Governo Trump pede que denúncia contra prefeito de NY seja arquivada após rebelião de procuradores

Democrata Eric Adams, que agora promete coibir a imigração ilegal na cidade, nega acordo com Departamento de Justiça de Donald Trump

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Por Redação
Atualização:

NOVA YORK - Promotores federais pediram a retirada das acusações por corrupção contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, após dias de impasse. Agora, um juiz deve decidir o desfecho do caso que abriu uma crise no Departamento de Justiça.

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A ordem para arquivar o processo contra o democrata, que agora promete colaborar com as políticas de Donald Trump para imigração, provocou a renúncia de procuradores, que se recusaram a cumpri-la.

Em paralelo à rebelião no Departamento de Justiça, Eric Adams é pressionado a entregar o cargo, acusado de negociar a retirada das acusações em troca da ajuda para reprimir a imigração ilegal. Ele nega as alegações.

Prefeito de Nova York, Eric Adams, é pressionado a renunciar, acusado de fazer acordo com Departamento de Justiça de Donald Trump pelo encerramento de processo por corrupção. Foto: Ed Reed/Associated Press

Na moção para arquivar o caso, os promotores disseram que as acusações “interfeririam na capacidade do réu de governar na cidade de Nova York”.

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Na ordem emitida segunda-feira, o número dois do Departamento de Justiça, Emil Bove, indicado por Donald Trump, argumentava que as acusações contra Adams “restringiram indevidamente sua capacidade de dedicar toda a atenção e recursos ao combate à imigração ilegal e ao crime”.

Até a noite desta sexta-feira, contudo, nenhum promotor federal havia cumprido a determinação, como reflexo da agitação no Departamento de Justiça.

Ontem, a procuradora em Nova York Danielle Sassoon, uma republicana, entregou o cargo, recusando-se a arquivar o processo “por razões que não têm nada a ver com sua solidez”. Ela denunciou que a defesa de Eric Adams teria feito um acordo para retirar as acusações.

O principal promotor da investigação, Hagan Scotten, disse que estava totalmente de acordo com a decisão de Danielle Sassoon. Em dura carta de demissão destinada a Emil Bove, ele declarou que seria preciso um “tolo” ou “covarde” para atender a exigência de arquivar o caso.

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“Em nenhum regime livre pode-se permitir que o governo utilize a retirada de acusações como prêmio, ou a ameaça de reapresentá-las, para induzir um funcionário eleito a apoiar seus objetivos políticos”, acrescentou.

Além de Danielle Sassoon e Hagan Scotten, mais cinco funcionários do Departamento de Estado renunciaram.

Eric Adams, por sua vez, rechaçou a acusação. “Quero ser muito claro com os nova-iorquinos: Eu nunca ofereci, nem ninguém ofereceu em meu nome, qualquer troca da minha autoridade como prefeito pelo encerramento do caso”, disse ele. “Nunca.”

Antes disso, o seu advogado Alex Spiro havia classificado a acusação como “mentira total”. Mas disse: “Nos perguntaram se o caso tinha alguma relação com a segurança nacional e a aplicação das leis de imigração, e respondemos com sinceridade que sim.”

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Prefeito Eric Adams é alvo de protesto em Manhattan. Foto: Dave Sanders/The New York Times

Pressão pela renúncia de Eric Adams

O prefeito de Nova York foi indiciado em setembro, alvo de cinco acusações, incluindo suborno e fraude. Segundo a denúncia, ele teria recebido doações ilegais para a campanha e aceitado luxuosos presentes em troca de favores de empresários e funcionários turcos.

Eric Adams se declara inocente. “Nunca infringi a lei”, disse no começo da semana, quando agradeceu ao Departamento de Justiça de Donald Trump pela ordem de retirar a acusação.

Ainda que escape do processo por corrupção, contudo, o prefeito de Nova York tem o futuro político incerto. Eric Adams se prepara para disputar as primárias do Partido Democrata e buscar a reeleição, mas cresce a pressão para que ele renuncie ou a governadora Kathy Hochul use seu poder para removê-lo do cargo.

A deputada por Nova York Alexandria Ocasio-Cortez, da ala mais progressista do Partido Democrata, disse em uma publicação nas redes sociais que Adams estava “colocando a cidade de Nova York e seu povo em risco”. Se ele não renunciar, acrescentou, “deve ser removido”.

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A renúncia também foi defendida pelo vice-governador do Estado de NY, o democrata Antonio Delgado. “Está claro que ele está comprometido e não é mais capaz de tomar decisões no melhor interesse da cidade de Nova York”, disse.

A governadora Kathy Hochul, por sua vez, foi mais cautelosa, embora não tenha descartado destituir Eric Adams. “As acusações são extremamente preocupantes e sérias”, disse em uma entrevista à MSNBC. “Mas eu não posso, como governadora deste estado, ter uma reação precipitada e politicamente motivada.”

Eric Adams promete colaborar contra imigração

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Adams apareceu no programa Fox and Friends ao lado Thomas Homan, o “czar da fronteira” de Donald Trump, e disse que não estava “atrapalhando” os esforços de deportação, ao contrário de muitos de seus colegas democratas. “Estou colaborando”.

O prefeito de Nova York anunciou ainda que vai permitir a atuação das autoridades federais para imigração na prisão de Rikers Island, uma das maiores do país. A maioria das pessoas detidas lá ainda não foi condenada.

“Como sempre disse, os imigrantes foram cruciais na construção da nossa cidade e continuarão a ser a chave para o nosso sucesso futuro, mas precisamos consertar nosso sistema de imigração há muito falido”, disse em comunicado emitido após uma reunião com Thomas Homan.

Responsável pela deportação em massa prometida por Trump, o “czar da fronteira” argumentou que a presença dos agentes federais no presídio é necessária para remover criminosos violentos que entraram no país ilegalmente.

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Para os críticos, a medida é legalmente duvidosa. “Não serve a nenhum propósito legítimo e abre a porta para conluio ilegal entre as autoridades policiais locais e autoridades federais de imigração, violando as proteções de santuário bem estabelecidas da nossa cidade”, disse Zach Ahmad, consultor da União pelas Liberdades Civis de Nova York.

Nova York, um bastião democrata e progressista, tem status de “cidade santuário”, o que prevê uma cooperação limitada com os agentes federais encarregados de combater a imigração ilegal. Eric Adams, contudo, prometeu trabalhar mais de perto com Donald Trump.

Para a vereadora Tiffany Cabán, que representa Rikers Island, a ideia de permitir que disse que os agentes da imigração operem no presídio está alinhada com o alarmismo do governo republicano sobre imigrantes “perigosos, violentos e criminosos”.

“O que veremos é que as pessoas mais vulneráveis, que foram acusadas de crimes decorrentes da pobreza, serão enviadas de volta aos lugares onde estão mais em perigo”, disse ela./Com NY Times, AP e AFP

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