Primeiro-ministro do Reino Unido convoca eleições antecipadas e dissolve Parlamento

Rishi Sunak, conservador que assumiu o governo em outubro de 2022 após Boris Johnson renunciar, decidiu antecipar pleito. Partido Trabalhista, rival dos conservadores, é favorito para vencer

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, convocou eleições antecipadas no país nesta quarta-feira, 22. Sunak também dissolveu o Parlamento.

As novas eleições, segundo Sunak, acontecerão em 4 de julho -- pelo calendário atual, o pleito deveria acontecer em janeiro de 2025. Com isso, o Reino Unido poderá ter seu quarto primeiro-ministro em um período de 22 meses, caso Sunak não seja reeleito.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anunciou a dissolução do Parlamento britânico e convocou novas eleições para o dia 4 de julho  Foto: Kin Cheung/AP

PUBLICIDADE

O anúncio pegou de surpresa até membros de sua sigla, o Partido Conservador. Sunak assumiu o poder no fim de 2022, após o desastroso mandato de Liz Truss, que durou apenas 49 dias por causa de suas políticas econômicas que abalaram os mercados financeiros. Truss havia sido escolhida pelos membros do partido após Boris Johnson ser destituído por uma série de escândalos.

Para alguns analistas, trata-se de um gesto ousado do premiê, que em pesquisa recente da YouGov um índice de avaliação negativa superior a 70%. A impopularidade de seu governo seria, aliás, um dos principais motivos para a realização das votações agora.

Publicidade

Data

Sunak definiu o dia 4 de julho como a data para uma eleição nacional que determinará quem governará o Reino Unido, escolhendo um dia de boas notícias econômicas para instar os eleitores a dar mais uma chance ao partido Conservador. “Agora é o momento para o Reino Unido escolher seu futuro”, disse Sunak.

O partido de centro-direita de Sunak viu seu apoio diminuir constantemente após 14 anos no poder. A legenda lutou para superar uma série de crises, incluindo uma recessão econômica após o Brexit, escândalos de ética e uma dança das cadeiras de líderes nos últimos dois anos.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, participa de uma reunião ministerial em Londres, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

O Partido Trabalhista de centro-esquerda é favorito nas pesquisas para derrotar o partido de Sunak. A especulação sobre uma eleição iminente aumentou depois que Sunak convocou uma reunião do Gabinete para a tarde de quarta-feira — em vez da usual terça-feira — e o Secretário de Relações Exteriores, David Cameron, voltou mais cedo de uma viagem à Albânia para participar.

Crise

A eleição será realizada em meio à uma crise provocada pelo aumento no custo de vida dos britânicos e profundas divisões sobre como lidar com imigrantes e requerentes de asilo que fazem travessias arriscadas do Canal da Mancha para a Europa.

Publicidade

O anúncio veio no mesmo dia em que os números oficiais mostraram que a inflação no Reino Unido havia caído acentuadamente para 2,3%, seu nível mais baixo em quase três anos, impulsionado por grandes quedas nas contas domésticas.

A queda em abril marca o maior progresso até o momento nas cinco promessas feitas por Sunak em janeiro de 2023, incluindo reduzir a inflação pela metade, que havia subido para mais de 11% no final de 2022. Sunak saudou o novo número como um sinal de que seu plano estava funcionando.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anuncia a dissolução do Parlamento britânico em comunicado oficial  Foto: Kin Cheung/AP

“O dia de hoje marca um grande momento para a economia, com a inflação de volta ao normal”, disse Sunak nesta quarta-feira. “Dias mais brilhantes estão à frente, mas apenas se nos atermos ao plano para melhorar a segurança econômica e a oportunidade para todos.”

Eleição

Eleitores em todo o Reino Unido escolherão todos os 650 membros da Câmara dos Comuns para um mandato de até cinco anos. O partido que comandar a maioria na Câmara dos Comuns, sozinho ou em coalizão, formará o próximo governo e seu líder será o primeiro-ministro.

Publicidade

O líder trabalhista Keir Starmer, ex-promotor-chefe para a Inglaterra e o País de Gales, é o atual favorito, por causa da série de derrotas que ele ajudou a infligir nos conservadores em eleições locais no início deste mês.

Os conservadores também perderam uma série de eleições especiais para assentos no Parlamento este ano, e dois de seus legisladores recentemente mudaram para o Partido Trabalhista.

O líder da oposição do Reino Unido, Keir Starmer, discursa no Parlamento britânico, em Londres, Reino Unido  Foto: Parlamento britânico/AFP

Aproveitando o sucesso de seu partido nas eleições locais, Starmer, 61, anunciou na semana passada uma plataforma focada em estabilidade econômica após anos de inflação crescente enquanto tenta conquistar eleitores desiludidos.

Ele também prometeu melhorar a segurança de fronteira, recrutar mais professores e policiais e reduzir as longas listas de espera em hospitais e clínicas médicas em todo o país.

Publicidade

As eleições no Reino Unido devem ser realizadas no máximo a cada cinco anos, mas o primeiro-ministro pode escolher convocar eleições dentro desse período. Sunak, 44, tinha até dezembro para convocar uma eleição. A última foi em dezembro de 2019.

Muitos analistas políticos previram que uma eleição antecipada daria aos conservadores uma chance melhor de manter o poder porque as condições econômicas podem melhorar ainda mais, os eleitores poderiam sentir o efeito dos recentes cortes de impostos, as taxas de juros podem cair e um plano controvertido de deportar alguns requerentes de asilo para Ruanda — uma política-chave para Sunak — poderia decolar.

Sunak não havia se comprometido sobre a data da eleição, dizendo repetidamente que esperava que fosse no segundo semestre do ano.

Publicidade

Embora a inflação tenha caído, as outras promessas de Sunak — de crescer a economia, reduzir a dívida, cortar as listas de espera para atendimento médico no Serviço Nacional de Saúde administrado pelo Estado e deter o influxo de migrantes atravessando o Canal da Mancha — tiveram menos sucesso.

Além dos dois principais partidos, outras legendas com forte apoio regional poderão ser cruciais para a formação de um governo de coalizão se nenhum obtiver a maioria geral.

O Partido Nacional Escocês, que faz campanha pela independência da Escócia, os Liberais Democratas e o Partido Democrático Unionista, que procura manter os laços entre o Reino Unido e a Irlanda do Norte, são atualmente os três maiores partidos no Parlamento, depois dos conservadores e dos trabalhistas. Muitos analistas sugerem que o novo Partido Reformista, formado por antigos membros do Partido Conservador, poderá desviar votos dos conservadores./AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.