LIMA - A presidente do Peru, Dina Boluarte, encomendou nesta quarta-feira, 25, um projeto de lei que propõe antecipar novamente as eleições. Inicialmente, ela havia apresentado uma proposta para que a votação fosse em abril de 2024. No entanto, em razão dos protestos e da violência, Dina agora pretende acelerar o processo eleitoral para o fim de 2023.
Até agora, confrontos ligados às manifestações já deixaram mais de 56 mortos e levaram as autoridades a fechar a entrada para a cidade inca de Machu Picchu, joia turística do Peru. Desde dezembro, ativistas bloqueiam estradas em 15 províncias, aumentando a crise de abastecimento.
Nas zonas urbanas, os atos são convocados em sua maioria por apoiadores do ex-líder Pedro Castillo, deposto após tentar aplicar um autogolpe. Nesta quarta-feira, eles voltaram às ruas de Lima para pedir a renúncia de Dina, a sexta presidente em seis anos a comandar o país.
O número de trocas de presidente evidencia uma crise marcada por denúncias de corrupção, instabilidade política, polarização e ingovernabilidade. Nos últimos anos, a maioria dos ex-presidentes do país foi presa ou investigada por corrupção.
De acordo com o plano do governo, o primeiro turno ocorreria em outubro, o segundo turno em novembro e a troca de comando em dezembro. Segundo analistas, o governo não tem mais condições de chegar até abril de 2024 - como era a ideia anterior - para realizar as eleições antecipadas.
De acordo com o analista político Fernando Tuesta, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Peru, é difícil que o Congresso aprove reformas políticas necessárias para que as novas eleições não terminem como as anteriores, ou seja, em um cenário de insatisfação que leva a novas crises políticas.
“No Congresso, seja por seu fracionamento ou pouco interesse, dificilmente chegarão a um acordo para as reformas políticas necessárias.”
Escassez
Os bloqueios em várias estradas no Peru começaram a causar desabastecimento de alguns produtos básicos e aumento de preços de combustíveis e alimentos nas províncias do sul dos Andes, epicentro das manifestações.
O gás liquefeito de petróleo (GLP), principal combustível para veículos e também de uso doméstico no país, já estava em falta nos comércios de Arequipa, Tacna e Puno, regiões do sul que afirmam nas manifestações serem as mais pobres, esquecidas e discriminadas por suas populações de maioria indígena.
“O Congresso deve aceitar que o país não aguenta mais e necessita o mais rápido possível de uma data certa para as eleições e troca de comando”, diz Tuesta. Para a realização das eleições ainda neste ano ser viável, a antecipação deve ser aprovada até o fim de janeiro.
Em Puno, a 1.350 quilômetros ao sul da capital Lima e palco dos protestos mais violentos que resultaram em 18 mortes no início de janeiro, os comerciantes triplicaram os preços de alimentos como batatas e tomates.
Na terça-feira, o sexto de protestos convocados no centro de Lima, policiais e manifestantes encapuzados se enfrentaram violentamente e transformaram o centro histórico da capital peruana em um campo de batalha.
Em Cusco, a cidade mais turística do Peru, o aeroporto voltou a funcionar depois de ter sido fechado na terça-feira para “salvaguardar a integridade das pessoas e a segurança das operações aeronáuticas”, informou o Ministério dos Transportes. / Com AFP e EFE
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