Preço do petróleo salta 18% após ataques com drones na Arábia Saudita

Ataques reduziram pela metade capacidade do reino saudita de produzir petróleo; país é responsável por 10% da produção mundial

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Por Thomas Heath

Os preços do petróleo subiram nos mercados globais depois que uma onda de ataques com drones no fim de semana limitou à metade a produção de petróleo da Arábia Saudita.

O barril de petróleo Brent está sendo negociado a US$ 70,98 por barril nos mercados futuros de petróleo neste domingo, 15, um aumento de 18% em relação ao fechamento de sexta-feira de US$ 60,15. O petróleo intermediário de referência dos EUA abriu a US$ 61,27 por barril, uma subida de 12%.

Imagem de satélite mostra ataque à refinaria de Abqaiq, na Arábia Saudita Foto: Planet Labs Inc/via REUTERS

Em uma mensagem postada em sua conta no Twitter, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse que autorizou a liberação de petróleo da Reserva Estratégica de Petróleo em uma quantidade a ser determinada. Ele acrescentou que disse às agências governamentais “para agilizar as aprovações de liberação dos oleodutos atualmente em processo de permissão no Texas e em vários outros Estados".

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O ataque à infraestrutura de petróleo da Arábia Saudita provocou uma limitação de produção de 5,7 milhões de barris por dia -quase 6% - dos 100 milhões de barris por dia que o mundo consome.

"Uma interrupção no fornecimento nessa escala é um evento extraordinário", disse Pavel Molchanov, analista de petróleo da Raymond James, ao jornal Washington Post. “Nenhuma interrupção única nessa escala ocorreu em décadas."

Os preços do petróleo nos EUA eram negociados em uma faixa entre US$ 50 e US$ 60 por barril nos últimos seis meses. O petróleo Brent, a referência do mercado global, tem sido negociado um pouco acima desses valores. 

Analistas afirmam que os preços do petróleo podem subir nos próximos dias, como resultado do ataque à empresa de petróleo estatal saudita, Saudi Aramco, que é o segundo maior produtor de petróleo do mundo, com 9,85 milhões de barris por dia em agosto. "Os sauditas estão se esforçando para fazer reparos e manter o óleo fluindo", disse John Kilduff, da Again Capital. "A resposta determinará quão altos os preços chegarão e por quanto tempo."

Refinaria de Buqayq, Arábia Saudita, pegou fogo após ataque Foto: Reprodução/via Reuters

Um aumento nos preços do petróleo provavelmente pesará em uma economia global já em declínio, sofrendo com a guerra comercial entre EUA e China, sanções da Casa Branca contra o Irã e uma expansão econômica de uma década que mostra sinais de deterioração.

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No domingo, autoridades sauditas disseram que apenas um terço dos 5,7 milhões de barris afetados seriam restaurados até segunda-feira, deixando de fora do mercado milhões de barris diários.

Com os gigantes do petróleo Venezuela e Irã na maior parte ausentes dos mercados mundiais, uma interrupção prolongada do fornecimento saudita pode forçar economias industriais como os EUA a explorar reservas de emergência. Existem 1,5 bilhão de barris disponíveis em reservas estratégicas entre as economias industriais.

Atualmente, a Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA possui 645 milhões de barris, o equivalente a cerca de um mês do consumo de petróleo dos EUA.

"A boa notícia é que há mais do que suficiente petróleo em estoque para evitar a escassez de combustível", disse Molchanov. "Não haverá filas nos postos de gasolina como na década de 1970".

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Embora os rebeldes houthis do Iêmen tenham assumido a responsabilidade pelas explosões do fim de semana, os EUA culpam o Irã pelo "ataque sem precedentes ao suprimento de energia do mundo". Teerã negou a responsabilidade.

A última vez que o mundo perdeu uma fatia comparável de seu suprimento de petróleo foi durante a Guerra do Golfo Pérsico de 1991. Como resultado, houve um aumento substancial nos preços globais do petróleo, mas o processo foi gradual porque a guerra era esperada.

Os preços do petróleo resultam de um cuidadoso equilíbrio de oferta e demanda. Os suprimentos estão em grande parte equilibrados este ano, com a produção dos EUA compensando quedas na Venezuela e no Irã.

Mesmo com os Estados Unidos produzindo mais petróleo do que nunca - quase 12 milhões de barris por dia - uma interrupção desta escala pode fazer com que os preços subam nos mercados globais.

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Os americanos estão menos propensos a sofrer com os efeitos de mudanças drásticas porque os avanços tecnológicos aumentaram a produção doméstica de petróleo. A produção de óleo de xisto dos EUA reduziu a demanda doméstica por petróleo do Golfo Pérsico de 3 milhões de barris por dia em 2003 para 1 milhão de barris agora. A economia dos EUA é muito menos dependente da manufatura do que era durante os grandes picos de preço do petróleo nas décadas de 1970 e 1980.

As empresas de petróleo também são um pedaço menor do mercado de ações. O setor de energia representou mais de 20% do valor total da Standard & Poor's 500 na década de 1970. Agora são apenas 4,44%.

Os preços do petróleo têm estado relativamente estáveis nas últimas semanas devido à alta produção e à desaceleração da demanda. Mas disputas comerciais, sanções contra o Irã e o colapso interno da Venezuela contribuíram para a confusão nos mercados de petróleo.

A produção de petróleo nos EUA ajudou a controlar os preços da gasolina. Os americanos este mês tiveram os preços mais baixos do gás no Dia do Trabalho em três anos.

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A Arábia Saudita tem sido o grande estabilizador do setor, com US$ 10 trilhões em petróleo sob suas areias. Mas o reino e outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo não conseguiram limitar a produção o suficiente para manter os preços entre US$ 70 e US $ 80 por barril.

"Este ataque fornece um lembrete severo de que o risco geopolítico para o suprimento de petróleo é muito real", disse Molchanov.