BOGOTÁ - O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta quarta-feira, 26, a demissão de sete ministros de seu gabinete em meio às dificuldades em aprovar suas reformas no Congresso. Inicialmente, funcionários do governo indicavam que haveria uma reforma completa do gabinete, no fim do dia o presidente anunciou saídas mais tímidas e possíveis futuras reordenações, em uma tentativa de manter sua governabilidade frente a maior crise desde que assumiu o cargo em agosto.
Na terça-feira à noite, o presidente usou o Twitter para falar de um “replanejamento do governo” depois que sua coalizão no Congresso se desfez por discordâncias com um projeto de reforma no sistema de Saúde. Hoje ele usou a mesma rede social para listar os nomes que entraram nos ministérios, e o mais surpreendente foi o da ministra da Saúde. “Hoje se constrói um novo gabinete, que ajudará a consolidar o programa de governo”, disse.
No poder desde agosto do ano passado, Petro tem tido dificuldades para realizar as mudanças que prometeu em sua campanha eleitoral, principalmente sobre o sistema trabalhista, de saúde, previdência e justiça.
A crise escalou na terça por uma tramitação na Câmara de reforma na saúde, até então liderada pela ministra Carolina Corcho. Os partidos Liberal, Conservador e ‘de la U’, que compunham a maioria do governo no Congresso, se opuseram às iniciativas, e o impasse terminou com o projeto não aprovado e a coalizão do governo rompida.
“Quando as alianças foram formadas em agosto de 2022, quando o presidente assumiu o poder, eram alianças entre partidos mais tradicionais que claramente não compartilhavam o projeto político de Petro, mas apoiaram a aliança na expectativa de ter mais cargos no governo”, explica Andrés Londoño, cientista político pela Universidade Nacional da Colômbia e doutor pela UERJ.
Esses partidos da aliança, porém, estavam insatisfeitos com o que diziam ser uma falta de diálogo com a ministra da Saúde sobre a reforma. A saída de Corcho, nesse cenário, é vista como um sinal de diálogo para a tramitação da reforma, que Petro assegurou que continua.
“Essa reforma tem gerado a maior controvérsia entre os partidos e é uma das principais bandeiras do governo. Ela pretende fazer grandes mudanças no sistema de saúde que opera no país desde o começo da década de 90. Vários políticos têm defendido o sistema de saúde colombiano, que tem uma cobertura ampla, mas vários problemas de qualidade e de garantia do direito à saúde”, completa o cientista político.
Outros ministérios que mudaram de nome foram: Fazenda, Agricultura, Interior, Ciência, Transporte e Comércio, Indústria e Turismo. Outra mudança que surpreendeu foi na pasta da Fazenda, que era comandada por José Antonio Ocampo, considerado uma ponte de diálogo entre o governo de esquerda de Petro e o setor econômico.
Ainda assim, a mudança mais tímida do que a prevista foi vista como uma sinalização positiva aos partidos que pertenciam à coalizão de governo. Nomes desses partidos, como o ministro das Relações Exteriores, foram mantidos.
Mas mesmo com a solução mais apaziguadora, tomada após uma grande reunião ministerial na Casa de Nariño, esta é a maior crise vivida pelo governo de Gustavo Petro, no poder há um pouco mais de nove meses. Com sua aliança no Congresso rompida, será difícil continuar negociando as reformas que foram suas grandes promessas de campanha.
Dificuldades
Na terça, Petro utilizou mensagem duras contra os partidos rompidos: “A coligação política acordada maioritariamente terminou hoje por decisão de alguns presidentes de partidos. Alguns dos quais ameaçam a maioria de sua própria bancada”, escreveu no Twitter. Em um evento público, Petro afirmou que é necessário instalar um “governo de emergência” na Colômbia, “já que o Congresso não foi capaz de aprovar alguns artigos simples e muito pacíficos” sobre a divisão equitativa de terras
O presidente colombiano já havia formado um primeiro gabinete afastado das forças de esquerda que o levaram à presidência e optou por políticos de centro e direita ou acadêmicos como o economista José Antonio Ocampo do Partido Liberal na Fazenda.
Durante seu mandato como prefeito de Bogotá (2012-2015), Petro enfrentou constantes mudanças em sua equipe de trabalho, seja por demissões ou por decisão própria. Na ocasião, os opositores e alguns de seus ex-funcionários apontaram a dificuldade do atual presidente de trabalhar em equipe.
Em 15 de fevereiro, o mandatário pediu a seus apoiadores que fossem às ruas para pressionar pela aprovação de suas reformas. Em seguida, alertou de uma sacada da residência presidencial Casa de Nariño que continuaria convocando manifestações até que a mudança fosse uma realidade.
Dias depois, em 28 de fevereiro, demitiu três de seus ministros, entre eles o centrista Alejandro Gaviria, da pasta da Educação, cujas críticas à reforma da saúde proposta pelo governo vazaram na imprensa. Também foram afastadas a ex-campeã olímpica María Isabel Urrutia, do Ministério do Esporte, acusada em um escândalo de corrupção, e Patricia Ariza, da pasta de Cultura, sem justificativa conhecida para a decisão.
Além do fracasso no Congresso, Petro acrescenta contratempos em suas tentativas de estabelecer uma “Paz Total” com todos os grupos armados ilegais do país. Os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), com quem conduz negociações de paz, se recusaram a participar de um cessar-fogo bilateral proposto pelo governo em 31 de dezembro.
Já o Clã do Golfo, o maior cartel do tráfico de drogas no país, também participou da trégua, mas o presidente reativou as operações militares contra essa organização após ataques a civis e forças públicas./Com informações da AFP
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