PUBLICIDADE

Primárias do Partido Republicano em Ohio se transformam em referendo sobre Donald Trump

Corrida por vaga republicana ao Senado revelou transformação interna do partido com avanço da ala ligada ao ex-presidente e pré-candidatos disputando seu apoio até a reta final

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

O Partido Republicano inicia nesta terça-feira, 3, sua trajetória rumo às eleições de meio de mandato -- as chamadas ‘midterms’, realizadas em novembro -- com uma das primárias ao Senado mais controversas e observadas do país, em Ohio.

PUBLICIDADE

Com a maioria dos principais candidatos disputando o apoio público do ex-presidente Donald Trump e uma campanha pautada por sua agenda conservadora em temas como a imigração e a influência da China no país, o pleito vem sendo tratado como uma espécie de referendo antecipado sobre a influência que Trump ainda exerce entre eleitores do partido em um Estado que lhe deu maioria nas duas últimas eleições presidenciais.

A reta final da disputa pela vaga de candidato republicano ao Senado revelou um partido unido -- pelo menos no Estado -- pela convicção de que os valores americanos e o modo de vida da nação estão sob ataque, mas dividido diante de crescentes dúvidas sobre como encarar a questões globais, como a liderança externa exercida pelos EUA e a integração global.

As tensões refletem as divisões mais amplas em um partido que passa por uma espécie de crise de identidade em âmbito nacional, com conservadores ideológicos, o antigo establishment republicano das grandes empresas e a nova base inspirada em Trump, cada um tentando definir o rumo que o partido deve tomar.

Eleitora se apresenta em local de votação em Dublin, Ohio, durante primárias republicanas. Foto: Drew Angerer / AFP

Um ponto de convergência entre os candidatos que competem nesta terça-feira parece ser a feroz oposição ao governo de Joe Biden, enquanto procuram mostrar o quadro de uma nação afetada pelo aumento dos preços de alimentos e energia, um Partido Democrata “radical” exagerando em questões de raça e gênero, e o que eles descrevem como condições apocalípticas na fronteira entre EUA e México. Por outro lado, os conservadores se dividem sobre questões de agenda internacional, como a resposta à agressão russa na Ucrânia, as relações com aliados tradicionais e, principalmente, o que fazer sobre a China.

Nas últimas semanas, Josh Mandel, ex-tesoureiro de Ohio e que iniciou como favorito a vencer as primárias no Estado, atacou um rival, Mike Gibbons, por ganhar dinheiro com investimentos na China. O atual favorito, J.D. Vance, um escritor e executivo de capital de risco, atacou Mandel por aceitar a ajuda do Club for Growth, um grupo político apoiado por empresas que, segundo ele, apoiava as relações comerciais com a China. E a única mulher na corrida, Jane Timken, compartilha seu sobrenome com uma empresa que é sinônimo de poder de fabricação em Ohio - e isso inclui vastas operações para os lados de Xangai.

Vance estava atrás nas pesquisas até receber o apoio de Trump na reta final da campanha, encerrando uma disputa acirrada entre os candidatos. Embora o momento do endosso de Trump (menos de três semanas antes do dia da eleição, e como a votação antecipada já em andamento) possa ter diminuído seu impacto, a demonstração foi um golpe para Mandel, Gibbons e Timken, que se esforçaram para cortejar Trump e seus eleitores no Estado.

Publicidade

Neste cenário, uma vitória de Vance provavelmente encorajaria o ex-presidente a continuar se afirmando nas primárias antes de outra potencial corrida presidencial. Um revés, no entanto, levantaria questões sobre se os eleitores do Partido Republicano estão buscando uma nova direção.

O pré-candidato republicano ao Senado por Ohio, JD Vance, ao lado do ex-presidente Donald Trump, em comício em 23 de abril. Foto: AP Photo/Joe Maiorana

“Muitas pessoas querem saber se o endosso de Donald Trump significa alguma coisa”, disse Mark R. Weaver, um estrategista do Partido Republicano de longa data ouvido pela Associated Press.

Único grande candidato que não cortejou Trump agressivamente, o senador estadual Matt Dolan viu um aumento de popularidade no estágio final da campanha, sugerindo que ainda pode haver apetite no estado por uma alternativa não Trump.

A corrida também é considerada a mais cara da história do Estado, com mais de US$ 66 milhões (R$ 331 milhões) gastos apenas com TV e rádio, segundo a empresa Medium Buying, com sede em Columbus.

O vencedor da disputa republicana provavelmente enfrentará o deputado de 10 mandatos Tim Ryan, que se distanciou da ala progressista de seu partido antes do que se espera ser um ano brutal para os democratas, que buscam manter suas maiorias no Congresso.

Ryan costuma atacar a China e apoiar o aprofundamento de relações dos EUA com outros países -- e a troca de acusações de envolvimento com os chineses entre os candidatos republicanos na disputa primária certamente será um resgatada nas eleições gerais.

“Os eleitores nem sempre têm memória longa aqui, especialmente depois de uma campanha primária, mas certamente os sentimentos anti-China vão ressoar por muito tempo”, disse Paul Beck, professor emérito de ciência política da Universidade Estadual de Ohio e observador de longa data da política de Ohio, em entrevista ao The New York Times.

Publicidade

Adesivos de 'Eu votei' são distribuídos durante as primárias em Columbus, Ohio. Foto: Maddie McGarvey/The New York Times

Cenário eleitoral

Impulsionados pelas tendências históricas e pela impopularidade de Biden, os republicanos estão otimistas sobre a retomada da Câmara e do Senado em novembro. O partido de um novo presidente quase sempre perde assentos nas eleições de meio de mandato subsequentes, e os republicanos esperam que os problemas enfrentados pela gestão do democrata aumentem ainda mais suas perspectivas.

Enquanto isso, os democratas estão apostando que o próprio Partido Republicano, com a ajuda de Trump, elegerá candidatos tão extremistas que se mostrarão inelegíveis em novembro.

“Com todos os direitos, a história nos diz que os democratas vão perder o controle da Câmara”, disse Dale Butland, estrategista democrata em Ohio. “Por todos os direitos, devemos perder o controle do Senado também. No entanto, a única coisa que poderia nos salvar é se os republicanos nomearem um bando de loucos de extrema direita que são inaceitáveis em uma eleição geral”.

Mas David Niven, professor de ciência política da Universidade de Cincinnati, disse que, de qualquer forma, o Partido Republicano de Ohio se transformou fundamentalmente, com figuras moderadas sendo gradualmente deixadas de lado por candidatos que zombaram da separação entre a Igreja e Estado e acusaram Biden de tentar “matar” eleitores de Trump com fentanil.

“Ganhar ou perder, isso representa a última barreira dos republicanos tradicionais de Ohio”, disse Niven.

Outras vagas em disputa

O governador republicano em exercício, Mike DeWine, parece estar no caminho certo para garantir a indicação de seu partido para mais um mandato, apesar da reação dos conservadores sobre as paralisações e normas restritivas durante a pandemia da covid-19. A condução da pandemia deve ser atacada pelos três adversários de DeWine: o ex-deputado Jim Renacci, o ex-deputado estadual Ron Hood e o fazendeiro Joe Blystone. No entanto, analistas apontam que provavelmente os três acabarão por dividir o voto da extrema direita do partido.

O governador de Ohio, Mike DeWine, investiu pesado em publicidade para garantir sua indicação à reeleição. Foto: AP Photo/Paul Vernon

Apesar das análises, o governador não está se arriscando e investiu milhões em publicidade durante as últimas semanas da corrida. O secretário de Estado apoiado por Trump, Frank LaRose, também é considerado bem posicionado na disputa.

Publicidade

Do lado democrata, Nan Whaley, ex-prefeita de Dayton, está competindo para se tornar a primeira mulher eleita governadora de Ohio em sua corrida contra o ex-prefeito de Cincinnati John Cranley. Whaley tem o apoio do senador americano Sherrod Brown, um nome familiar popular e o principal democrata do Estado.

Na Câmara, o republicano Max Miller, ex-assessor de campanha de Trump e da Casa Branca, deve chegar à indicação do Partido Republicano no novo e extenso 7º Distrito no nordeste de Ohio, apesar das alegações de sua ex-namorada, a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Stephanie Grisham, de que ele ficou violento com ela à medida que seu relacionamento se deteriorou. Ele negou as acusações./ AP e NYT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.