A presidente do Peru, Dina Boluarte, compareceu nesta segunda-feira, 13, perante os promotores depois que uma cirurgia de nariz realizada em 2023 virou assunto da política nacional. A presidente é investigada pelo Ministério Público pelo suposto crime de abandono de cargo e omissão de atos funcionais, por não ter informado o gabinete ministerial e o Congresso que passaria pelo procedimento.
Esta foi a primeira vez que Dina, advogada de 62 anos, presta depoimento sobre esta polêmica cirurgia desde o início da investigação, em dezembro passado. A ameaça de uma possível destituição paira sobre a primeira mulher a presidir o país. A audiência ocorreu a portas fechadas por quatro horas, começando pouco depois das 09h locais na sede central do Ministério Público em Lima.
O caso, que tem risco potencial para derivar em um processo de impeachment, veio à tona no fim de 2024, quando o ex-chefe de gabinete da presidente, Alberto Otárola, revelou perante uma comissão do Congresso que ela operou o nariz em julho de 2023.
A legislação peruana exige que o Congresso seja informado de qualquer procedimento médico que possa causar incapacidade temporária para exercer a Presidência, sendo necessário delegar o poder se for o caso.
A cirurgia de Boluarte foi amplamente comentada nas redes sociais e na imprensa local desde o ano passado. O “nariz presidencial” viralizou, gerando inúmeros memes.
“Esta investigação já nasceu morta”, declarou à imprensa o advogado da presidente, Juan Carlos Portugal, que destacou que Boluarte respondeu a 45 perguntas durante o interrogatório.
Segundo a defesa, não houve crime de omissão de funções, nem de abandono de cargo, pois “existem 91 normas que a presidente assinou de próprio punho” no dia da cirurgia nasal. “Ela estava lúcida e consciente. Foi uma cirurgia menor (...) que durou 40 minutos na noite de 28 de junho de 2023″, acrescentou.
A presidente peruana confirmou, em um pronunciamento ao país em 13 de dezembro, que se submeteu à operação no nariz em 2023 devido à necessidade de saúde. “Não foi uma intervenção estética, foi necessária e imprescindível para minha saúde. Eu precisava dela para a funcionalidade respiratória”, explicou Boluarte na ocasião.
Ela afirmou que a operação não causou nenhum tipo de incapacidade ou impedimento para exercer suas funções como presidente.
Boluarte era vice-presidente até assumir o poder em 7 de dezembro de 2022, após a destituição e prisão do então presidente de esquerda Pedro Castillo, que tentou dissolver o Congresso para evitar uma votação que visava destituí-lo por corrupção.
A presidente também está sob investigação do Ministério Público há meses por um escândalo envolvendo relógios de luxo - conhecido como “Rolexgate” - e pela morte de 50 civis na repressão de protestos quando assumiu o poder em 7 de dezembro de 2022. Ela só pode ser levada a julgamento ao final de seu mandato, em julho de 2026, conforme estipula a Constituição./AFP.
