O Ministério da Defesa da Rússia trocou neste sábado, 8, o comando de suas tropas na Ucrânia. O general Sergei Surovikin substituirá Alexander Dvornikov, que estava no cargo desde abril. Conhecido pela fama de impiedoso e pela brutalidade de suas operações militares, Surovikin é alvo de sanções ocidentais e de acusações de violações de direitos humanos. Ele é e veterano de operações militares na Chechênia e na Síria. Até então, ele era responsável pela campanha do Kremlin no sul da Ucrânia.
A troca ocorre em meio a sucessivas derrotas russas no sul e no leste da Ucrânia. Nas últimas semanas, uma contra-ofensiva ucraniana nas províncias de Kharkiv, Donetsk e Kherson obrigou os russos a bater em retirada e recuperou cidades estratégicas como Liman, no nordeste do país. Neste sábado, um ataque com um carro-bomba atribuído ao serviço secreto ucraniano destruiu uma ponte no Estreito de Kerch, entre a Rússia e a Península da Crimeia, usada pelas Forças Armadas russas para reabastecer as tropas em combate no sul da Ucrânia.
A indicação de Surovikin para comandar a “operação especial” na Ucrânia - como Moscou se refere à guerra - é a segunda troca no alto-comando russo em menos de um mês e a terceira desde o início do conflito. A primeira ocorreu em abril, quando os russo tiveram de recuar de Kiev após não conseguirem tomar a capital ucraniana. A segunda, no mês passado, foi motivada pelos avanços ucranianos em Kharkiv.
A dança das cadeiras ocorre também em meio à crescente pressão de aliados mais radicais de Putin para responder aos avanços ucranianos. Alguns deles, como o líder militar checheno Ramzan Kadirov, chegou a sugerir o uso de armas nucleares táticas contra os ucranianos.
Denúncias de abuso
Antes da Ucrânia, o general Surovikin havia servido em vários cargos. Ele esteve na Chechênia no início dos anos 2000 e liderou as forças russas na Síria, de acordo com sua biografia no site do Ministério da Defesa e na mídia estatal.
A Human Rights Watch disse em 2020 que ele estava entre os líderes militares que poderiam ter “responsabilidade de comando por violações” na Síria.
“Por mais de trinta anos, a carreira de Surovikin foi marcada por alegações de corrupção e brutalidade”, disse o Ministério da Defesa da Grã-Bretanha em junho.
O general Surovikin passou pelo menos seis meses na prisão depois que soldados sob seu comando mataram três manifestantes em Moscou em meio a um golpe fracassado de agosto de 1991, mas acabou sendo libertado sem julgamento.
Ele também recebeu em 1995 uma pena suspensa por comércio ilegal de armas, de acordo com um jornal da Fundação Jamestown, um think tank conservador em Washington, que acrescentou que a condenação foi posteriormente anulada.
“No Exército, Surovikin tem uma reputação de total crueldade”, acrescentou o jornal. Ele foi colocado em uma lista de sanções da União Européia em 23 de fevereiro - um dia antes da Rússia invadir a Ucrânia - e foi listado como comandante-chefe das Forças Aeroespaciais Russas.
“Como tal, ele é responsável pelas operações aéreas na ou para a Ucrânia”, dizia a designação das sanções. “Ele é, portanto, responsável por apoiar e implementar ativamente ações e políticas que minam e ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia, bem como a estabilidade ou segurança na Ucrânia.”
“Surovikin sabe como lutar com bombardeiros e mísseis – é isso que ele faz”, disse em junho o general Kyrylo O. Budanov, chefe do serviço de inteligência militar da Ucrânia./ NYT
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