Em um referendo histórico com mobilização recorde do eleitorado, superior a 70%, o Reino Unido decidiu ontem deixar a União Europeia (UE). No início da madrugada, com a divulgação dos resultados ainda parciais, bolsas de valores da Ásia desabaram e a libra esterlina caía ao menor valor frente ao dólar desde 1985 como reação à vitória do “Brexit” – a saída britânica.
Apurados os resultados de 331 dos 382 distritos eleitorais, os números parciais indicavam 52% de votos pela saída contra 48% pela permanência. No início da madrugada (horário de Brasília), a emissora britânica BBC confirmou que o resultado era irreversível.
A exemplo da eleição geral britânica de 2015, as urnas contradisseram a maioria das pesquisas de intenção de voto. Levantamentos apontavam para a vitória do “permanecer” e dois importantes políticos que fizeram campanha contra a UE chegaram a dizer que já imaginavam a derrota pouco após fechamento das urnas.
Nigel Farage, líder do Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip) e uma importante voz em favor da saída, disse à Sky News após o encerramento da votação que o comparecimento foi extremamente alto e parecia que o "Remain" (permanência) venceria. A ministra Theresa Villiers, que fez campanha pela saída, disse à TV que o “instinto” lhe dizia que o "Leave" (saída) perderia.
Os comentários de Farage e as pesquisas de opinião levaram a libra esterlina a seu nível mais alto em seis meses – US$1,50. A moeda despencou em 10%, no entanto, depois que a apuração na cidade de Sunderland, no noroeste, mostrou um grande apoio à saída.
Após a confirmação da saída, a queda se acentuou e chegou a 12,64%. “Que o dia 23 de junho seja o nosso dia da independência”, declarou Farage quando a apuração mostrou a vitória do “Leave”.
Ao longo do dia de votação, a expectativa de vitória do campo pró-Europa também gerou otimismo no mercado financeiro. As principais bolsas europeias fecharam em alta: Londres com 1,23%, Frankfurt com 1,85% e Paris com 1,96%. Mas durante a madrugada a tendência se inverteu e a abertura dos mercados financeiros asiáticos passou a refletir o pessimismo com o avanço da apuração e, posteriormente, a confirmação da decisão pelo “sair”.
Derrota política. Após ser derrotado no plebiscito, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, anunciou que irá deixar o cargo. Cameron afirmou que poderá permanecer no posto pelos próximos três meses e deixar, deixando a cadeira em outubro, quando acontece a conferência anual de seu partido.
"Eu irei fazer tudo que puder como primeiro-ministro para firmar o navio durante as próximas semanas e meses, mas eu não acho que seria certo para mim tentar ser o capitão que orienta nosso país para seu próximo destino", disse em pronunciamento, acrescentando que irá participar da cúpula da União Europeia na próxima semana para explicar sua decisão.
Pouco após o fechamento das urnas, em post no Twitter, Cameron, que era o líder da campanha pró-UE agradeceu o apoio da opinião pública. “Obrigado a todos que votaram para manter o Reino Unido mais forte, mais seguro e melhor na Europa”, disse o premiê.
A realização do referendo foi uma das principais bandeiras de Cameron para pacificar grupos de seu partido insatisfeitos com a UE. O premiê esperava obter uma vitória tranquila pela permanência, mas acabou colhendo um resultado que pode custar sua carreira política.
Analistas afirmaram que o sentimento anti-UE foi inesperadamente forte nas cidades inglesas do norte, duramente afetadas pelo declínio das indústrias e perda de empregos.
Bloco. A votação no referendo provocou um dia de tensão máxima nas principais capitais do continente. Ao longo da jornada, líderes como o presidente da França, François Hollande, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afastaram qualquer possibilidade de que pudesse haver outra opção em caso de vitória do Brexit a não ser a saída “irreversível” do Reino Unido do bloco. “Quando é não, é não. Não há estatuto intermediário”, afirmou Hollande. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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