WASHINGTON — Um prestador de serviço que trabalhou para os Departamentos de Estado e de Justiça dos Estados Unidos foi preso e acusado de espionar para a Etiópia, de acordo com várias autoridades americanas cientes da situação.
O homem, Abraham Lemma, de 50 anos, de Silver Spring, Maryland, foi indiciado em duas acusações de violar a Lei de Espionagem e preso no mês passado. Pouco se sabe a respeito do caso, que corre em segredo na Corte Distrital em Washington e poderá ser revelado publicamente esta semana. Não foi possível localizar o advogado e a família de Lemma.
O perfil de Lemma no LinkedIn o descreve como um analista de sistemas que presta serviço em meio-período para o Departamento de Estado, registrado no Serviço de Segurança Diplomática do organismo desde 2019.
A conexão de Lemma com a Etiópia, um país que recebe ajuda significativa dos EUA, é incomum.
Muitos dos casos recentes de espionagem investigados pelo Departamento de Justiça envolvem esforços multifacetados da China no sentido de se infiltrar em agências do governo e empresas americanas; seja roubando segredos comerciais e informações econômicas de inteligência ou recrutando residentes dos EUA para trabalhar como espiões ou intimidar dissidentes. No mês passado, dois membros da Marinha americana foram indiciados por espionar para a China, acusados de furtar segredos militares e outras informações sensíveis.
EUA e Etiópia têm uma parceria antiga, e não está claro que tipo de informação sensível Lemma, formado na Universidade de Baltimore, obteve nem por quanto tempo ele ajudou o país africano.
Mas não é incomum potências amigas buscarem informações dentro dos EUA para fornecer aos seus líderes instantaneamente informações políticas, econômicas ou militares, de acordo com autoridades e ex-autoridades americanas.
Essa via também funciona no sentido reverso. O conjunto de documentos sensíveis do governo americano que Jack Teixeira, membro da Guarda Nacional Aérea em Massachusetts, postou em uma plataforma de games online ilustrou o amplo alcance das agências de espionagem dos EUA incluindo em capitais de países amigáveis, como Egito, Coreia do Sul, Ucrânia e Emirados Árabes Unidos.
Os documentos incluem memorandos da CIA relatando conversas privadas em níveis graduados dos governos desses países, alguns atribuídos a “inteligência de interceptação de sinais” ou a escutas eletrônicas.
Mesmo que o vazamento mostre a amplitude do alcance dos EUA, a reação diplomática à revelação foi silenciosa — em parte porque governos estrangeiros passaram a considerar esse tipo de atividade rotina na década que passou desde que Edward Snowden vazou comunicações internas do governo revelando que uma sofisticada rede de vigilância global vasculhava caixas de e-mail e chamadas nos telefones de amigos e algozes.
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A Etiópia, situada no geopoliticamente crítico Chifre da África, é um dos países mais pobres do planeta, enfrentando seca, fome, instabilidade política e um conflito sangrento com sua vizinha Eritreia.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2019 por reiniciar negociações de paz com e o governo eritreu. Mas em 2020, combates irromperam entre as Forças Armadas da Etiópia e um grupo paramilitar da região de Tigré, no norte do país, deixando dezenas de milhares de mortos.
Desde 2020, os EUA deram à Etiópia mais de US$ 3 bilhões em ajuda para colaborar com sua recuperação da guerra civil e da seca, de acordo com o Departamento de Estado. Este ano, o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou a Etiópia como parte de um esforço para estreitar relações dos EUA em meio à crescente influência de Rússia e China. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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