Putin abriu caminho para a entrada da Ucrânia na Otan; leia artigo de Boris Johnson

Para ex-premiê britânico, apoio à adesão ucraniana tornou-se estratosférico após líder russo invadir o país

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Por Boris Johnson
Atualização:

Bem, tentamos a ambiguidade criativa e vemos agora onde isso nos levou. Durante décadas, usamos um duplo discurso diplomático sobre o assunto Ucrânia na Otan - e terminou em desastre total.

Passamos anos dizendo aos ucranianos que temos uma política de “portas abertas” na Otan e que eles têm o direito de “escolher seu próprio destino” e a Rússia não deveria poder vetar.

E todo esse tempo sinalizamos abertamente a Moscou que a Ucrânia nunca se juntaria à aliança - porque muitos membros da Otan simplesmente exercerão seu veto por conta própria.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg (E), conversa com o vice-chanceler russo, Alexander Grushko, antes da reunião do Conselho Otan-Rússia, em Bruxelas, em 12 de janeiro Foto: Olivier Hoslet/Pool via Reuters

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Em princípio, sim; na prática, não. Essa tem sido a mensagem. E qual é o resultado de toda esse morde e assopra simultâneo? O que conseguimos falando com os dois cantos da boca?

O resultado é a pior guerra na Europa em 80 anos. O presidente russo, Vladimir Putin, destruiu inúmeras vidas, lares, esperanças e sonhos. Ele também destruiu o menor motivo para simpatizar com ele ou agradá-lo em sua paranoia.

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Ao longo do caminho, ele vaporizou sua tese contra a adesão da Ucrânia à Otan. As pessoas costumavam dizer que a população ucraniana estava muito dividida sobre o assunto da adesão à Otan; e antes de 2014 você certamente poderia defender esse argumento. Veja os números agora. O apoio à adesão à Otan na Ucrânia é estratosférico - 83%, de acordo com uma pesquisa recente.

Equipes de emergência removem os escombros depois de um foguete russo atingir prédio residencial, no dia 14 deste mês Foto: Evgeniy Maloletka/AP

As pessoas costumavam alegar que a Ucrânia não era militarmente compatível com a Otan. Hoje, os ucranianos estão mobilizando uma variedade absurda de equipamentos dos países da Otan, com a maior habilidade e bravura.

Não há absolutamente nada que a Otan possa ensinar aos ucranianos sobre como travar uma guerra - na verdade, há muito que eles poderiam nos ensinar. Acima de tudo, as pessoas costumavam argumentar que a perspectiva de adesão da Ucrânia à Otan era “provocativa” para Putin e para a Rússia. Na verdade, nunca deveríamos ter aceitado esse argumento.

Deveríamos ter insistido na realidade - que o Kremlin não tinha nada a temer da Otan porque ela se trata de uma aliança defensiva. Mas os países membros aceitaram esse ponto falso. Confesso que por um tempo aceitei.

Então veja o que aconteceu quando nos esforçamos para não provocar Putin. Nós o acalmamos na cúpula da Otan em Bucareste em 2008. Os ucranianos queriam um Plano de Ação para Adesão à Otan (MAP). Eles receberam algumas palavras calorosas sobre a eventual adesão, mas nenhum MAP. Putin participou dessa cúpula e se declarou satisfeito com o resultado.

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O que ele fez a seguir? Em 2014, invadiu o Donbas e tomou a Crimeia, com sua combinação de mentiras descaradas e brutalidade. Em vez de puni-lo adequadamente, respondemos com uma política de apaziguamento covarde.

Longe de ajudar os ucranianos a expulsá-lo de seu país, montamos o tragicômico “Formato da Normandia”, sob o qual a Rússia e a Ucrânia foram tratadas como se fossem igualmente culpadas, quando a Rússia era claramente o agressor e a Ucrânia, a vítima. Desde então, a adesão à Otan tem estado teoricamente na agenda, mas todos sabem que isso simplesmente não iria acontecer, ou pelo menos não durante a vida política de ninguém ao redor da mesa.

Se você tivesse me perguntado antes da invasão de Putin quando a Ucrânia se juntaria à Otan, eu teria dito: ‘Aproximadamente quando o inferno congelar, ou não por pelo menos 10 anos’

Assim, os ucranianos tinham o pior dos dois mundos. A Otan havia jorrado frases bonitas o suficiente sobre a filiação ucraniana para Putin usar em sua propaganda e alegar que a Rússia estava sendo ameaçada de cerco. Ao mesmo tempo, a realidade era que a Otan não havia feito nada para proteger a Ucrânia e nada para promover a causa da adesão ucraniana.

A verdade: se você tivesse me perguntado antes da invasão de Putin quando a Ucrânia se juntaria à Otan, eu teria dito: “Aproximadamente quando o inferno congelar, ou não por pelo menos 10 anos”.

Se você me perguntasse então se enviaríamos tanques Challenger para a Ucrânia, ou tanques Abrams, ou se os alemães enviariam tanques Leopard - eu teria pensado que você estava louco. Assim como eu teria pensado que você estava louco se tivesse me dito que Putin iria invadir a Ucrânia.

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Soldado passa por tanques M1 Abrams, pertencentes aos Estados Unidos, em imagem de 29 de novembro de 2016. Blindados serão enviados à Ucrânia para reforçar poder ofensivo contra a Rússia Foto: Christian Murdock/The Gazette via AP - 29/11/2016

Putin não invadiu porque pensou que a Ucrânia iria se juntar à Otan. Ele sempre soube que isso era extremamente improvável. Ele atacou a Ucrânia porque acreditava – com evidências abundantes – que não levávamos a sério a proteção da Ucrânia. Ele atacou porque queria reconstruir o antigo império soviético e porque acreditava - tolamente - que iria vencer.

Se tivéssemos sido corajosos e consistentes o suficiente para trazer a Ucrânia para a Otan - se realmente quiséssemos o que dissemos - então esta catástrofe total teria sido evitada.

Sei que, em algumas capitais europeias, este resultado parecerá difícil de digerir. Mas a lógica é inevitável.

Em prol da estabilidade e da paz, a Ucrânia agora precisa de clareza sobre sua posição na arquitetura de segurança euro-atlântica. Todas as nossas esquivas e ziguezagues terminaram em matança.

Os ucranianos devem receber tudo o que precisam para terminar esta guerra, o mais rápido possível, e devemos começar o processo de admissão da Ucrânia na Otan - e começar agora.

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Não adianta Moscou reclamar. Eles tinham uma tese defensável antes e foram ouvidos com respeito. Essa tese foi pulverizada pelas bombas e mísseis de Putin.

*Boris Johnson é ex-primeiro-ministro do Reino Unido

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