CARACAS - O Ministério Público venezuelano, chefiado pela chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, ampliou nesta segunda-feira seu ataque ao governo de Nicolás Maduro ao pedir ao governo americano uma carta rogatória sobre o caso de Efraín Flores e Francisco Flores, sobrinhos da primeira-dama, Cilia Flores, condenados por narcotráfico nos EUA. O pedido indica que o MP deve abrir uma investigação também na Venezuela.
O caso, conhecido como “escândalo dos narcossobrinhos”, ocorreu em novembro de 2015. Efraín e Francisco foram presos no Haiti com 800 quilos de cocaína e imediatamente levados para uma prisão em Nova York. No ano passado, em novembro, eles foram condenados – a sentença deve ser divulgada em setembro.
O Cessna no qual Efraín e Francisco transportavam a droga pertencia ao empresário Khaled Khalil Majzoun, ligado ao deputado Diosdado Cabello, um dos homens mais fortes do chavismo. Em maio, um dos pilotos do avião se entregou à polícia americana e entrou para o programa de proteção à testemunha – sua identidade não foi revelada.
À Justiça americana, Efraín e Francisco se declararam culpados e disseram que o objetivo era arrecadar US$ 20 milhões para a campanha da tia para um lugar na Assembleia Nacional. Cilia Flores acusou os EUA de terem “sequestrado” seus sobrinhos.
Maduro também atacou o governo americano. “Não é causalidade que o império tenha inventado um caso que tem como único objetivo atingir a primeira-dama”, disse.
Nesta segunda-feira, Ortega pediu o afastamento de parte dos magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que discute um processo em que a procuradora-geral é acusada de irregularidades e no qual foi solicitado que ela passasse por uma “avaliação psiquiátrica”. Ela será ouvida nesta terça-feira e há possibilidade de ser afastada da função.
Devassa. O controlador-geral da República, Manuel Galindo, abriu uma auditoria no Ministério Público por supostas irregularidades de Ortega, no cargo há nove anos. Em discurso à Assembleia Nacional, Ortega respondeu, acusando a controladoria de invadir sem mandado sedes do MP em várias cidades. “É preciso acabar com essa lógica de ocupação militar do governo”, disse. “Meu escritório está aberto, podem revisar todas minhas contas.”
A dissidente discursou nesta segunda-feira na Assembleia Nacional, controlada pela oposição, e pediu que o Parlamento lute pela democracia. A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) planeja realizar um referendo informal no dia 16 sobre a Constituinte convocada por Maduro.
A Constituinte será boicotada pela oposição. O sistema de eleição dos deputados, desenhado para favorecer o chavismo, foram qualificados como “golpe” pela MUD.
Em meio à crise, Maduro anunciou no domingo um aumento de 50% no salário mínimo, o terceiro somente este ano – cerca de US$ 37, no câmbio oficial, e US$ 12, segundo a cotação do mercado negro. / AFP e EFE
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