O socialista António Costa deixou o cargo de primeiro-ministro de Portugal na terça-feira, 7, em meio a um escândalo relacionado com negócios de lítio e hidrogênio no país. Costa anunciou sua renúncia após o Ministério Público português indiciar um de seus ministros e o chefe de seu gabinete no âmbito de uma investigação sobre supostas irregularidades na gestão de projetos energéticos.
A investigação que atinge Costa, um dos poucos socialistas à frente de um governo na Europa, está relacionada com suspeitas de “malversação, corrupção ativa e passiva de funcionários públicos e tráfico de influência”, na atribuição de concessões de minas de lítio e de produção de hidrogênio.
Na terça-feira, o Ministério Público fez uma operação de busca em vários ministérios e no gabinete do primeiro-ministro e anunciou a acusação do ministro de Infraestrutura, João Galamba. O nome de António Costa foi “mencionado pelos suspeitos”, disse o MP em um comunicado, acrescentando que o primeiro-ministro teria intercedido “para agilizar trâmites”.
O presidente do conselho executivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) também está sendo investigado. Em setembro, a APA anunciou a aprovação, com condições, de um segundo projeto de mineração para a exploração de lítio em Portugal, país que possui as maiores reservas deste metal na Europa e é também o maior produtor do continente.
Utilizado para fabricar baterias elétricas e considerado fundamental na transição energética, o lítio é comumente aproveitado no país nas indústrias de cerâmica e vidro.
Dez funcionários já deixaram cargos
Costa, que tem 62 anos e já foi prefeito de Lisboa, chegou ao poder em 2015 impulsionado por uma aliança inédita entre a extrema esquerda e os socialistas.
Durante seu mandato, aproveitou a situação favorável para deixar para trás as políticas de austeridade aplicadas pela direita em troca de um resgate concedido ao país pelos credores internacionais em 2011. Ele também zerou as contas públicas e levou o país a um superávit do orçamento.
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Em janeiro de 2022, obteve uma vitória eleitoral esmagadora que lhe permitiu governar com maioria absoluta. O resultado foi visto como um alívio para Costa, que era popular por gerir a resposta do país à pandemia do coronavírus, mas também enfrentava dúvidas sobre a sua gestão da economia.
Sua popularidade despencou após uma série de escândalos. O mais notório envolveu a companhia aérea estatal TAP, que levou à demissão de ministros e subsecretários. Conhecido como “TAPgate”, o caso estourou há quase um ano, após ter sido revelado que uma executiva de uma companhia aérea recebeu uma indenização de 500 mil euros (cerca de R$ 2,6 milhões). Posteriormente, a funcionária assumiu a direção da empresa pública responsável pelo controle do tráfego aéreo e foi então nomeada secretária de Estado do Tesouro.
Um total de 10 altos funcionários do governo deixaram os seus empregos desde que o partido de Costa venceu as eleições de 2022. Costa disse não ter indicação prévia de que estava sendo investigado pelas autoridades legais. “Esta é uma fase da minha vida que chega ao fim”, disse ele./AFP.
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