BERLIM - Vitoriosa nas urnas, mas sem maioria absoluta, a chanceler da Alemanha tratou neste domingo, 24, de iniciar as discussões por uma nova coalizão governamental para seu quarto mandato. E, para tanto, não poderá contar com o Partido Social-Democrata (SPD), cujo líder, Martin Schulz, anunciou a decisão de levar sua bancada no Parlamento para a oposição. O anúncio deixou a chefe de governo com uma única opção de aliança, a coalizão heterogênea entre a União Democrata-Cristã (CDU), o Partido Verde (centro-esquerda), e o Partido Liberal-Democrático (FPD), que têm divergências históricas profundas.
Em seu discurso de vitória, a atual premiê reconheceu que seu partido obteve um resultado inferior ao esperado, mas o atribuiu ao desgaste provocado pelos 12 anos de exercício do poder. "O CDU esperava resultados melhores, mas não vamos esquecer, diante do desafio extraordinário, que nós atingimos nossos objetivos estratégicos: nós somos o partido mais forte", argumentou, prometendo: "Nós temos o mandato para formar o novo governo e nós vamos formar o novo governo".
Além da dificuldade de formar uma coalizão, a vitória de Merkel foi ofuscada pelo crescimento da ultradireita. O partido nacionalista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD, em alemão) obteve 13,5% dos votos, segundo as primeiras projeções. A cifra supera as expectativas, e significa que a AfD será a primeira sigla radical de direita no Parlamento alemão desde o fim da 2ª Guerra (1939-1945).
Centenas de pessoas protestam contra a ascensão da AfD na Alexanderplatz com cartazes e palavras de ordem contra o partido, que comemorava o resultado no local em meio a um forte esquema de segurança. O número de manifestantes está aumentando, assim como o aparato policial que tenta manter a ordem entre os dois grupos.
Mais cedo, o candidato da AfD, Alexander Gauland, afirmou que devolverá o país aos alemães. "Esse governo que se proteja, porque iremos atrás dele. Recuperaremos o nosso país e o nosso povo. Mudaremos esse país", alertou Gauland em seu primeiro pronunciamento depois do fechamento das urnas na Alemanha.
O líder da extrema direita afirmou que o partido obteve esses resultados graças ao seu idealismo e pensa que as pessoas enfim terão de volta um lugar no Parlamento. "Somos claramente a terceira força política no Bundestag", afirmou, por sua vez, o copresidente da AfD, Jörg Meuthen.
O AfD, que nasceu em 2013 como um partido contrário à União Europeia, ficou fora do parlamento nas eleições do mesmo ano. Com a crise migratória e a grande chegada de refugiados na Alemanha, a legenda transformou o discurso antieuropeu em xenofobia.
Segundo as projeções, a União Democrata-Cristã (CDU), partido da atual chanceler, Angela Merkel, ficou com 32,9% dos votos, mais de 12 pontos percentuais à frente do líder do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz. Tanto Merkel como Schulz, aliados no último governo, lamentaram em seus primeiros discursos a chegada da AfD ao parlamento.
A chanceler se comprometeu a reconquistar os eleitores que hoje optaram pela AfD, enquanto Schulz fez alertas sobre a "fratura" gerada pela entrada dos ultradireitistas no parlamento.
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