Autoridades sauditas prenderam no sábado o bilionário Alwaleed bin Talal, sobrinho do rei saudita e acionista de gigantes como Twitter e Citigroup. Além dele, outros 10 príncipes, 4 ministros e 30 ex-ministros foram presos, acusados de corrupção. A ação foi ordem direta do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (ou MBS, como ele gosta de ser chamado). MBS preside uma comissão anticorrupção instaurada há cinco dias no país.
Alwaleed bin Talal, de 62 anos, é o maior bilionário da Arábia Saudita e a 45.ª pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 17 bilhões, segundo o ranking de bilionários da Forbes de 2017. Ele já havia criticado MBS por sua intenção de abrir o capital da Aramco, a gigante estatal do petróleo saudita.
A ação contra a elite política e empresarial também atingiu o chefe da poderosa Guarda Nacional, o príncipe Miteb bin Abdullah, que foi preso e substituído pelo príncipe Khaled bin Ayyaf. A Guarda Nacional é um dos três braços das Forças Armadas sauditas. Ao contrário dos outros ramos, ela deve lealdade apenas à Casa de Saud, a família real saudita, e serve para proteger os governantes de levantes e golpes de estado. Também foram presos o ministro da Economia e planejamento, Adel Fakeih, e o Almirante Abdullah bin Sultan, Comandante das Forças Navais sauditas. Agora, Salman controla os três ramos das Forças Armadas.
Com ação, MBS consolidou seu poder ao praticamente tirar seus adversários do caminho. Todos os presos que fazem parte da família real saudita ocupavam cargos relevantes na estrutura de poder do reino. Os novos ocupantes são todos próximos ao príncipe. MBS saiu do anonimato em junho de 2015, e se consolidou como favorito para a sucessão do trono saudita. O rei Salman, com 81 anos, já dá sinais de cansaço, e decidiu deixar claro quem seria seu sucessor, dando poder e apoio à bin Salman. Com apenas 32 anos, Salman consolidou seu poder e está tentando colocar em prática uma agenda ambiciosa. Em setembro, a polícia prendeu dezenas de críticos, de clérigos muçulmanos a ativistas dos direitos humanos. Influenciado por MBS, o rei decretou meses atrás que as mulheres sauditas poderiam voltar a dirigir, pondo fim em uma proibição de décadas.
Poucas semanas depois, MBS acenou para investidores estrangeiros em uma conferência em Riad, onde anunciou planos para uma zona econômica de US$ 500 bilhões, que não teria as proibições rigorosas da lei islâmica em vigor do país. MBS tem uma longa lista de reformas econômicas e culturais, desde a abertura dos cinemas até a abertura da venda de ações na Bolsa da Aramco, a gigante estatal do petróleo, em um IPO.
No mês passado, em uma rara entrevista, MBS afirmou ao jornal britânico The Guardian que está tentando “fazer a Arábia Saudita voltar a ser o que era, com um islã moderado, aberto para o mundo e para todas as religiões”. As declarações causaram reação negativa entre clérigos ultraconservadores e membros da família real.
No começo de novembro, o rei Salman criou um comitê anticorrupção, presidido por Salman. O novo órgão recebeu amplos poderes para investigar casos, emitir mandados de prisão, restringir viagens e congelar ativos. “A pátria não existirá a menos que a corrupção seja desarraigada e os corruptos responsabilizados”, diz o decreto real. Horas depois, o comitê decretou a prisão dos príncipes. “Trocar a chefia da Guarda Nacional não tem o mesmo peso de trocar o Ministro do Petróleo”, afirmou à Bloomberg Kamran Bokhari, analista do think tank Geopolitical Futures. “Esse foi um movimento ousado de Salman, e eu não ficaria surpreso se isso levasse a cisões dentro da família real saudita”. / AFP e REUTERS
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