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Putin chega à Coreia do Norte para encontro com Kim e fala que países ‘vencerão sanções juntos’

A guerra contra a Ucrânia aproximou Putin e Kim Jong-un, que ganhou novo status junto ao Kremlin ao abrir seus vastos depósitos de munições para Moscou

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Por Redação

PYONGYANG - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou nesta terça-feira, 18, à Coreia do Norte, de acordo com a mídia estatal russa, em sua primeira visita ao país em 24 anos. Antes de pousar, o russo agradeceu Pyongyang por apoiar suas ações na Ucrânia e disse que seus países cooperarão de perto para superar as sanções lideradas pelos Estados Unidos.

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O líder norte-coreano, Kim Jong-un, encontrou o presidente russo na pista do aeroporto na madrugada de quarta-feira (hora local, início da tarde de terça em Brasília) relataram agências de notícias estatais russas. A guerra contra a Ucrânia aproximou Putin e Kim, que ganhou novo status junto ao Kremlin ao abrir seus vastos depósitos de munições para Moscou.

Os comentários de Putin apareceram em um artigo de opinião na mídia estatal da Coreia do Norte horas antes de sua chegada esperada para uma visita de dois dias.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chega à Coreia do Norte e é recebido pelo líder Kim Jong-un Foto: Frame de vídeo tirado do Kremlin.ru/via Reuters

Na capital Pyongyang, as ruas foram decoradas com retratos de Putin e bandeiras russas. Uma faixa pendurada em um prédio dizia: “Recebemos calorosamente o Presidente da Federação Russa.”

Putin disse que aprecia muito o firme apoio do país à sua ação militar na Ucrânia. Acrescentou que os países continuarão a “opor-se resolutamente” ao que ele descreveu como ambições ocidentais “para impedir o estabelecimento de uma ordem mundial multipolar baseada na justiça, respeito mútuo pela soberania, considerando os interesses uns dos outros.”

Putin também disse que a Rússia e a Coreia do Norte desenvolverão sistemas de comércio e pagamento “que não são controlados pelo Ocidente” e se oporão conjuntamente às sanções contra os países, que ele descreveu como “restrições ilegais e unilaterais.”

A Coreia do Norte está sob pesadas sanções econômicas do Conselho de Segurança da ONU por causa de seus programas de armas nucleares e mísseis, enquanto a Rússia também lida com sanções dos Estados Unidos e seus parceiros ocidentais por sua agressão na Ucrânia.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é recebido pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, no aeroporto em Pyongyng Foto: Frame de vídeo de Kremlin.ru/via Reuters

Putin disse que os países também expandirão a cooperação em turismo, cultura e educação.

Antes de seguir para a Coreia do Norte, Putin viajou para Yakutsk, uma cidade no leste da Rússia, onde se encontrou com o governador regional Aisen Nikolayev, e recebeu informações sobre projetos relacionados à tecnologia e defesa. Ele também se encontrou com jovens profissionais trabalhando no Extremo Oriente da Rússia.

Putin está sendo acompanhado por vários funcionários de alto escalão, incluindo o vice-primeiro-ministro Denis Mantrurov, o ministro da Defesa Andrei Belousov e o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov, de acordo com seu conselheiro de política externa, Yuri Ushakov. Segundo ele, uma série de documentos será assinada durante a visita, possivelmente incluindo um acordo sobre uma parceria estratégica abrangente.

Preocupações

A visita de Putin ocorre em meio a crescentes preocupações sobre um acordo de armas no qual Pyongyang fornece a Moscou munições necessárias para alimentar a guerra da Rússia na Ucrânia em troca de assistência econômica e transferências de tecnologia que aumentariam a ameaça representada pelo programa nuclear e de mísseis de Kim.

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Oficiais dos EUA e da Coreia do Sul dizem que trocas militares, econômicas e outras entre a Coreia do Norte e a Rússia aumentaram acentuadamente desde que Kim se encontrou com Putin em setembro no Extremo Oriente da Rússia, o primeiro encontro entre eles desde 2019.

Oficiais dos EUA e da Coreia do Sul acusam o Norte de fornecer à Rússia artilharia, mísseis e outros equipamentos militares para uso na Ucrânia, possivelmente em troca de tecnologias militares chave e ajuda com seu programa nuclear e espacial.

Tanto Pyongyang quanto Moscou negam acusações sobre transferências de armas norte-coreanas, que violariam várias sanções do Conselho de Segurança da ONU anteriormente endossadas por Moscou.

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Junto com a China, a Rússia proporcionou cobertura política para os esforços contínuos de Kim para avançar seu arsenal nuclear, bloqueando repetidamente os esforços liderados pelos EUA para impor novas sanções da ONU ao Norte por seus testes de armas.

Em março, um veto da Rússia na ONU encerrou o monitoramento das sanções da organização contra a Coreia do Norte por seu programa nuclear, provocando acusações ocidentais de que Moscou está tentando evitar escrutínio enquanto compra armas de Pyongyang. Oficiais dos EUA e da Coreia do Sul disseram que estão discutindo opções para um novo mecanismo de monitoramento do país.

Putin chega ao aeroporto de Yakutsk, na Rússia, antes de partir para sua viagem à Coreia do Norte Foto: Sergei Karpukhin/Sputnik/Kremlin via AP

No início deste ano, Putin enviou a Kim uma limusine Aurus Senat de alto padrão, que ele havia mostrado ao líder norte-coreano quando se encontraram em setembro. Observadores disseram que o envio violou uma resolução da ONU que proíbe o fornecimento de itens de luxo à Coreia do Norte.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse que o aprofundamento da relação entre Moscou e Pyongyang é preocupante, “não apenas por causa dos impactos que isso terá no povo ucraniano, porque sabemos que mísseis balísticos norte-coreanos ainda estão sendo usados para atingir alvos na Ucrânia, mas porque pode haver alguma reciprocidade aqui que poderia afetar a segurança na Península Coreana.”

“Não vimos os parâmetros de tudo isso no momento, certamente não vimos isso se concretizar. Mas certamente vamos estar observando isso muito, muito de perto,” disse ele.

Lim Soosuk, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul, disse que Seul vem enfatizando a Moscou que qualquer cooperação entre Rússia e Coreia do Norte não deve “prosseguir em uma direção que viole as resoluções do Conselho de Segurança da ONU ou prejudique a paz e a estabilidade na região.”

As tensões na Península Coreana estão em seu ponto mais alto em anos, com o ritmo dos testes de armas de Kim e dos exercícios militares combinados envolvendo os Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão intensificando em um ciclo tit-for-tat. As Coreias também se envolveram em guerra psicológica ao estilo da Guerra Fria que culminou na Coreia do Norte jogando toneladas de lixo no Sul com balões, e o Sul transmitindo propaganda anti-norte-coreana com seus alto-falantes.

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Também nesta terça, o Exército da Coreia do Sul disse que soldados dispararam tiros de advertência para repelir soldados norte-coreanos que cruzaram temporariamente a fronteira terrestre pela segunda vez neste mês. O Exército do Sul disse que a Coreia do Norte tem aumentado a atividade de construção em áreas de fronteira na linha de frente, como a instalação de barreiras suspeitas anti-tanque, reforçando estradas e plantando minas terrestres.

Putin continuamente buscou reconstruir os laços com Pyongyang como parte dos esforços para restaurar o poderio de seu país e suas alianças da era soviética. Os laços de Moscou com a Coreia do Norte enfraqueceram após o colapso soviético de 1991.

Após a Coreia do Norte, o Kremlin disse que Putin também visitará o Vietnã na quarta e quinta-feira para conversas que devem se concentrar no comércio. Os Estados Unidos, que passaram anos fortalecendo laços e acelerando o comércio com o Vietnã, criticaram a visita planejada de Putin.

“À medida que a Rússia continua buscando apoio internacional para sustentar sua guerra ilegal e brutal contra a Ucrânia, reiteramos que nenhum país deve dar a Putin uma plataforma para promover sua guerra de agressão e de outra forma permitir que ele normalize suas atrocidades,” disse um porta-voz da Embaixada dos EUA no Vietnã em uma declaração./AP e NYT

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