O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira, 29, que ficará no cargo. Sua permanência à frente do governo do país foi posta em xeque após sua esposa tornar-se alvo de investigações, e o próprio premiê havia sugerido que poderia renunciar.
Após a instauração da investigação, na quarta-feira, 24, Sánchez cancelou sua agenda e publicou uma carta na qual afirmou que precisaria “pausar e refletir” antes de tomar uma decisão definitiva sobre sua permanência no cargo.
A crise começou após a sua esposa, Begoña Gómez, tornar-se alvo de uma investigação por suposta corrupção e tráfico de influência. Segundo reportagem do jornal El Confidencial, os investigadores examinam supostos vínculos dela com empresas privadas que teriam recebido recursos e foram beneficiadas com contratos públicos com o governo.
“Decidi continuar, continuar com ainda mais força, se possível”, afirmou Sánchez em uma mensagem ao país no Palácio da Moncloa.
O anúncio acaba com o cenário de incerteza que começou na quarta-feira da semana passada, quando Sánchez disse que teria alguns dias para refletir sobre a renúncia, depois de criticar o “assédio” da direita e da extrema-direita contra sua família, após a divulgação da abertura de uma investigação judicial contra sua esposa, Begoña Gómez, por suposta “corrupção”.
Adepto das ações de grande efeito político, Sánchez cancelou sua agenda pública até esta segunda-feira. Ele não participou nos comícios durante o primeiro fim de semana de campanha para as eleições regionais cruciais de 12 de maio na Catalunha, onde os socialistas tentam retirar os independentistas do poder.
“Mostraremos ao mundo como se defende a democracia, acabemos com esta sujeira da única forma possível, com a rejeição coletiva, serena e democrática, que vai além das siglas e das ideologias, que eu me comprometo a liderar com firmeza como presidente do Governo de Espanha”, acrescentou.
O Ministério Público contestou na quinta-feira, 25, o despacho de um juiz de Madri que aceitou a denúncia enviada pela associação Mãos Limpas —grupo ligado à ultradireita do partido Vox e aos conservadores do Partido Popular (PP).
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A Mãos Limpas reconhece que as acusações se baseiam exclusivamente em informações publicadas por “vários jornais digitais e em papel, e, posteriormente, em talk shows televisivos”, e admitiu que é possível que a sua denúncia se baseie em informações falsas.
As acusações de tráfico de influência vinham sendo publicados desde o final de 2022 por canais de YouTube de direita. As informações foram constantemente negadas pelo PSOE, mas a associação tentou levar o caso aos tribunais por diversas vezes, sem sucesso. O premiê da Espanha também recebeu apoio de aliados internacionais.
Sánchez está à frente do governo da Espanha desde junho de 2018. Em novembro de 2023, ele foi reconduzido ao cargo mesmo sem o PSOE ter maioria no Parlamento.
O partido conservador PP saiu vitorioso das eleições de julho, mas seu líder, Alberto Feijóo, fracassou em negociações para formar um governo. Isso abriu caminho para Sánchez permanecer no poder por meio de um acordo com partidos separatistas —a promessa de anistia a líderes condenados após organizarem um plebiscito sobre a independência da Catalunha em 2017 gerou protestos e abalou a popularidade do premiê.
‘Regenerar a democracia’
No sábado, 27, milhares de apoiadores do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) participaram de uma manifestação em frente à sede da legenda em Madri para pedir a Sánchez que permanecesse no cargo.
As manifestações em Madri e outras regiões da Espanha no fim de semana “influenciaram decisivamente a minha reflexão”, declarou Sánchez, que criticou as “farsas deliberadas” apresentadas pela oposição.
“Assumo diante de vocês o meu compromisso de trabalhar sem descanso, com firmeza e com serenidade pela regeneração pendente da nossa democracia”, acrescentou em seu discurso o líder socialista, que permaneceu em total silêncio nos últimos dias, sem revelar pistas sobre a sua decisão.
Em sua carta aos cidadãos divulgada na quarta-feira, Sánchez, que governa em aliança com a extrema-esquerda e com o apoio dos partidos nacionalistas e independentistas bascos e catalães, repudiou as “denúncias tão escandalosas quanto falsas”, que na opinião dele emanam de uma campanha organizada por “interesses da direita e da ultradireita (...) que não aceitam o veredito das urnas”.
“É uma estratégia de perseguição e demolição”, acrescentou o primeiro-ministro, cujas medidas, como uma lei de anistia para os independentistas que participaram na tentativa de secessão da Catalunha em 2017, enfrentaram a rejeição frontal da oposição de direita.
O conservador Partido Popular, maior legenda de oposição, ridicularizou a mensagem de Sánchez de cogitar uma renúncia e afirmou que era apenas táctica política, para fazer o papel de vítima e reagrupar suas fileiras.
Um chefe de Governo “não pode montar um espetáculo adolescente para que venham atrás e digam que ele não deve sair e que não fique irritado”, ironizou na quinta-feira o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.
O socialista “já representa o passado e não haverá nada épico na renúncia, nem haverá heroísmo na resistência caso permaneça no poder”, afirmou Feijóo no domingo, em uma referência ao livro de Sánchez “Manual da Resistência”. /AFP e EFE
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