Preso chefão da máfia siciliana que queria retomar tradições 

Settimo Mineo, de 80 anos, tentou voltar às raízes e reunir as famílias da Cosa Nostra, mas acabou preso 

PUBLICIDADE

Atualização:

O italiano Settimo Mineo é um joalheiro de 80 anos cujo principal negócio é uma imponente joalheria no centro de Palermo, capital da Sicília. O aparentemente inofensivo senhor é também o “capo dei capi”, o chefão dos chefões da máfia siciliana, a Cosa Nostra. Ele foi o mentor da primeira reunião de famílias mafiosas da Sícilia em 25 anos, uma cúpula considerada histórica por retomar as tradições de reunir os chefões – bem ao estilo de O Poderoso Chefão.

Settimino Mineo, centro, é detido em Palermo Foto: Igor Petyx/ANSA via AP

PUBLICIDADE

A joalheria de Setimo Mineo é a fachada para um império regional de tráfico de drogas e apostas online. Ele era amigo próximo do ex-chefe dos chefes da Cosa Nostra, Salvatore “Totò” Riina, que morreu na prisão no ano passado depois de passar quase 25 anos atrás das grades. 

“Tonton Settimo”, ou “tio Settimo” como era conhecido, foi eleito para chefiar a organização em maio depois de os mafiosos sicilianos reconstruírem a estrutura da “Cupola” (a cúpula da máfia). Os chefes de várias famílias que controlam negócios ilegais na Sicília e em outras regiões da Itáliase reuniram em 29 de maio na“comissão provincial”, a primeira do tipo desde 1993. A reunião foi num hotel no centro de Palermo, durante o dia. 

Com base em escutas telefônicas e em uma investigação que durou quase um ano, a polícia determinou que Settimo Mineo foi eleito e seria “coroado” ontem. Na operação policial, as autoridades italianas prenderam 46 pessoas. 

Publicidade

O principal promotor da Itália contra a Máfia, Federico Cafiero de Raho, disse que a eleição de Mineo, de 80 anos, era significativa porque mostrava que o centro de poder da Cosa Nostra havia mudado para Palermo. Sob Riina, sua antiga base era Corleone, a cidade siciliana que ficou famosa pelo escritor Mario Puzo quando ele usou Corleone como o nome do personagem principal em seu romance de 1969, O Poderoso Chefão.

A polícia lembrou que a estrutura da “comissão provincial” foi criada na década de 1950 como o fórum de tomada de decisões para as famílias siciliana e da máfia norte-americana. Nos anos 80, tornou-se menos “colegiada” sob o domínio de Riina edeixou de funcionar após sua prisão em 1993. Os promotores dizem que Mineo tentou ressuscitar a estrutura na província de Palermo e retornar às regras que regem o território e a comunicação que anteriormente ditavam as relações entre os clãs familiares da máfia.

Mineo é conhecido das autoridades antimáfia da Itália. A primeira vez que ele entrou na radar foi em 1982, quando escapou de uma emboscada na qual um de seus dez irmãos morreu. Giuseppe Mineo, também joalheiro, foi atingido a tiros quando estacionava seu carro embaixo de sua casa. Em dezembro de 1981, seu irmão mais velho foi assassinado do mesmo modo. 

Setimo Mineo assumiu os negócios, mas em 1984 foi preso na esteira das investigações do juiz Giovanni Falcone. Ele foi condenado a 7 anos de prisão, mas a sentença foi reduzida para 5 anos e 4 meses. Em 2006, ele acabou preso novamente junto com seu padrinho, Antonino Rotolo. Ficou 11 anos na cadeia acusado de lavagem de dinheiro e associação criminoso.

Publicidade

Mesmo na prisão, Settimo Mineo se tornou o “embaixador” nas relações com as outras famílias mafiosas da Sícila. Sua tarefa era controlar os negócios ilícitos e aquisições e contatos com a máfia americana. Ele tinha tanto medo de ser interceptado que não usava celular, só andava a pé e proibiu reuniões fora das casas de líderes de famílias da máfia. Desde que foi libertado, ele começou a expandir sua rede de contatos para obter o apoio necessário para tomar o lugar de Totò Riina.

Settimo Mineo (à esquerda) ao lado de outros dois chefes de famílias mafiosas sicilianas presos em Palermo na terça-feira: Filippo Bisconti (centro) e Gregorio Di Giovanni (direita) Foto: EFE/Carabinieri

O promotor de Palermo, Francesco Lo Voi, disse que Mineo já havia cumprido uma longa pena de prisão por associação à Máfia e outros crimes depois que ele foi levado aos julgamentos máximos contra a máfia siciliana nos anos 80 e 90. Como o mais velho dos líderes do clã local, ele gostava de respeito especial, ele disse.

"Este é um sinal de que a Cosa Nostra não abandona suas regras", disse Lo Voi em entrevista coletiva. "E apesar das convicções, apesar dos julgamentos, pessoas importantes podem assumir os papéis mais importantes quando voltarem ao jogo."

Após a prisão de Riina, em 1993, a máfia siciliana viu um certo grau de marginalização em comparação com o sindicato do crime organizado ndrangheta, baseado na Calábria, ou a Camorra napolitana. Mas as autoridades italianas disseram que continuaram aumentando suas atividades financeiras e comerciais, e até começaram a negociar com os outros sindicatos do sul.

Publicidade

"É isso que emerge das outras investigações, que aparentemente enfrentando esse tipo de situação, Palermo não poderia ficar para trás e não compartilhar com todos os chefes qual seria o plano", disse Cafiero De Raho./ AFP e REUTERS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.