Possível uso político e militar de ajuda humanitária externa pressiona Maduro

Presidente ordena fechamento de passagem fronteiriça com a Colômbia, enquanto oposição negocia envio de alimentos e remédios para ajudar venezuelanos e provocar uma cisão nas Forças Armadas

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Por Luiz Raatz e Lu Aiko Otta/ BRASÍLIA

Enquanto a oposição venezuelana acertava com aliados internacionais a entrega de ajuda humanitária na Venezuela para pressionar as Forças Armadas a romper com o presidente Nicolás Maduro, o chavismo reforçou nesta quarta-feira a segurança em pelo menos um posto de fronteira no Estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia. 

Segundo analistas de dentro e de fora da Venezuela, a iniciativa é a segunda etapa da estratégia da oposição, articulada com os Estados Unidos, para provocar cisões entre os militares chavistas e derrubar o presidente Maduro. Com isso, o líder chavista terá de lidar com uma escolha difícil: negar a ajuda, prejudicando ainda mais seu isolamento internacional, ou aceitá-la, concedendo uma vitória política à oposição. Nas duas opções, ainda de acordo com especialistas, ele sai enfraquecido. 

Autoridades venezuelanas bloquearam a ponte Tienditas, na fronteira com a Colômbia, para impedir o envio de ajuda humanitária que a oposição negocia com a comunidade internacional Foto: AP

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“A primeira etapa dessa estratégia foi asfixiar as importações venezuelanas com as sanções ao petróleo, que atingem os negócios dos generais”, diz o professor de relações internacionais da ESPM Leonardo Trevisan. “Na segunda etapa, os militares, que controlam a fronteira e não participam dos negócios da cúpula, olham para situação e pensam: ‘vamos deixar entrar remédios.’”

Ao longo de seu governo, Maduro hipotecou áreas do governo e de empresas estatais para os generais. Hoje, o Exército controla a distribuição de alimentos importados dentro do país e chefia a estatal perolífera PDVSA, responsável por 96% da receita em dólares do Estado venezuelano, além de denúncias de envolvimento com narcotráfico e contrabando. 

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Com isso, a cúpula militar segue fiel a Maduro, apesar de relatos de insatisfação, principalmente entre o baixo oficialato, que sofre mais com a hiperinflação e a escassez. São os soldados que trabalham na fronteira que são o alvo das investidas do líder opositor, Juan Guaidó, que se declarou presidente interino no mês passado após a Assembleia Nacional, de maioria opositora, considerar a eleição que reelegeu Maduro fraudulenta. 

“Uma nova ordem às Forças Armadas: que permitam o ingresso de ajuda humanitária para atender a suas famílias que certamente precisam de alimentos e remédios”, afirmou Guaidó. 

O impasse é agravado pelo fato de a oposição não controlar nenhuma parte do território venezuelano. “A abordagem da oposição e dos EUA é uma estratégia intervencionista, que fere princípios de direito internacional”, acrescenta Trevisan. 

“A Guerra dos Bálcãs e a da Síria deixaram isso claro: é muito difícil fazer a distinção entre um corredor humanitário e uma intervenção militar. E, quando o corredor é utilizado, há uma tendência de que isso ocorra sob a égide da ONU.”

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Ainda não está claro, no entanto, o nível de coesão das Forças Armadas, nem seu grau de lealdade a Maduro. Apenas um general e um coronel romperam publicamente com o governo nos últimos dias. 

“O problema é que o Exército é uma caixa-preta. Ninguém sabe o que acontece lá dentro”, avalia Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, sobre as chances de cisão militar. “A oposição tenta com as sanções e com a oferta de ajuda provocar o governo: ou aceita a ajuda ou impede à força sua entrada, provocando os Estados Unidos.”

Para o coordenador da área internacional do partido de oposição Voluntad Popular, Manuel Avendaño, a entrada de ajuda servirá para medir o grau de lealdade dos generais a Maduro. A resposta, disse ele ao Estado, virá ainda esta semana.

A aposta é na insatisfação dos escalões médios e inferiores da Força. “O momento é agora, soldado da pátria!”, diz um tuíte da Assembleia Nacional. “Vai negar ajuda humanitária, inclusive a sua mãe? Se tem dúvidas, pergunte à sua família. O que é correto? Ajudem a salvar a vida de venezuelanos, que como vocês sofrem de fome e morrem à míngua pelo regime.”

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Nesta quarta-feira, militares fecharam a passagem na ponte de Tienditas, que liga as cidades de Cúcuta, na Colômbia, e Ureña, na Venezuela, com o auxílio de uma cerca improvisada e de carrocerias de caminhões. Maduro nega a possibilidade de aceitar ajuda internacional, considerando-a uma “desculpa” para iniciar uma intervenção militar.

Entidades de ajuda humanitária, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, pediram nesta quarta-feira que a entrega de alimentos e remédios não seja politizada pelos envolvidos na crise. 

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