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Principal desafio de Bukele em El Salvador após reeleição será a economia, dizem analistas

Presidente, que se declarou reeleito na votação de domingo, terá de lidar com o lento crescimento econômico que já se reflete em reclamação nas ruas

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Por Redação
Atualização:

SAN SALVADOR - Perto de ser confirmado oficialmente como presidente reeleito de El Salvador, Nayib Bukele, tem 83% dos votos, com 70% das urnas apuradas. A reeleição, contestada pela oposição, que diz que o presidente violou a Constituição ao candidatar-se novamente, terá no campo da economia seu principal desafio.

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“Seu segundo governo será problemático porque não foram atendidas as expectativas das pessoas nem no econômico nem no social. As tendências econômicas não são boas para ele”, disse à AFP o economista independente salvadorenho César Villalona.

Bukele é, segundo as pesquisas, o presidente mais popular da América Latina, graças à sua política de segurança de repressão às gangues, muito criticada por grupos de direitos humanos. Bukele apoiou todo o seu primeiro mandado em uma política tolerância zero contra o crime e promoveu megaencarceramentos que encontram respaldo popular.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, acompanhado de sua esposa, Gabriela Rodriguez, acena para apoiadores após se declarar reeleito Foto: Moises Castillo/AP

Mas pode ser que isso não seja suficiente para que os salvadorenhos mantenham a carta branca a Bukele em matéria de economia. “A situação da segurança está melhor, mas a economia segue ruim”, disse o analista Michael Shifter, presidente do think tank Inter-American Dialogue, em Washington.

O Supremo Tribunal Eleitoral do país informou no final do domingo que, com as cédulas de 31% dos locais de votação apuradas, Bukele teve 83% dos votos, muito à frente dos 7% de seu concorrente mais próximo, a Frente de Libertação Nacional Farabundo Martí, de esquerda. O site eleitoral que atualiza a contagem caiu pouco antes da meia-noite. O presidente proclamou vitória em sua conta no X, o antigo Twitter.

Reclamações nas ruas

Ainda no domingo, Bukele prometeu um período de prosperidade à frente, porque, segundo ele, “já não há freios para abrir uma empresa, estudar, trabalhar, desenvolver o turismo”.

Mas há reclamações nas ruas. “Quanto à saúde, educação, há muito o que mudar”, disse Blanca Noemí, vendedora ambulante de 52 anos, em San Salvador.

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Fogos de artifício iluminando o céu enquanto apoiadores do presidente salvadorenho Nayib Bukele comemoram após eleições Foto: Presidência de El Savador via AFP

“Tudo está mais caro. O preço dos produtos básicos subiu”, disse o taxista Miguel Juárez, de 37 anos.

Já Elizet García, dona de casa, de 35 anos, pede “mais oportunidades de empregos para os jovens”.

Segundo Villalona, o lento crescimento econômico e a queda da produção agrícola e industrial não são bons prognósticos. O custo de uma cesta básica - com pão, feijão, carne, ovos e frutas - aumentou cerca de 30% nos últimos três anos, enquanto o salário mínimo subiu 20%.

Quase 30% dos salvadorenhos vivem na pobreza, e quase um em cada dez, na pobreza extrema, segundo dados de 2022 da Comissão Econômica para América Latina (Cepal). Um relatório do Departamento de Estado de 2023 afirmava que cerca de 70% dos trabalhadores estavam na informalidade e sem acesso a benefícios sociais.

“Os problemas do país são muito mais amplos do que a questão da segurança”, disse a diretora regional do Washington Office on Latin America (WOLA), Ana María Méndez-Dardón.

Homem lê um jornal em cuja manchete se lê "Reeleito" em San Salvador nesta segunda, 5 Foto: MARVIN RECINOS/AFP

O desafio do crescimento

A saúde fiscal é outra grande preocupação, já que a dívida pública beira 80% do Produto Interno Bruto (PIB), e o país não consegue vender títulos no exterior para arrecadar fundos, ou atrair grandes investimentos, disse César Villalona.

O governo teve de pedir empréstimos a organizações internacionais, ao próprio Banco Central e ao fundo nacional de pensões, o que aumentou ainda mais o déficit. Com menos dinheiro em circulação, “a capacidade de consumo cai. E não parece ter solução a curto prazo”, acrescentou o economista.

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O país negocia com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo de 1,3 bilhão de dólares (R$6,43 bilhões na cotação atual). Para Villalona, Bukele tenta se esquivar de condições como cortar gastos públicos e subsídios e aumentar os impostos ao consumo, porque têm um custo político.

O Departamento de Estado americano afirma que o regime de exceção vigente de março de 2022 “contribuiu para melhorar a confiança dos consumidores e o otimismo econômico”. Porém, não se traduziu em um investimento estrangeiro direto significativo, em parte porque não há muita confiança no governo, e a corrupção continua sendo um desafio.

O PIB no terceiro trimestre de 2023 foi de 2,8%, e o FMI prevê 1,9% para 2024.

“O desafio é crescer com taxas mais altas” alcançando ao menos a média centro-americana de entre 2,6% e 3,5%, disse o ex-presidente do Banco Central Carlos Acevedo.

Para revitalizar a economia dolarizada e dependente de remessas, Bukele transformou o bitcoin em moeda de circulação legal em 2021. Pesquisas indicam, contudo, uma baixa adesão dos salvadorenhos, e o FMI pede que a medida seja desfeita.

Segundo Acevedo, apenas um crescimento econômico sustentado pode atacar efetivamente a pobreza. Sem investimento social, advertiu, “o tema das gangues, ou um (fenômeno) equivalente, ressurgirá a médio prazo”, advertiu./AFP

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