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Presidência infeliz

Kuczynski parte após 20 meses no cargo, sem apoio político e popular e sem mostrar resultados

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Por The Economist

Pedro Pablo Kuczynski teve uma despedida melancólica. O ex-banqueiro, eleito presidente com uma das mais apertadas margens da história recente do Peru, teve pouco apoio do Congresso e dos 30 milhões de peruanos que governava. Nesses 20 meses na presidência, a maioria da população não teve ideia de como Kuczynski pretendia tornar o Peru um país com uma classe média sólida e instituições fortes, conforme prometera.

Pedro Pablo Kuczynskirenunciou à presidência do Peruem meio a denúncias de corrupção e um processo de impeachment dado como certo Foto: REUTERS/Guadalupe Pardo

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O que o derrubou foi sua conexão com a Odebrecht, construtora brasileira no centro de múltiplos escândalos na América Latina. Em dezembro, o Congresso conseguiu provas de que a Westfield Capital, empresa de propriedade de Kuczynski, trabalhou com a Odebrecht enquanto ele era ministro da Economia e primeiro-ministro de um governo que assinou contratos com a construtora. Ele negou ter tido contato com a companhia. O Congresso, no qual o partido de Kuczynski detinha apenas 15 de 130 cadeiras, deu início ao processo de impeachment.

Kuczynski conseguiu conter o ataque em dezembro, aparentemente fazendo um cínico acordo. Kenji Fujimori e outros nove congressistas da opositora Força Popular abstiveram-se de votar pela destituição. Dias depois, Kuczynski indultou o ex-presidente Alberto Fujimori, que cumpria 25 anos de prisão.

Kuczynski foi eleito com uma plataforma antifujimorista, tendo como adversária a filha do ex-presidente (e irmã de Kenji), Keiko, líder da Força Popular.

Parlamentares de oposição reiniciaram o ataque ao presidente neste mês, citando novas evidências de negócios questionáveis com a Odebrecht. A queda tornou-se inevitável na terça-feira, quando surgiu um vídeo mostrando Kenji aparentemente prometendo a um outro parlamentar a realização de obras públicas no distrito desse congressista em troca de seu voto contra o impeachment.

Num discurso de renúncia, Kuczynski culpou a oposição por sua queda, afirmando que fora sabotado desde o dia em que tomou posse. Ele mesmo não assumiu nenhuma responsabilidade na derrocada.

Com a saída de Kuczynski, a calma pode voltar ao país. Seu sucessor é o vice-presidente, Martín Vizcarra, que também era embaixador no Canadá. Como governador do pequeno Estado sulista de Moquegua, ele melhorou o ensino público e também fechou um acordo para tocar uma grande mina de cobre entre a multinacional de mineração Anglo American e comunidades vizinhas, numa difícil negociação. 

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Vizcarra foi afastado pela oposição de seu cargo de ministro dos Transportes em maio, como parte da campanha de sabotagem contra Kuczynski. Agora, segundo analistas, ele deverá ser tratado com mais gentileza. O presidente Vizcarra terá de mostrar logo que é diferente de seu predecessor.

“Ele vai perder apoio rapidamente se mantiver o mesmo tipo de ministério, com ministros que parecem mais interessados em negócios particulares do que em governar”, previu Eduardo Dargent, cientista político da Universidade Católica, em Lima. E terá de provar que, ao contrário de Kuczynski, consegue fazer o governo funcionar. 

“Quando se pergunta às pessoas o que o governo de Kuczynski realizou, elas emudecem, sem resposta”, diz Dargent. Uma primeira oportunidade de Vizcarra mostrar a que veio será nos dias 13 e 14 de abril, quando o Peru será sede da Cúpula das Américas, da qual Donald Trump deve participar.

O escândalo Odebrecht será um teste para a fé dos peruanos nos políticos e nas instituições. O ex-diretor da empresa no Peru testemunhou em fevereiro que a Odebrecht financiou campanhas dos quatro últimos presidentes, entre eles Kuczynski. Vizcarra deve garantir que as investigações não sofram empecilhos, por mais dolorosos que possam ser os resultados. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ  © 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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