A Procuradoria-Geral do Peru iniciou mais uma investigação contra o presidente Pedro Castillo, a quinta em quase um ano de mandato. O inquérito estava arquivado, mas foi reaberto pela nova procuradora-geral do país, Patricia Benavides, nesta sexta-feira, 22. Nele, Castillo é investigado por suposto tráfico de influência na compra de combustível pela estatal Petroperú em 2021.
Benavides decidiu anular a decisão de janeiro de sua antecessora, Zoraida Ávalos, que suspendeu as investigações relacionadas a esse caso até que Castillo conclua o mandato, em julho de 2026, por ele ter imunidade presidencial.
Segundo a denúncia, o presidente teria interferido em um processo para a compra de biodiesel no mercado local para o período de janeiro a abril deste ano. O objetivo dele seria favorecer a empresa Heaven Petroleum Operator, dirigida pelo empresário Samir Abudayeh, na licitação, que renderia um contrato de US$ 74 milhões. Castillo negou envolvimento no caso e o contrato foi anulado depois que as irregularidades foram noticiadas.
O presidente enfrenta outras quatro investigações do Ministério Público. Uma delas foi iniciada nesta quinta-feira, 21, um dia antes deste novo inquérito, para apurar as denúncias de obstrução da Justiça feitas pelo ex-ministro do Interior, Mariano González. Segundo González, Castillo teria o demitido “de surpresa” para encobrir casos de corrupção.
Na quarta-feira, González foi a uma rádio peruana e pediu ao Congresso a destituição do presidente. “Acredito que a sucessão constitucional deve ocorrer. Sem dúvida, o questionamento sobre outras pessoas, incluindo a vice-presidente, deve ocorrer imediatamente, o Congresso deve agir agora”, declarou González à rádio peruana RPP.
Ao todo, Castillo é investigado por obstrução da Justiça; tráfico de influência em promoções de militares; corrupção e conluio agravado em um projeto de obra pública; e plágio em sua tese universitária. O presidente e o seu advogado reiteraram que não há prova de nenhum dos crimes.
Em apenas 12 meses no cargo, o peruano enfrentou duas votações de impeachment por suposta incapacidade moral para seguir no cargo. Agora, os parlamentares querem uma sessão extraordinária para tentar destituir o presidente eleito mais uma vez, em meio às acusações de corrupção.
Castillo alegou que o governo está empenhado na luta contra a corrupção, defendendo-se das acusações. “Não temos tempo para nos distrairmos com outras coisas. Não estamos aqui para fazer circo, o país nos colocou aqui para trabalhar por saúde, desenvolvimento e para uma luta frontal contra a corrupção e as grandes brechas deixadas por governos anteriores”, declarou durante uma entrega de ambulâncias esta semana.
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Vice-presidente diz estar disposta para assumir comando do país
Enquanto as investigações contra o presidente se sucedem, a vice-presidente Dina Boluarte disse estar disposta a assumir a presidência do Peru caso haja o impeachment de Pedro Castillo. “Há um mandato que o povo nos concedeu, que é governar por cinco anos. Essa é a única agenda que temos”, declarou Boluarte ao ser questionada sobre a possibilidade de assumir o cargo.
“Trabalhar nesses quatro anos que restam (do período constitucional) pelos mais vulneráveis, os mais necessitados”, acrescentou.
A vice-presidente ainda afirmou que Castillo em diversas ocasiões negou pessoalmente ter cometido qualquer ato de corrupção.
Sobre a atuação do Ministério Público, Boluarte disse que “as investigações que estão ali, que ocorrem dentro do quadro legal, dentro das competências autônomas que as instituições têm, serão respeitadas por nós”.
Em dezembro de 2021, Boluarte havia declarado que renunciaria o cargo, enquanto Castillo enfrentava uma segunda tentativa de impeachment no Parlamento. Tratava-se de uma rejeição da sucessão.
A própria Boluarte, que atua também como ministra de Desenvolvimento e Inclusão Social, enfrenta possível destituição do cargo após a publicação de um relatório parlamentar acusando-a de supostas irregularidades administrativas. O documento recomenda que ela fique impossibilitada de exercer cargos públicos por anos.
No caso da eventual sanção e remoção, o líder do Congresso é o próximo na linha de sucessão de Castillo. Em relação a isso, Boluarte afirmou que existe uma corrente “de uma minoria no Congresso bastante rápida em querer me desabilitar de maneira expressa (...) É muito fácil deduzir que a intenção não é fazer justiça, mas sim política”.
A vice-presidente acrescentou que “não nos aceitam, não nos aceitaram, não nos querem e farão todo o possível para derrubar este governo do presidente Pedro Castillo”. /AFP
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