LIMA - O presidente do Peru, Martín Vizcarra, pediu que assessores mentissem em um inquérito parlamentar sobre sua relação com um ex-colaborador investigado por contratos irregulares, mostraram áudios divulgados no Congresso peruano nesta quinta-feira, 10. A divulgação das conversas coloca o presidente em uma grave crise política que pode causar sua destituição.
"Primeiro você tem que ver o que é, e depois o que vai ser dito", diz Vizcarra a dois de seus colaboradores, pedindo que eles mintam sobre a quantidade de vezes que o ex-colaborador foi ao Palácio do Governo.
Os assessores que participam do diálogo são Miriam Morales e Karem Roca, que mencionam a Vizcarra até cinco visitas do polêmico ex-assessor Richard Cisneros. "É preciso dizer que ele entrou duas vezes", pede Vizcarra. "O que fica claro é que nessa investigação todos estamos envolvidos", acrescenta o presidente.
Os áudios vêm a público em meio a confrontos constantes entre Legislativo e Executivo pela aprovação de uma reforma política promovida pelo governo. A mudança deixaria candidatos condenados pela Justiça fora das eleições.
As gravações de Vizcarra foram entregues pelo deputado Edgar Alarcón, presidente da comissão que investiga o caso do ex-assessor. "Pode ver que há uma falha moral, o presidente não pode mentir", disse Alarcón, do partido de centro-esquerda Union Por el Peru, a jornalistas.
"Há rumores de que a cadeira ficará vaga", disse o deputado Moisés Gonzáles, da populista Aliança para o Progresso (APP). "É claro que o presidente Vizcarra mentiu para o país", disse o deputado Omar Chehade, também da APP.
Richard Cisneros é um cantor contratado pelo governo como orador e apresentador.
O caso explodiu em maio, quando a imprensa descobriu que o Ministério da Cultura havia oferecido contratos supostamente irregulares de US$ 10 mil a Cisneros, um artista pouco conhecido na mídia local, em meio à pandemia do coronavírus.
"Os áudios afetam a credibilidade e a legitimidade de Martín Vizcarra", garantiu o analista Iván García ao canal de televisão N. A crise irrompe enquanto o Peru é um dos países mais afetados pela pandemia de covid-19 no mundo, com mais de 700 mil infecções e 30 mil mortes. /AFP
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