigos internos’” e diz que, como comandante em chefe, “ele usaria os militares para persegui-los”. Esta é a estratégia desesperada e desonesta de uma campanha que deve acreditar que está perdendo.

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Como escrevi muitas vezes nestas páginas, não acho que os americanos devam chamar nossos adversários políticos de inimigos — seja quem quer que o faça. A Coreia do Norte é nossa inimiga. A Rússia é nossa inimiga. Os compatriotas americanos que discordam de nós não são.

Mas também é errado distorcer e deturpar o que um adversário diz. Quando Trump usou a frase “inimigos internos” em um comício neste mês em Coachella, Califórnia, ele estava se referindo especificamente ao “desonesto Adam Schiff” — também conhecido como o democrata Adam Schiff, deputado pela Califórnia e ex-presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, que não é uma pessoa que simplesmente discorda de Trump.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Greenvile, Carolina do Norte  Foto: Logan Cyrus/AFP

Schiff, na verdade, passou anos dizendo aos americanos que tinha visto informações secretas indicando que Trump era um fantoche do presidente russo Vladimir Putin, o que acabou se revelando uma difamação cruel. Em uma entrevista de 2017 no “Meet the Press”, Schiff declarou: “Não posso entrar em detalhes, mas há mais do que evidências circunstanciais agora” de que Trump teria conspirado com a Rússia. Quando perguntado por Jake Tapper, da CNN, em uma entrevista de 2018 se os democratas viram evidências de conluio, Schiff respondeu: “Sim, vimos”. Poucos meses depois, ele disse à ABC que o conluio de Trump com a Rússia era um escândalo de “um tamanho e escopo provavelmente maiores que o Watergate”.

O deputado democrata Eric Swalwell (Califórnia), membro do Comitê de Inteligência, foi questionado pelo apresentador da MSNBC Chris Matthews: “Você acredita que [Trump], nesse momento, tem sido um agente dos russos?” Swalwell respondeu: “Sim, acho que há mais evidências de que ele seria um agente”. Incrédulo, Matthews o pressionou: “Um agente como nos anos 1940, quando havia pessoas que eram ‘vermelhas’, para usar um termo antigo? Nesse sentido? Em outras palavras, trabalhando para uma potência estrangeira?” Swalwell respondeu: “Ele está trabalhando em nome dos russos, sim.”

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Um “inimigo de dentro”, em outras palavras. Isso não é tudo. O então senador democrata Harry M. Reid (Nevada) alegou que o FBI tinha “informações explosivas a respeito de laços estreitos e coordenação entre Donald Trump, seus principais conselheiros e o governo russo.” O senador democrata Ron Wyden (Oregon), membro do Comitê de Inteligência, disse: “Não há mais dúvidas de que esta campanha buscou conspirar com uma potência estrangeira hostil para subverter a democracia dos Estados Unidos”. O senador Mark R. Warner (Virgínia), então o principal democrata no comitê de inteligência, declarou haver “enormes quantidades de evidências” de conluio entre Trump e a Rússia.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, conversa com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Todos eles acusaram Trump de ser um inimigo interno — literalmente — trabalhando em nome de uma potência estrangeira. Então, tudo explodiu na cara deles quando o procurador especial Robert S. Mueller III emitiu seu relatório descobrindo que as evidências “não estabeleciam que membros da campanha de Trump conspiraram ou coordenaram suas ações com o governo russo”.

Inimigos

Em seu miasma de indignação, os democratas parecem ter esquecido que vêm demonizando os republicanos como “inimigos” há anos. Durante seu discurso nocivo de 2022 em Atlanta, o presidente Joe Biden acusou os republicanos que se opuseram à sua proposta de controle federal das eleições americanas de apoiar traidores como o presidente confederado Jefferson Davis e os chamou explicitamente de “inimigos” dos EUA, trovejando: “Defenderei o direito de votar e nossa democracia contra todos os inimigos — estrangeiros e, sim, domésticos”. Barack Obama declarou: “Vamos punir nossos inimigos e recompensar nossos amigos que estão conosco em questões que são importantes para nós” (mais tarde, ele admitiu que deveria ter usado a palavra “adversários” em vez disso).

Trump tampouco disse, como Kamala afirma, que usaria o exército americano para perseguir seus adversários políticos. Em seus comícios, Kamala reproduz um clipe editado seletivamente de Trump dizendo em uma entrevista com Maria Bartiromo, da Fox News: “Temos algumas pessoas muito más, temos algumas pessoas doentes, lunáticos radicais de esquerda, e eu acho que eles são os… e isso deve ser facilmente resolvido, se necessário, pela Guarda Nacional ou, se realmente necessário, pelos militares.” Ela então diz aos eleitores: “Então, vocês ouviram as palavras dele. ... Ele está falando sobre considerar qualquer um que não o apoie ou que não se curve à sua vontade um inimigo do nosso país. ... Ele está dizendo que usaria os militares para persegui-los”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício na Filadélfia, Pensilvânia  Foto: Matt Rourke/AP

Não, ele não está dizendo isso. As palavras “em termos do dia da eleição” são omitidas do clipe que ela reproduz, para mascarar o fato de que Trump estava respondendo a uma pergunta a respeito de uma possível agitação no dia da eleição — que ele disse que poderia ser “facilmente resolvida” pela Guarda Nacional. Ela tira a fala dele do contexto para fazer parecer que ele está afirmando algo diferente do que realmente está.

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Isso não é apenas desonesto, é hipócrita. Pelo que me lembro, foram os democratas que acusaram Trump de violar seu juramento de posse por não ter enviado a Guarda Nacional para proteger o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Vamos deixar claro: eu preferiria que Trump não falasse dessa forma. Além de ser ruim para o país, é ruim para a política: essa retórica é como cravar as unhas no quadro-negro para influenciar os eleitores. Mas deturpar suas palavras para sugerir que Trump usaria os militares para atingir os americanos comuns que se opõem a ele é muito mais ofensivo do que isso. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Marc A. Thiessen

Marc Thiessen escreve uma coluna para o Post sobre política externa e interna. Ele é membro do American Enterprise Institute e ex-redator-chefe de discursos do presidente George W. Bush.

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