Putin faz maior ameaça nuclear desde começo da guerra e rompe acordo atômico com EUA

Em discurso esperado há tempos, presidente russo afirmou que Ocidente é responsável pelo conflito na Ucrânia; em resposta, Biden reafirma compromisso com Kiev e Otan

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Por Redação

A três dias de a invasão russa na Ucrânia completar um ano, o presidente Vladimir Putin anunciou, nesta terça-feira, 21, que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado de desarmamento nuclear New Start e ameaçou realizar novos testes nucleares se os Estados Unidos os fizessem primeiro. Seu discurso prova ser a ruptura mais acentuada com o Ocidente desde o início da guerra.

O discurso, muito aguardado por todo o mundo, mostrou como o Kremlin vê a guerra e deu o tom do conflito no futuro. “A responsabilidade por alimentar o conflito ucraniano, por sua escalada, pelo número de vítimas (...) recai inteiramente sobre as elites ocidentais”, disse Putin. “Eles não escondem seu objetivo: infligir uma derrota estratégica à Rússia, ou seja, acabar conosco de uma vez por todas.”

Presidente Russo Vladimir Putin faz discurso para a nação e promete continuar com a guerra na Ucrânia Foto: Dmitry Astakhov/Sputnik / AFP

Putin ainda prometeu continuar a ofensiva na Ucrânia e afirmou que Moscou foi “forçada” a suspender o tratado de desarmamento nuclear New Start. O tratado de 2010 é o último entre Washington e Moscou para evitar uma escalada nuclear, mas foi enfraquecido nos últimos anos, com acusações dos EUA de que a Rússia não o estava cumprindo.

Além de anunciar a suspensão do tratado, Putin ameaçou realizar novos testes nucleares se Washington decidir realizá-los primeiro. Ele pediu que as autoridades russas fiquem “prontas para testes de armas nucleares”, se for necessário.

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Reações

O discurso de Putin ocorre um dia depois de o presidente Joe Biden ter feito uma visita surpresa a Kiev, prometendo novas armas e o apoio “inabalável” de Washington à Ucrânia. Nesta terça, Biden esteve na Polônia, falou em dias difíceis pela frente e prometeu que os EUA seriam firmes em seu apoio, descrevendo o compromisso americano com a Otan e a Ucrânia como uma batalha pela liberdade contra a autocracia.

Falando em Varsóvia, Biden respondeu Putin dizendo que o Ocidente não busca destruir a Rússia e elogiou a defesa ucraniana contra a invasão da Rússia no ano passado, que ele chamou de teste dos EUA, Europa e democracias em todos os lugares. “Putin se achava duro, mas topou com a vontade de ferro dos EUA”.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, lamentou a saída russa do tratado nuclear. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, descreveu ontem como “muito decepcionante e irresponsável” a decisão russa de suspender o tratado de desarmamento nuclear e insistiu que seu país continua “disposto” a falar sobre o assunto.

Guerra cultural

Putin afirmou, durante seu discurso, que o Ocidente está ciente de que “é impossível derrotar a Rússia no campo de batalha”, por isso lança “ataques de informação agressivos” ao “interpretar mal os fatos históricos”, atacando a cultura, a religião e os valores russos.

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Putin é conhecido por justificar a invasão de seu vizinho acusando os países ocidentais de ameaçarem a Rússia. “Foram eles que começaram a guerra. E estamos usando a força para acabar com isso”, afirmou.

Os países do Ocidente, por sua vez, dizem que as alegações estão longe da verdade e as forças de Moscou atacaram a Ucrânia sem motivação. “Ninguém está atacando a Rússia. É absurdo pensar que a Rússia está sob qualquer tipo de ameaça militar da Ucrânia ou de qualquer outro país”, disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

Putin discursou diante de uma audiência de legisladores, autoridades estatais e soldados que lutaram na Ucrânia. Embora a Constituição russa exija que o presidente entregue o discurso anualmente, ele não se pronunciou desta forma em 2022, quando suas tropas entraram na Ucrânia.

Referindo-se às sanções internacionais que afetam seu país, Putin avaliou que os ocidentais “não alcançaram nada e não alcançarão nada”, já que a economia russa resistiu melhor do que os especialistas previam. / AP, AFP e NYT

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