Putin acusa Ucrânia de crimes ‘neonazistas’ no Dia da Lembrança do Holocausto

Discurso falso é usado pelo Kremlin para justificar a invasão na Ucrânia nos últimos 11 meses

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Por Redação

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou nesta sexta-feira, 27, a Ucrânia de cometer crimes “neonazistas”, em uma retórica que utiliza com frequência para justificar sua ofensiva militar, desta vez no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.

“Esquecer as lições da história leva à repetição de tragédias terríveis. Isto é evidenciado pelos crimes contra civis, a limpeza étnica e as ações punitivas organizadas pelos neonazistas na Ucrânia”, afirmou Putin em um comunicado. “É contra este mal que nossos soldados lutam de maneira corajosa”, acrescentou.

Vladimir Putin conversa com rabinos da Federação Judaica russa no Kremlin na quinta, 26; na sexta, ele acusou a Ucrânia de neonazismo. Foto: Mikhail Metzel/ Sputnik/ Kremlin via AP

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Nos meses desde que Putin chamou a invasão da Ucrânia de missão de “desnazificação”, a mentira de que o governo e a cultura da Ucrânia estão cheios de perigosos “nazistas” tornou-se um tema central da propaganda do Kremlin sobre a guerra.

Um conjunto de dados de quase oito milhões de artigos sobre a Ucrânia, coletados em mais de 8 mil sites russos desde 2014, mostra que as referências ao nazismo permaneceram relativamente estáveis por oito anos e depois atingiram níveis sem precedentes em 24 de fevereiro, dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia. Eles permaneceram altos desde então, segundo uma extensa reportagem do The New York Times.

Os dados, fornecidos pela Semantic Visions, uma empresa de análise de defesa, incluem os principais meios de comunicação estatais russos, além de milhares de sites e blogs russos menores. Isso dá uma visão das tentativas da Rússia de justificar seu ataque à Ucrânia e manter o apoio interno à guerra em andamento, retratando falsamente a Ucrânia como sendo ocupada por militantes de extrema direita.

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As notícias alegaram falsamente que os “nazistas ucranianos” estão usando não-combatentes como escudos humanos, matando civis ucranianos e planejando um genocídio de russos.

A estratégia, provavelmente, pretendia justificar o que o Kremlin esperava que fosse uma rápida derrubada do governo ucraniano, disse Larissa Doroshenko, pesquisadora da Northeastern University que estuda desinformação. “Isso ajudaria a explicar por que eles estão estabelecendo este novo país em certo sentido”, disse Larissa. “Como o governo anterior era nazista, eles tiveram que ser substituídos.”

Mentiras russas

Vários especialistas na região disseram que a alegação de que a Ucrânia foi comprometida por nazistas é falsa. O presidente Volodmir Zelenski, que recebeu 73% dos votos quando foi eleito em 2019, é judeu, e todos os partidos de extrema direita combinados receberam apenas cerca de 2% dos votos na eleição parlamentar de 2019 - menos do que os 5% de votos necessários para representação.

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“Existe na maioria das democracias ocidentais taxas significativamente mais altas de ativismo de extrema direita”, disse Monika Richter, chefe de pesquisa e análise da Semantic Visions e membro do American Foreign Policy Council.

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A compreensão comum russa sobre o nazismo depende da noção da Alemanha nazista como a antítese da União Soviética, e não da perseguição aos judeus, disse especificamente Jeffrey Veidlinger, professor de história e estudos judaicos da Universidade de Michigan. “É por isso que eles podem chamar um Estado que tem um presidente judeu de Estado nazista e isso não parece tão discordante para eles”, disse ele.

Apesar da falta de evidências de que a Ucrânia é dominada por nazistas, a ideia pegou entre muitos russos.

Ataque russo

Um dia antes do discurso, a A Ucrânia afirmou que as forças russas lançaram dezenas de mísseis contra vários alvos no país e que seus sistemas de defesa aérea derrubaram 24 drones russos durante a noite.

“Onze pessoas ficaram feridas e, infelizmente, outras 11 morreram”, disse o porta-voz Oleksander Jorunejy à televisão ucraniana. Ele disse que os danos mais significativos ocorreram na região de Kiev.

A Rússia está tentando causar “um colapso sistêmico” na rede nacional, disse o ministro da Energia, German Galushchenko. “A situação ainda está sob controle”, disse o primeiro-ministro Denys Shmygal. / AFP, AP e NYT

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