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Presidente e primeiro-ministro do Sri Lanka aceitam renunciar após manifestações

Residências dos dois políticos foram invadidas por manifestantes, que os culpam pela má gestão da crise econômica que assola o país

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Por Redação
Atualização:

COLOMBO – Após meses de protestos e de terem as residências invadidas neste sábado, 9, o presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapksa, e o primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe, concordaram em deixar seus cargos nos próximos dias. Pressionados por uma economia em colapso, os dois foram alvos de dezenas de milhares de manifestantes, que invadiram as suas casas.

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Os manifestantes primeiro invadiram a residência de Gotabaya Rajapksa e um escritório presidencial, provocando uma reunião de líderes parlamentares que resultou no consenso de que Rajapksa deveria renunciar. Logo depois da reunião, Wickremesinghe, que está no topo da linha sucessória do país, colocou o cargo à disposição. Em seguida, a residência privada dele também foi invadida e incendiada.

A renúncia de Rajapksa foi anunciada pelo chefe do Parlamento do país, Mahinda Yapa Abeywardena. Em um comunicado televisionado neste sábado, Abeywardena disse que Rajapaksa foi informado da decisão dos líderes parlamentares e vai segui-la. Ele permanecerá na presidência até quarta-feira para garantir uma transferência de poder tranquila, acrescentou o deputado.

Milhares de manifestantes protestam no Sri Lanka contra o presidente Gotabaya Rajapksa em imagem deste sábado, 9. Residência oficial do presidente foi invadida Foto: via AFP

Entretanto, Gotabaya Rajapaksa, cuja família dominou a política no Sri Lanka por grande parte das últimas duas décadas, não realizou nenhum anúncio. Ele enfrenta o maior protesto ocorrido no país neste sábado, com a entrada de dezenas de milhares de pessoas na sua residência e no escritório oficial. Os manifestantes o consideram o responsável pela pior crise econômica do país e pediam que ele renunciasse.

Os manifestantes que invadiram a residência oficial vagaram pelos luxuosos corredores e entraram em sua piscina. Dezenas de cingaleses postaram imagens nas redes nas quais são vistos andando pelos quartos de Rajapaksa, deitados em sua cama e apreciando os jardins da residência.

Pedindo a renúncia do presidente Gotabaya Rajapaksa, eles invadiram o palácio presidencial e chegaram a entrar na piscina do complexo Foto: AFP

“Estamos no quarto de Gotabaya, aqui está a cueca que ele abandonou”, diz um jovem mostrando uma cueca preta em um vídeo que viralizou. “Ele também deixou os sapatos”, acrescenta. O presidente conseguiu fugir por um fio, graças aos soldados de sua guarda atirando no ar para abrir caminho.

Segundo a agência de notícias France Presse, ele fugiu para um local seguro minutos antes da residência ser tomada.

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Sem reservas

O Sri Lanka ficou sem reservas de divisas para a importação de itens essenciais como combustível e remédios, e a ONU alertou que mais de um quarto dos 21 milhões de habitantes do país correm o risco de escassez de alimentos. Sua economia está em colapso e o governo suspendeu o pagamento de empréstimos estrangeiros. A dívida externa total é de US$ 51 bilhões, dos quais deve pagar US$ 28 bilhões até o fim de 2027.

A crise econômica é uma grande derrota para a nação asiática, que ainda lutava com o legado de guerra civil de três décadas. O conflito, entre o governo e os insurgentes Tamil Tiger, que assumiram a causa da discriminação contra a minoria étnica tâmil, terminou em 2009, mas muitas de suas causas subjacentes permaneceram, com a família Rajapaksa continuando a atender a maioria budista cingalesa.

Segundo as autoridades de saúde, pelo menos 42 pessoas ficaram feridas em confrontos com as forças de segurança na cidade neste sábado, depois que a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água contra manifestantes e disparou tiros para o ar para tentar dispersá-los.

Os protestos ocorrem há meses, mas a manifestação deste sábado é uma das maiores até agora, apesar de as autoridades terem imposto um toque de recolher noturno e parado os trens na tentativa de impedir que as pessoas chegassem à capital.

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Na sexta-feira, a ONU pediu às “autoridades do Sri Lanka que mostrem moderação no policiamento de assembleias e garantam todos os esforços necessários para evitar a violência”.

A escassez de alimentos e combustíveis no Sri Lanka, agravadas no início deste ano, aumentaram a insatisfação popular contra o presidente Rajapksa. Os protestos se intensificaram a partir de fevereiro. O presidente tentou oferecer concessões políticas para diminuir a crise, mas não teve sucesso.

Os protestos evoluíram e um acampamento foi montado por manifestantes na capital para pressionar todo o governo a renunciar. Rajapksa lutou para convencer o irmão mais velho, Mahinda Rajapksa, a deixar o cargo de primeiro-ministro, na tentativa de aplacar os manifestantes. Em maio, Mahinda anunciou a saída depois de um grande grupo de apoiadores seus atacar os acampamentos.

Isso desencadeou uma onda de violência e vandalismo em todo o país, levantando temores de que o Sri Lanka pudesse entrar em anarquia total. O então primeiro-ministro fugiu para uma base militar durante a madrugada e Ranil Wickremesinghe assumiu o cargo, enquanto o presidente Gotabaya se manteve firme na tentativa de resistir aos protestos e cumprir os dois anos restantes de mandato.

Os protestos ocorrem há meses no país, mas a manifestação deste sábado é uma das maiores até agora Foto: Chamila Karunarathne/EFE

Ao se tornar premiê, Ranil Wickremesinghe tentou obter ajuda financeira de países aliados e trabalhar com o Fundo Monetário Internacional para reestruturar a imensa dívida externa do país. Entretanto, os protestos continuaram em um sinal claro de que nenhum dos movimentos de Rajapaksa surtiu efeito.

A realidade diária da população ficou ainda mais dura nas últimas semanas, com escassez de combustível e de remédios essenciais. Cidadãos fizeram fila em postos de gasolina, muitas vezes em vão. A mídia local noticiou a morte de pelo menos 15 pessoas em filas de combustível, por insolação e outras causas, desde o início da crise. /NYT, AP

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