OSLO - O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido nesta sexta-feira, 7, a uma pessoa e duas organizações: Ales Bialiatski, ativista de Belarus, a organização de defesa dos Direitos Humanos da Rússia, Memorial, e o Centro das Liberdades Civis, da Ucrânia.
Segundo os organizadores, os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”. “O comitê do Prêmio Nobel quis honrar três campeões dos Direitos Humanos, da democracia e da co-existência pacífica nos países vizinhos Belarus, Rússia e Ucrânia”. Segundo o comitê, os vencedores promovem o “direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos”.
Após algumas decisões polêmicas nos últimos anos, o Comitê vinha se abstendo de comentar questões políticas. Desta vez, defendeu a democracia e a “coexistência pacífica nos países vizinhos: Belarus, Rússia e Ucrânia”.
A decisão foi tomada porque era necessário deixar claro “que estamos falando de dois regimes autoritários e de uma nação em guerra”, afirmou Berit Reiss-Andersen, presidente do grupo, afirmando ser necessário destacar a importância da sociedade civil na promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.
Após o anúncio, o governo de Belarus criticou a escolha de Bialiatski. “Nos últimos anos, as decisões - e falamos do prêmio Nobel da Paz - estão tão politizadas que Alfred Nobel está se revirando em sua tumba”, afirmou o diplomata belarusso Anatoli Glaz.
Quem são os ganhadores do Nobel da Paz de 2022?
Segundo o comitê do Nobel da Paz, os vencedores promovem o “direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos”. Saiba quem são eles:
Ales Bialiatski
Um dos vencedores, Ales Bialiatski, é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador do país, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin.
Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.
Em 1996, ele fundou a Viasna (Primavera), que nos anos seguintes se transformou em uma organização dos direitos humanos que documenta o uso de tortura contra prisioneiros políticos.
Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. A porta-voz da oposição de Belarus afirmou que Bialiatski está atualmente preso “em condições desumanas”.
O líder da oposição no país, Pavel Latushko, disse que o Nobel reconheceu “todos os presos políticos em Belarus”. “(O prêmio) não é apenas para ele (Bialiatski), mas para todos os prisioneiros políticos que temos atualmente em Belarus”, declarou.
“Nossa mensagem é fazer um apelo para que as autoridades belarussas soltem Bialiatski. Nossa esperança é que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prêmio que lhe foi concedido”, disse Reiss-Andersen, antes de admitir que seu pedido dificilmente será ouvido. “Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista.”
Memorial
Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo o vencedor do prêmio Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.
Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas.
No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.
O escritório da Alemanha da organização russa Memorial também falou sobre a premiação, que chamou de “um reconhecimento do nosso trabalho com os Direitos Humanos e especialmente dos nossos colegas na Rússia, que sofreram e sofrem ataques e repressões inomináveis”.
Centro de Liberdades Civis da Ucrânia
O Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.
O Centro teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.
O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o Centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano. Em nota, o centro agradeceu à comunidade internacional pelo apoio.
Em sua conta no Twitter, o Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia declarou estar “orgulhoso” de ser um dos laureados do Nobel da Paz deste ano. “Manhã com boas notícias. Estamos orgulhosos”.
Premiação
O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,7 milhões) será entregue em Oslo em 10 de dezembro, que é a data do aniversário da morte do sueco Alfred Nobel, que fundou os prêmios em seu testamento de 1895.
Este ano foram 343 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz, dos quais 251 indivíduos e 92 organizações. Segundo a Academia da Noruega, foram 14 candidatos a mais do que no ano passado (329) e o segundo maior número de candidatos da história. O recorde atual de 376 candidatos foi alcançado em 2016.
Nobel da Paz
Os nomes dos indicados ao Prêmio Nobel da Paz ficam em sigilo, e só podem ser divulgados depois de 50 anos.
Outros premiados com o Nobel da Paz
No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela “contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países”.
Mais sobre o Nobel da Paz
Maria Ressa é conhecida por ser co-fundadora do Rappler, principal site de notícias que lidera a luta pela liberdade de imprensa nas Filipinas e combate à desinformação, e enfrenta constante assédio político no país. Já Muratov é editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, um dos poucos veículos na Rússia críticos do governo do presidente russo Vladimir Putin, fechado depois do endurecimento das leis russas com a guerra da Ucrânia.
Em 2019, o laureado foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, “por seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, principalmente por sua iniciativa decisiva destinada a resolver o conflito na fronteira com a Eritreia”.
Em 2018, a jovem yazidi Nadia Murad e o ginecologista congolês Denis Mukwege ganharam o Nobel da Paz por seus esforços contra o uso da violência sexual como arma de guerra. No ano anterior, ganhou a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, por chamar a atenção para as consequências do uso do armamento e chegar a um acordo pelo fim das armas nucleares.
Em 2017, em razão de seus esforços para obter um acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos levou o prêmio.
Algumas das grandes surpresas incluem a paquistanesa Malala Yousafzai, que recebeu o prêmio em 2014, aos 17 anos, “pela luta contra a opressão das crianças e dos jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”. Ela se tornou a pessoa mais jovem a receber o Nobel.
Outra grande surpresa, muito contestada à época, foi a escolha, em 2009, do então presidente american Barack Obama, agraciadopor seus “esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.
Desde a última segunda-feira, o Nobel já divulgou os laureados das categorias de Medicina,Física,Química e Literatura.
Como funciona o Nobel da Paz
O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de se criador, o inventor sueco Alfred Nobel. Ele é lembrado como o patrono das artes, das ciências e da paz que, antes de morrer, no limiar do século 20, transformou a nitroglicerina em ouro.
O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel,composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 5 milhões).
Indicar uma pessoa a um prêmio Nobel é relativamente simples. O comitê organizador distribui (e fornece em seu site) formulários para centenas de formadores de opinião.
As fichas com as sugestões são enviadas até o fim de janeiro de cada ano e então cada uma delas é avaliada até outubro, quando os vencedores são anunciados. Ao longo desse processo, a lista é reduzida para uma versão menor, com no mínimo cinco e no máximo 20 nomes, que são revisados. Os jurados debatem essa lista e buscam alcançar o consenso – quando ele não acontece, a escolha se dá por votação.
A entrega dos prêmios ocorre em dezembro. Mas pode acontecer de o comitê decidir que ninguém mereceu vencer o Nobel da Paz naquele ano – a honraria não foi entregue em 20 ocasiões, a mais recente delas em 1972.
Ate hoje, cinco vencedores não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia. Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor.
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